domingo, 13 de maio de 2012

Curiosidades históricas: Elvas e a fronteira do Caia em 1942

A partir de um blogue elvense, Cida'Elvas assisti a um interessante vídeo que mostra Elvas e a fronteira do Caia no ano de 1942. Não resisti e fica aqui como lembrança das velhas fronteiras em pleno Estado Novo. O vídeo, de quase doze minutos, fala de Elvas e da fronteira a partir do minuto 9:30 e é recomendado para quem quiser ter uma perspectiva histórica da fronteira. Espero que gostem!


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Curiosidades da Raia: Pedra Alçada (f. de Santiago Maior, c. do Alandroal)

Em 27 de Abril do ano em curso, fui convidado pelos meus amigos Luís e Nice do blogue Raia-Alentejo para uma caminhada organizada pela Junta de Freguesia de Santiago Maior, situada no concelho do Alandroal. Sendo este município um concelho raiano, não me resisti a deixar constância do passeio pelo seu alto interesse do ponto de vista etnográfico, histórico e paisagístico. 

Na realidade tratava-se de uma caminhada de 8 km., mas muito leviana porque quase não houve subidas nem descidas com pendentes fortes. Saindo da sede da Junta de Freguesia, na aldeia das Pias, fomos logo ao encontro do clássico montado alentejano com a sorte de encontrar um dia ensolarado, com uns céus limpos e cores intensas, graças ao facto de a atmosfera estar completamente limpa pelas chuvas que até ao dia anterior tinham caído com certa intensidade. Este Inverno-Primavera alargado deu-nos a oportunidade de usufruir de belas paisagem, verdejantes e cheias de vida, viçosas, com flores como que alcatifando o solo.

A companhia, mais do que agradável, com oportunidade de falar com pessoas com bagagem cultural interessante, fez com que o passeio decorresse sem quase dar por nós. Após as últimas casas da aldeia, a paisagem tradicional do Alentejo estava à nossa espera, com uma floresta densa de azinho e sobreiro no meio de penedos rochosos e ribeiras já secas. E logo após uma pequena descida suave encontrámos a primeira surpresa do passeio: dois fornos para o fabrico do carvão a partir da lenha de azinho ou sobro feitos com tijolo e cobertos com terra, com um agradável cheiro que nos faz recriar o fumeiro aquando da preparação dos enchidos. Sem dúvida uma jóia etnográfica que convém preservar, em tempos em que estas profissões encontram-se à beira da extinção.

Seguindo o passeio, atravessámos campos floridos que nos fazem entrar em comunhão quase espiritual com a natureza, embasbacados com a beleza da planície que fazem da Primavera a melhor estação para ver um Alentejo verde, viçoso, do qual nunca nos cansamos. Só a alegre algazarra do grupo quebra (mas não muito) essa paz melancólica que encontramos nestas paragens. E é assim que chegamos à Pedra Alçada, que recebe esse nome por tratar-se de duas pedras em posição vertical, uma acima da outra, como que alçadas, não sabemos se de forma natural ou pela mão do homem. Apesar das notáveis parecenças com um menir, não podemos dizer ao certo se foi mesmo assim, mas quer fosse uma estrutura natural sem a intervenção humana, quer fosse construída pelo homem, a hipótese de ter sido um lugar de encontro na era megalítica não pode ser posta de parte.

Uma breve pausa reconfortante permitiu-nos desfrutar de um lanchinho consistente numa sandes mista, uma maçã e uma bebida, gentileza da Junta de Freguesia, empreendemos o caminho de volta, passando ao lado de interessantes formações geológicas em granito, com marcas que parecem petróglifos, mas que talvez sejam mesmo naturais, não sem experimentar os efeitos de um pequeno chuvisco que quase não chegou a molhar a terra. Já perto da aldeia, uma bela panorâmica permitia-nos contemplar a imensidade da planície até à Serra d'Ossa, já nos concelhos do Redondo e de Estremoz.

E como não podia ser de outra forma, na sede da Junta esperava-nos um delicioso almoço: saladas, queijinhos da região, enchidos, salada fria de grão e de feijão frade e, finalmente, uma açorda de favas que estava mesmo muito, muito boa, feita por mãos espertas que sabem dar esse ponto característico de quem segue a tradição gastronómica do Alentejo. Com um café na tasca mais próxima, despedi-me dos meus amigos não sem antes prometer que iria participar no encontro seguinte. É de louvar este tipo de iniciativas por parte de freguesias rurais que nos permitem conhecer lugares da região por uma contribuição meramente simbólica, ao tempo que interagimos com outras pessoas que aportam a sua simpatia e a sua bagagem cultural.

Parabéns aos organizadores e à Junta de Santiago Maior!

Foto 1. Paisagem de montado logo no início do passeio com vistas para os concelhos do Redondo e Reguengos.
Foto 2. Fornos de fabrico do carvão vegetal.
Foto 3. Fornos de fabrico do carvão em perspectiva geral.
Foto 4. Campos floridos no montado.
 Foto 5. A beleza da planície.
Foto 6. Penedos rochosos característicos da região.
Foto 7. Pedra Alçada, vista parcial.
 Foto 8. Pedra Alçada, vista geral.
Foto 9. Outra vista de perfil da Pedra Alçada.
Foto 10. Formações rochosas em granito.
Foto 11. Cavalos no meio do montado.
Foto 12. Vista geral da planície, perto da aldeia das Pias, com a Serra d'Ossa ao fundo.


Mapa 1. Mapa de situação.

Mapa 2. Mapa específico.

domingo, 6 de maio de 2012

Fronteiras: Santo André (c. de Montalegre) / A Xironda

Depois de algum tempo afastado do blogue por motivos de saúde e, porquê não, pelo cansaço, vamos hoje retomar o nosso périplo pela Raia, desta vez, entre a aldeia de Santo André, no concelho de Montalegre, e A Xironda, no concelho galego de Cualedro. A fronteira está situada numa estrada local que liga as duas localidades, no fundo de um pequeno vale ao sopé da Serra do Larouco.

A região pertence a uma zona de transição entre o Barroso e a região do Alto Tâmega. Sendo o concelho de Montalegre muito extenso, Santo André faz parte junto com Vilar de Perdizes e outras poucas freguesias, daquela parte do município que pertence à bacia do Tâmega através dos seus afluentes. É por isso que estamos numa região de planalto que desce em suave declive para o vale do Tâmega. Se a aldeia de Santo André está situada entre os 820 e os 850 m. de altitude, já a aldeia da Xironda está situada entre os 750 e os 760 m. Entre ambas as duas, situa-se um pequeno relevo que ultrapassa os 790 m. do lado da Galiza para logo descer suavemente até ao limite fronteiriço, num pequeno vale situado entre os 730 e os 740 m. por onde discorre a Ribeira do Inferno, e onde encontramos extensos milheirais entre outras terras de lavoura e pequenas explorações avícolas e pecuárias. Após uma mudança de piso para uma estrada mais estreita já em terras portuguesas, uma pequena subida, mais íngreme do que a anterior, leva-nos ao planalto onde está situada a aldeia de Santo André, interessante do ponto de vista etnográfico.

No meio, um desvio por caminho de terra batida, indica a existência da vila romana de Grou. Infelizmente, não existe qualquer indicador da tal vila já após termos apanhado tal estradinha e ficamos, mesmo ao pé da Serra do Larouco, com a sensação de estarmos em terra de ninguém, porque sabemos que a fronteira está mesmo aí, desconhecendo se a ultrapassámos ou não. Mais um caso de sinalética que devia ser melhorada porque de nada vale por-nos o mel nos lábios de uma alegada vila romana e depois não encontrar outra coisa do que estradas esburacadas não asfaltadas pouco aptas para ligeiros e nada que indique a presença, mesmo que mínima, de restos arqueológicos da época romana.

De resto, a fronteira não oferece nada de interessante, a não ser o facto de estarmos perante uma bela paisagem e mais uma via de ligação entre Santo André e Vilar de Perdizes, esta vez, por terras galegas. Se pretendermos brincar com o jogo do gato e do rato com as fronteiras, este é o lugar ideal para ir mudando continuamente de país, pois teremos estradas locais daí até Vilarinho da Raia, já à beira do Tâmega.

Foto 1. Fronteira portuguesa vista do lado da Galiza. 
Foto 2. Limite com a Galiza visto do lado de Portugal.
Foto 3. Limite e marco fronteiriço.
Foto 4. Milheiral raiano, mesmo no limite fronteiriço visto para o lado de Portugal.
Foto 5. Vista da Serra do Larouco perto de Santo André.


Mapa 1. Mapa de situação.

Mapa 2. Mapa específico.