Num extremo do concelho de Chaves, no meio de uma pequena planície, situa-se a freguesia e aldeia de Soutelinho da Raia. Nada teria de particular a não ser por dois motivos (embora se me ocorram mais alguns): 1-É uma aldeia raiana, e 2-Trata-se de um dos chamados «povos promíscuos».
Como foi referido no caso de Lamadarcos, Soutelinho da Raia faz parte junto com esta aldeia e mais a de Cambedo, do conjunto de aldeias chamadas de «povos promíscuos» pelo Tratado de Limites de Lisboa de 1864, tratado que veio a corrigir uma situação de indefinição de fronteiras nesta região do Alto Tâmega. Tratava-se de três aldeias onde a fronteira ia pelo meio delas, dando lugar a uma confusão administrativa que foi aproveitada pelos seus habitantes para fugir a certas obrigações (impostos, tropa,...). Com este tratado de limites, a totalidade das mesmas passou a formar parte de Portugal, pelo que a fronteira avançou nesse sentido de modo a ficarem abrangidas pelo território português.
No caso de Soutelinho da Raia, a fronteira ficou estabelecida praticamente à saída da aldeia, sendo, das três, a que tem a fronteira mais perto, como mostram as fotografias que seguem. Talvez por ficar longe do pólo económico do Alto Tâmega que é Chaves, Soutelinho da Raia soube manter melhor a sua herança, quer em património histórico, quer em património etnográfico, de forma que é uma aldeia que teve poucas alterações relativamente à vida moderna como outras aldeias da região onde há um contraste muito forte entre as casas dos emigrantes, nomeadamente na França, e as casas dos que ficaram, muitas vezes deturpadas por modernices que não condizem com o aspecto rústico da casa, enquanto outras casas foram deixadas, infelizmente, ao abandono e degradação. É por isso que visitar hoje Soutelinho é voltar às essências de antigamente, às essências de um mundo já esquecido que nunca voltará.
A aldeia fica estrategicamente situada a meio caminho entre Chaves e Montalegre, sendo que resulta uma alternativa à EN 103, que atravessa zonas mais montanhosas, no trânsito entre o planalto do Barroso e o vale do Tâmega. Existe ainda um acesso à aldeia galega de Videferre, no concelho de Oimbra, com ligações também para Verín, na província de Ourense, cabeceira do Alto Tâmega galego.
A força da tradição é bem patente na aldeia e uma amostra disso, para quem desejar ter mais informações, é o blogue de um natural de lá, que pode ser consultado aqui. Sem dúvida, uma região a descobrir, quer pelos seus encantos naturais, quer pela sua riqueza etnográfica.
Foto 2. Fronteira de Soutelinho da Raia. A mudança de piso indica o limite fronteiriço. À direita, o Posto Fiscal, quando ainda existiam as alfândegas.
Foto 3. Marco fronteiriço na estrada a Videferre, junto do Quartel da Guarda Fiscal. A lenha não se importa muito de que lado da fronteira se encontra...
Foto 4. Limite fronteiriço ao outro lado do Posto Fiscal.Foto 5. Rua do Quartel vista da fronteira.
Foto 6. Fronteira galega vista do Posto Fiscal.
Foto 7. Marco fronteiriço visto da Rua da Fonte Fria. Divide um único campo de lavoura.
Foto 8. Rua Direita, rua principal da aldeia, com a clássica calçada portuguesa.
Foto 9. Largo do Cruzeiro.
Foto 10. Rua do Rego e vista da Igreja Matriz.
Foto 11. Igreja Matriz de Soutelinho da Raia.
Foto 12. Capela do Senhor dos Desamparados e casas de pedra de Soutelinho.
Foto 13. Vista geral do planalto e da Serra do Larouco, nos arredores de Soutelinho, já em terras galegas.
Foto 14. Caminho de Videferre, já na Galiza.Ver Soutelinho da Raia num mapa maior
Mapa 1. Soutelinho da Raia com indicação do limite fronteiriço.