domingo, 28 de março de 2010

Fronteiras: Lajeosa da Raia/Navasfrías

Um dos sucessos da política comunitária são os fundos INTERREG que têm servido para construir novas ligações transfronteiriças, se bem nem sempre o ritmo tem sido de um e do outro lado da fronteira. É o caso da fronteira entre Lajeosa da Raia, aldeia e freguesia do concelho do Sabugal, e Navasfrías, na comarca de El Rebollar, na província de Salamanca.

A localidade de Navasfrías passa a ter, em pouco tempo, três ligações fronteiriças das que já vimos duas: com Fóios, com Aldeia do Bispo e com Lajeosa da Raia. Enquanto na primeira não existe ainda uma estrada alcatroada da parte espanhola, nas duas restantes há duas estradas novinhas em folha bem construídas, mas que contrastam com a antiguidade das ligações portuguesas. O importante neste caso é a existência dessas ligações.

De resto, tais ligações não devem ser mais do que um pretexto para visitar a região, designadamente a capeia arraiana a celebrar na Lajeosa no mês de Agosto, costume exclusivo do Sabugal do qual já falamos. Resulta interessante ver também o contraste entre o Inverno e o Verão na vegetação que mistura uma floresta de transição, alguns lameiros e o mato, de urzes, giesta-das-vassouras, tojos, etc.

Com isto, completa-se o panorama das fronteiras do concelho do Sabugal com a vizinha província de Salamanca, nessa área de peneplanícies entre esta província e a Beira Interior e que resulta interessante do ponto de vista arqueológico, etnográfico e gastronómico.

Apesar de não estar bom depois de uma longa viagem de trabalho e uma constipação forte que apanhei, confio em poder conseguir mais materiais nestes feriados de Páscoa para deleite dos leitores deste blogue. Boas férias para quem vá e boa continuação para aqueles que, por circunstâncias várias, não possam tirar uns dias de descontracção. A saúde é o mais importante nesta vida e é o que mais desejo para todos os que me lêem.


Foto 1. Fronteira portuguesa vista do lado de Espanha.
Foto 2. Fronteira espanhola vista do lado de Portugal.
Foto 3. Marco fronteiriço e sinalética da fronteira.
Foto 4. Limite fronteiriço que vai pelas lajes e matos.
Foto 5. Marco fronteiriço Norte.
Foto 6. Vista geral de Navasfrías.
Foto 7. Caminho de Lajeosa da Raia (Note-se a diferença com o Inverno).


Ver Sem título num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

quinta-feira, 11 de março de 2010

De Leste para Norte: O ponto mais setentrional de Portugal

Estes dias tenho estado muito ocupado e não tenho dado toda a atenção ao blogue, se bem fazia a minha tradicional visita e fiquei feliz de ver que já ultrapassámos os 18 000 leitores. Parabéns! Foram vocês que conseguiram. É para mim empolgante saber que ainda existem pessoas interessadas pela cultura e não apenas por mexericos, politiquices várias e coiso e tal...

Se bem continuo a não ter tempo e partirei em viagem muito em breve, aproveito para escrever umas palavrinhas como continuação do que já foi dito relativamente aos pontos cardinais do nosso país. Se no 'post' anterior falámos sobre o ponto mais oriental, hoje falaremos sobre o ponto mais setentrional.

E como não poderia ser de outra forma, esse ponto é o rio Minho no concelho de Melgaço, na freguesia de Cristóval (que seria alegadamente uma palavra de influência galega face ao nosso Cristóvão) e o destaque para a aldeia mais setentrional vai para Cevide, na dita freguesia e perto da fronteira de S. Gregório, da qual falaremos em outro momento.

Curiosamente, a melhor vista desse ponto é na Galiza da ponte que liga o concelho de Padrenda, na província de Ourense, ao concelho de Crecente na província de Pontevedra logo após a barragem (encoro) da Frieira. A poucos metros desagua no Minho a Ribeira de Trancoso que serve de fronteira na maior parte do seu curso entre a Galiza e Portugal.

Trata-se de uma região ainda um bocado montanhosa, com um rio Minho relativamente bravo, mas próximo do seu curso final que já se antecipa para lá de Melgaço. É também o começo da região do Alvarinho, quer galego, quer português e está próximo do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Nada resta agora senão deliciar-se com a vista das fotografias. Voltarei em breve!

Foto 1. Vista do Minho da ponte após a barragem da Frieira.
Foto 2. Mesma fotografia com indicação da fronteira.
Foto 3. Barragem da Frieira.


Ver Ponto mais setentrional de Portugal num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Limites: O limite mais oriental de Portugal/Lhemites: L lhemite mais ouriental de Pertual

Têm-se falado muito estes dias do Inverno especialmente chuvoso que está a assolar a Península Ibérica. Certamente é uma realidade sobretudo desde o mês de Dezembro em que não tem parado de chover. Os rios transbordam e estão a galgar em algumas localidades, designadamente os nossos rios principais como o Minho, o Douro, o Tejo e o Guadiana.

A pensar num novo 'post' para o blogue, lembrei-me de que recentemente tinha passado pela Terra de Miranda e a região zamorana de Aliste, onde o Douro ia bastante crescidinho já na altura. É por isso que aproveito para matar dois coelhos de uma cajadada e falo não apenas do tempo, mas também da região mais oriental de Portugal: o entroncamento entre a Ribeira de Castro e a Barragem de Castro de Alcañices, na freguesia de Paradela, em Terra de Miranda.

A barragem de Castro marca o início das chamadas Arribas do Douro, do lado de Espanha, e o Douro Internacional, do nosso, se bem já temos uma paisagem de arribas muito antes de o Douro chegar a Portugal, designadamente da confluência do Esla com o Douro que foi, aliás, o limite do reino de Portugal no reinado do nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, visto que o arcediagado de Aliste pertencia à arquidiocese de Braga, que tinha disputado o território à diocese de Astorga. Pelos vistos a demarcação da fronteira continuou nesse ponto até 1160, aquando da Conferência de Celanova, se bem a perda completa da região alistana parece ter sido definitiva no início do século XIII, quando começamos a ver tenentes leoneses em Alcanices. Mas a parte mais espectacular das arribas começa aqui, na linha de fronteira até Barca d'Alva, depois de ter passado cinco barragens (Miranda, Picote, Bemposta, Aldeadávila e Saucelle), as três primeiras portuguesas e as duas últimas espanholas, mas todas elas caracterizadas pela sua espectacularidade.

E depois de dito isto, pouco tenho mais a dizer a não ser desfrutar das vistas que oferecem as fotografias, já que elas falam mais do que eu possa expressar com palavras. De visita obrigatória para quem esteja a explorar a região!

Finalmente, em honra à nossa língua mirandesa, que faz também parte do nosso património cultural português, ofereço o mesmo texto em mirandês (com tradutor automático). Peço antecipadamente desculpa se algum leitor de língua materna mirandesa achar erros. Todas as correcções serão bem-vindas.

Em mirandês:

Ténen-se falado mui estes dies de l Ambierno specialmente chubioso que stá a assolar la Península Eibérica. Cierta minte ye ua rialidade subretodo zde l més de Dezembre an que nun ten parado de chober. Ls rius trasbordan i stan a galgar an alguas lhocalidades, zeignadamente ls nuossos rius percipales cumo l Minho, l Douro, l Teijo i l Guadiana.

A pensar nun nuobo 'post' pa l blogue, lhembrei-me de que recentemente tenie passado pula Tierra de Miranda i la region zamorana de Aleste, adonde l Douro iba bastante crecidinho yá na altura. Ye por esso qu'aprobeito para matar dous coneilhos dua cajadada i falo nun solo de l tiempo, mas tamien de la region mais ouriental de Pertual: l'antroncamiento antre la Rieira de Castro i la Barraige de Castro de Alcañices, na freguesie de Paradela, an Tierra de Miranda.

La barraige de Castro marca l'ampeço de las chamadas Arribas de l Douro, de l lhado de Spanha, i l Douro Anternacional, de l nuosso, se bien yá tenemos ua paisaige d'arribas mui antes de l Douro chegar la Pertual, zeignadamente de la cunfluéncia de l Sla cul Douro que fui, aliás, l lhemite de l reino de Pertual ne l reinado de l nuosso purmeiro rei D. Fonso Heinriques, bisto que l'arcediagado de Aleste pertencia a l'arquidiocese de Braga, que tenie çputado l território a la diocese de Astorga. Puls bistos la demarcaçon de la frunteira cuntinou nesse punto até 1160, aquando de la Cunferéncia de Celanoba, se bien la perda cumpleta de la region alistana parece tener sido defenitiba ne l'ampeço de l seclo XIII, quando ampeçamos a ber tenentes lheoneses an Alcanhiças. Mas la parte mais spetacular de las arribas ampeça eiqui, na lhinha de frunteira até Varca d'Alba, depuis de tener passado cinco barraiges (Miranda, Picuote, Bempuosta, Aldeadábila i Saucelle), las trés purmeiras pertuesas i las dues radadeiras spanholas, mas todas eilhas caratelizadas pula sue spetacularidade.

I depuis de dezido esto, pouco tengo mais a dezir la nun ser çfrutar de las bistas qu'ouferecen las retratos, yá qu'eilhas falan mais de l que you puoda spressar cun palabras. De bejita oubrigatória para quien steia a splorar la region!

Nota: As fotografias apresentam um sentido descendente/Las retratos apersentan un sentido çcendente.

Foto 1. O Douro perto da estrada de cruzamento de Castro e Salto de Castro.
Foto 2. O Douro caminho da barragem de Castro. Planalto de Saiago do outro lado do rio.
Foto 3. O Douro na barragem de Castro.
Foto 4. Vista geral da barragem de Castro. As terras portuguesas começam logo à direita além da barragem.
Foto 5. Barragem e comportas.
Foto 6. Barragem e vista das terras mais orientais de Portugal à direita.
Foto 7. Início do Parque Natural do Douro Internacional. Arribas do Douro.
Foto 8. Mesma fotografia com indicação da fronteira.
Foto 9. Barragem de Castro vista do miradouro de Paradela, já em Portugal.
Foto 10. Caminho de Miranda. Terras espanholas de Saiago à esquerda, Parque Natural do Douro Internacional à direita, em Terra de Miranda.


Ver Ponto mais oriental de Portugal num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.