Talvez por nostalgia, talvez porque sinto algo mágico com o Norte de Portugal, mas Setembro sempre me deixa uma profunda saudade do Norte. Talvez esse tempo fresco, anunciando os frios do outono que são convidativos de ficar em casa e deliciarmo-nos com um caldo verde quente ou uma feijoada após um passeiozinho pela floresta, no meio de castanheiros e carvalhos, sentindo a humidade da chuva e do verde, as folhas amarelas no chão..., talvez sejam essas coisas as que me façam ter essa grande saudade do Norte na sua ampla expressão.
E como estamos a falar em fronteiras, nada melhor do que apresentar-vos uma das menos conhecidas e isoladas e, pode ser que por isso, mais mágicas e ancestrais. A fronteira da Ameijoeira não deixa de ser uma pequena estradinha para trânsito local. Quem vem de Lindoso e queira ir para o vale do Minho pode-se deslocar até Ponte da Barca e daí a Ponte de Lima e apanhar logo a A-3. Ou ir até Arcos de Valdevez e seguir logo até Monção. Mas também pode fazer outro percurso menos conhecido: segue até à fronteira da Madalena, entra na Galiza e logo, em Aceredo Novo vira à esquerda para passar a ponte sobre a barragem (encoro, em galego) do Alto Lindoso. Daí chega até A Terrachá, a capital do concelho de Entrimo, e por uma estrada serpenteante, vai subindo aos poucos até chegar à Ameijoeira (ou A Meixueira, em galego) como quem entra en qualquer povoação. A fronteira está situada mesmo quase na primeira (ou última, segundo o ponto de vista) casa. Não podem faltar, é claro, algumas pintadas de alguns nacionalistas galegos a dizer: Galiza nom é Espanha!, usando uma grafia denominada integracionista, que visa unificar a escrita da língua galega segundo os padrões da nossa língua portuguesa, já que o galego é encarado como um subsistema dentro do sistema galaico-português. E realmente as diferenças não são assim tantas como nos querem fazer ver, mesmo com as fronteiras mais ou menos definidas desde os inícios da Nacionalidade. Mas como este blogue é alheio a toda polémica política, falaremos sobre essa jóia que é Ameijoeira.
Ameijoeira é uma simpática aldeola que faz parte do concelho de Melgaço e depende da freguesia de Castro Laboreiro. Está, portanto, incluída no Parque Nacional da Peneda-Gerês. É uma aldeia serrana onde o casario é, fundamentalmente, de pedra, o que se compreende, visto estarmos numa zona relativamente elevada e de abundante pluviosidade. O granito é a pedra dominante, como aliás na Galiza e o resto da região. É uma aldeia onde poderemos entrar em contacto com a Natureza no seu estado mais puro, mas, precisamente por isso, onde não encontraremos nenhum serviço, nem mesmo os básicos, sendo obrigatórias as deslocações até Castro Laboreiro. Mas não é o que pretendemos...? Paz, sossego, ar puro?
Os costumes ancestrais ainda persistem em parte nesta região. Uma amostra disso é a existência, ainda, do forno do povo, uma construção primitiva em lajes e blocos de pedra de forma cónica, onde se cozia o pão. O entorno é caracterizado pela sua cor verdejante, entre montanhas, particularmente intensa em alguns dias de sol. A Serra da Peneda, sobre a qual Ameijoeira fica numa encosta, está sempre presente.
Depois do passeio, já com fome, talvez queira se deliciar com um caldo de farinha, ou uns grelos com rojões. Se preferir o peixe, como o Minho fica mesmo ao lado, umas trutas abafadas ou uma lampreia, se calha mesmo na primavera. Ainda poderá sentir o cheiro a lenha queimada que sai pelas chaminés enquanto lhe é preparada uma mesa com doses generosas... regadas com o inesquecível Alvarinho da região.
E como não podemos deixar que apareçam os "pneus" na barriguinha, nada melhor que dar um passeio pelas aldeias vizinhas, isso sim, sempre em contacto com a Natureza.
Foto 1. Posto fronteiriço da Ameijoeira visto do lado da Galiza.
Foto 2. Forno comunitário do povo.
Foto 3. Casas típicas da Ameijoeira.
Foto 4. Estrada N202-3 com a Galiza ao fundo.
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