segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As fronteiras de Tourém (II): Tourém/Calvos de Randín

A segunda fronteira de Tourém, e a mais antiga, liga a aldeia com Calvos de Randín (ou Randim) através de uma ponte sobre a barragem das Salas e que dá para uma rotunda. A fronteira é a própria rotunda onde, se circularmos por ela, podemos andar entre dois países ao mesmo tempo. Uma pequena «alfândega»? complementa as instalações fronteiriças.

A crítica que fazemos é o facto de estar um bocado abandonada e com uma sinalética obsoleta por parte das autoridades espanholas que ainda por cima mostram um sinal com erros ortográficos: «Fronte(i)ra portugesa»???? O quê????!!!! Não deveriam ser admissíveis esse tipo de erros que em nada contribuem para uma boa imagem do país em questão. De resto, não existe qualquer sinal indicativo de país, mas sim um sinal da entrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O percurso entre Calvos de Randín e Tourém é uma sucessão de terras de lavoura no planalto formado pelo vale do rio Salas, campos de tojos, urzes e giestas lá onde a terra foi abandonada ou simplesmente nunca chegou a ser arada. Uma árvore cá, outra acolá, é o que complementa a paisagem onde a barragem das Salas acrescenta uma mais-valia, dando sensação de frescura no Verão.

Estamos, portanto, perante mais uma fronteira para trânsito local nestas longínquas terras raianas portuguesas no limite com a Galiza.

Foto 1. Rotunda da fronteira com a fronteira «portugesa» (sic) !!! Vista do lado da Galiza.
Foto 2. Vista da fronteira do lado português com a alfândega ao fundo.
Foto 3. Barragem das Salas com a aldeia de Randim (Galiza) ao fundo.
Foto 4. Tourém vista da ponte da barragem.
Foto 5. Vista da barragem das Salas com Guntumil (Galiza) ao fundo.


Ver Fronteira Tourém/Calvos de Randín num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

domingo, 28 de novembro de 2010

As fronteiras de Tourém (I): Tourém/Guntumil

Tourém é uma aldeia raiana do Barroso, incluída no Parque Natural da Peneda-Gerês, e apresenta uma particularidade que nenhuma outra localidade raiana tem: está rodeada em três das quatro partes do território por território galego, sendo que a ligação com o resto do país faz-se por uma estrada em subida contínua até ultrapassar uma área de transição entre a Serra do Larouco e a Serra do Gerês/Xurés. É, portanto, a única aldeia portuguesa do vale do rio Salas, afluente do Lima.

Isso quer dizer que muitas das relações dos seus habitantes são com os seus vizinhos galegos o que não resulta estranho se termos em conta que, para além da sua particular localização geográfica, ainda no início do século XIX fazia parte da diocese eclesiástica de Ourense e de lá partia a estrada neutral para o Couto Misto, uma anormalidade do ponto de vista jurídico da qual falaremos mais adiante noutro 'post' e que só se resolveu com o Tratado de Limites de Lisboa de 1864.

A aldeia tem actualmente três ligações transfronteiriças com as aldeias galegas vizinhas. Hoje apresentamos uma delas, sendo o nosso propósito iniciar uma série de mensagens acabando com uma breve descrição da aldeia na última. A estrada que liga Tourém com Guntumil é uma estradinha para trânsito local que atravessa uma zona onde se mistura a floresta, o mato e prados destinados à pecuária ou terras de cereais. Ao fundo, a barragem das Salas como marco incomparável que acrescenta frescura à paisagem e às nossas costas, as últimas encostas da Serra do Gerês/Xurés, montanhas altas e íngremes que contribuem para a dureza dos Invernos. Do ponto de vista económico, trata-se de duas aldeias dedicadas à agricultura e à pecuária, não muito evoluídas e perto do nível de subsistência, como antigamente. Daí a sobrevivência, até tempos não muito longínquos, de práticas comunitárias como o boi comunitário, as malhas ou os direitos de uso do forno do povo. O que justifica, neste mundo globalizado, que muitos tenham optado pela emigração à procura de melhores condições de vida como saída a uma dura vida no campo e nem sempre recompensadora.

Resulta uma visita imprescindível para quem queira ter uma visão global destas aldeias do sul da Galiza, do Couto Misto e do Barroso.


Foto 1. Fronteira portuguesa vista do lado da Galiza.
Foto 2. Marco fronteiriço escondido entre fetos.
Foto 3. Limite com a Galiza visto do lado português.
Foto 4. Vista geral de Guntumil com a barragem das Salas ao fundo.
Foto 5. Aldeias galegas de Requiás e Guntumil vistas da barragem das Salas com a Serra do Gerês/Xurés ao fundo.
Foto 6. Ponte sobre a barragem das Salas e vista de Guntumil.
Foto 7. Vista de Guntumil (pormenor).
Foto 8. Vista geral de Tourém.


Ver Fronteira Tourém/Guntumil num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

P.S. Aproveito a ocasião para dar as boas-vindas ao nosso novo amigo 'extremadura urbana'. Desejo que continue a ser leitor habitual deste blogue.

sábado, 6 de novembro de 2010

Fronteiras: Portelo/Calabor

Duas fronteiras ligam a linda região da Sanábria (Seabra) com o Nordeste Transmontano: a fronteira de Rio de Onor, a mítica aldeia raiana, e a fronteira de Portelo/Calabor. A falta de uma boa ligação entre Puebla de Sanábria e Bragança (tem-se falado na construção de uma auto-estrada), estas são as duas únicas opções existentes. Um aspecto importante é a melhora da estrada espanhola entre Puebla de Sanábria e a fronteira, se bem que não evita as múltiplas curvas lá existentes. O alcatroado é muito recente e finalmente podemos ter uma ligação numas condições aceitáveis.

A estrada atravessa zonas despovoadas onde não se vê vivalma, sobre tudo depois de ter passado a localidade de Pedralba de la Pradería, última aldeia antes de chegar a Calabor. A fronteira decorre uns quilómetros depois de termos passado esta povoação e logo a seguir chegamos a Portelo, já na Terra Fria Transmontana. Do lado português as aldeias sucedem-se: Portelo, França, Rabal e, finalmente, chegamos a Bragança, não sem antes entrar brevemente na freguesia de Meixedo. São aldeias que pertencem ao Parque Natural de Montesinho, mas que, no entanto, segundo o meu ponto de vista, trata-se de aldeias mais bem descaracterizadas, se bem que não isentas de certa beleza natural. De facto encontramos parques de merendas e zonas de banho e até mesmo moinhos ao lado do rio Sabor, mas não têm nada a ver com a «aldeia preservada» de Montesinho a 1 km. do Portelo, à que se acede por uma estrada que fica a Sul desta última.

Do lado espanhol, resulta interessante o facto de Calabor ser, segundo estudos filológicos, uma aldeia onde ainda se fala um dialecto de origem galaico-portuguesa onde os portuguesismos são frequentes, o que não admira, visto o facto de a aldeia mais próxima ser à do Portelo e de ficar mais perto de Bragança do que de Puebla de Sanábria. Embora a tipologia do casario seja parecida, cá destacam os telhados de xisto, que no Portelo só encontrámos nas casas mais velhas, sendo substituídos por telhas de barro cozido vermelho.

A Natureza, como não pode ser de outra forma, é o activo mais importante da região. Sanábria bem merece uma visita em qualquer estação do ano. No Inverno poderemos ver os cumes das montanhas nevados e desfrutar de um bom cozido feito com o feijão típico da região conhecido como habones. De salientar ainda a truta do lago de Sanábria e o polvo, feito de forma semelhante à maneira galega e as carnes de vitela. Na Primavera é o despertar e veremos a região verdejante e, sobre tudo, sem muitos turistas. No Verão, embora os turistas às vezes cheguem a ser excessivos, bem vale a pena tomar banho no lago de Sanábria, sobre tudo num dia quente. Finalmente, no Outono, vale a pena ver a região e contemplar os tons dourados das árvores, principalmente castanheiros. Para quem não é do Nordeste Transmontano, é uma região muito desconhecida para o turista português, mas tem uma riquíssima etnografia popular e muitas ligações de proximidade. Atrevo-me a afirmar que seja talvez a mais «portuguesa» das regiões da província de Zamora. É claro que é apenas minha opinião, mas acho que tem algum fundamento. Puebla de Sanábria e o seu castelo e igreja, o mosteiro de S. Martinho da Castanheira, o lago de Sanábria e, em geral, qualquer aldeia, é óptima para um passeio ou para iniciar percursos pela Natureza onde descobriremos vales glaciários, cascatas, florestas, etc.

De qualquer forma, continuo a preferir a ligação entre Bragança e Puebla de Sanábria por Rio de Onor, se bem que não é apta para autocarros nem viaturas de grandes dimensões, já que as ruas desta aldeia são um bocadinho estreitas, mas é óptima para ligeiros. Apesar de a estrada de ligação entre Rio de Onor e Puebla de Sanábria ser bem mais estreitinha, não há tantas curvas e o percurso é menos demorado. De qualquer forma, há duas opções à escolha!


Foto 1. Antiga alfândega espanhola.
Foto 2. Zona da alfândega espanhola.
Foto 3. Fronteira espanhola vista do limite fronteiriço.
Foto 4. Limite fronteiriço visto do lado de Espanha.
Foto 5. Marco fronteiriço (lado de nascente).
Foto 6. Terras raianas.
Foto 7. Marco fronteiriço (lado de poente).
Foto 8. Fronteira portuguesa.
Foto 9. Cores do Outono junto do limite fronteiriço de poente.
Foto 10. Estrada portuguesa N103-5 com vistas para a Serra de Montesinho e as vizinhas serras espanholas.
Foto 11. Antiga alfândega portuguesa. Aquando dos controlos fronteiriços existia uma coberta como as existentes nas bombas de carburante onde ficava a GNR a fazer tais controlos.
Foto 12. Fronteira espanhola vista da fronteira portuguesa.



Ver Fronteiras: Portelo/Calabor num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.