domingo, 17 de outubro de 2010

Curiosidades fronteiriças: Estrada da Petisqueira

A Raia está cheia de pequenas curiosidades fronteiriças que costumam passar desapercebidas para quem não liga a estas coisas ou quem não repara em pequenos pormenores a não ser que seja uma pessoa viciada em fronteiras, é claro!

É o caso da EM1039 que liga a Petisqueira à EN308 e daí a Deilão, sede da junta de freguesia, e a Bragança, capital do concelho. Esta estrada não é mais do que uma pequena estrada municipal que parece mesmo um caminho a nenhures, em uma região de lombas (não é por acaso que esta região recebe o nome de Lombada), com um pequeno planalto que em esta parte do território entra em um declive suave mas contínuo que faz com que a altitude, que no entroncamento com a EN308 é de 900 m., desça até os 690 m. já na Petisqueira.

Segundo a antropóloga Paula Godinho, Professora na Universidade Nova de Lisboa e talvez a melhor especialista em contrabando e fronteiras da Península Ibérica, esta estrada era conhecida por «estrada das forças armadas» e foi construída no PREC (Processo Revolucionário em Curso, que decorreu entre Abril de 1974 e Novembro de 1975), já que até esse momento o único elo de ligação com o território português era um caminho que só dava para a passagem de burros. Daí a forte interacção entre esta aldeia e as aldeias vizinhas de Riomanzanas e Villarino de Manzanas, na região alistana, muito mais próximas, o que se reflecte nas tradições populares, muito semelhantes, como tem posto em relevo o estudioso das tradições transmontanas António Tiza. Um exemplo disso é a celebração conjunta da festa em honra de Nossa Senhora de Fátima com Villarino nas margens do rio Maçãs, ou os falares raianos (ou o que resta deles) da Petisqueira, dentro do chamado dialecto maçaneiro, de origem asturo-leonesa.

Mas tem uma particularidade: uma boa parte da estrada está limitada pela fronteira de forma que podemos observar vários marcos fronteiriços ao longo da mesma e, ao lado, uns sinais de reserva de caça da Junta de Castela e Leão, já que estamos mesmo no limite com a província de Zamora, na região de Aliste. Parar nesta estrada, desligar o carro e ficar em silêncio faz com que, de repente, sintamos uma estranha solidão, uma sensação de sermos insignificantes, de estarmos mesmo sós, no meio daquelas lombas cheias de urzes, giestas e tojos, absolutamente sem árvores nenhumas, sem vermos aldeias por perto (ficam escondidinhas no fundo dos vales) e onde não há vivalma. Imaginem isso em uma manhã de Inverno, com um vento frio de rachar a passar pelo meu rosto. Eis que foi assim que eu me senti, mas em paz comigo mesmo. Afinal estava mesmo numa terra de ninguém e era possível usufruir de uma certa aura de liberdade, mesmo que fosse apenas uma ilusão, abstraindo-me do resto do mundo. Se puderem, experimentem no vosso local favorito. Vale a pena!

Foto 1. Marco fronteiriço junto à estrada da Petisqueira.
Foto 2. Estrada da Petisqueira ao lado do marco fronteiriço e do sinal da reserva de Castela e Leão.


Ver Fronteira na estrada da Petisqueira num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.

P.S. Fico muito grato por ter como novos amigos a Suso Díaz, David García e Fátima Amante. As minhas boas-vindas e espero que continuem a gostar do blogue.

7 comentários:

  1. Muy cerca estuve hace poco más de un mes pero no llegué a ir a Petisqueira.

    Ya recuperé datos del ordenador que se me estropeó. A ver si te puedo enviar las fotos que te prometí.

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  2. Por cierto. ¿Cómo está el tema de los nuevos peajes en las autovías de Portugal?. Leí en la prensa que había que comprar un dispositivo para el peaje. ¿Y si vas sólo un fín de semana?.

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  3. Hola Toni. Recibí unas fotos tuyas de Rio de Onor incluyendo unas preciosas calabazas e iba a enviarte un mail agradeciéndotelo. Ya lo hago desde aquí. En cualquier caso, no sé si son las mismas.

    En cuanto al tema de los peajes, en realidad es una verdadera "trapalhada". Desde el día 15 de octubre ya es necesario el telepeaje en las concesiones Grande Porto, Costa de Prata y Douro Litoral, pero desde el día 15 de abril lo será en todas.

    Como solo se puede utilizar un dispositivo electrónico de matrícula (DEM) o Via Verde, los vehículos extranjeros que quieran circular por ahí tendrán que alquilar el dispositivo en una gasolinera o área de servicio por el "módico" importe de 50 EUR, con el agravante de que la precarga dura tres meses y no se devuelve el dinero, es decir, si consumes, por ejemplo, 12 EUR, pierdes los 38 restantes. Lo mejor es la Via Verde, pero para ello tienes que abrir una cuenta en un banco portugués, comprar el dispositivo, pero ya te dura para siempre y solo pagas ese peaje al mes de haberlo hecho, ya que está asociado a una tarjeta de débito.

    En cualquier caso, estoy totalmente en contra de la introducción de peajes. Creo que nuestro gobierno se equivoca de plano por intentar sacar unos euros, perjudicando no solo a los trabajadores, puesto que en muchos casos no hay alternativas reales, y va a hundir el turismo, que es muy intenso sobre todo desde Galicia.

    En fin, a ver que pasa, pero no soy muy optimista, a pesar de las providencias cautelares contra una de las concesiones, y de los movimientos ciudadanos de protesta.

    Vamos ver!

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  4. Esta estrada que mostra é também conhecida por «estrada das forças armadas». Foi construída no PREC, já que não havia qualquer ligação da Petisqueira ao lado português que permitisse passar mais que um burro. Assim, a ligação com as terras de Aliste eram muito fortes. É ver, por exemplo, a similitude das festas de um e outro lado, como vem estudando António Tiza.

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  5. ¡¡¡¡¡!!!! Es verdad. Ya te había enviado las fotos. Como se me estropeó el PC no me acordaba si te las había enviado.

    Lo de las autovías sí que es una trapalhada total. ¿Cómo voy yo a comprar el dispositivo por 50€ si a lo mejor sólo voy a estar el fín de semana?. En fín...

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  6. Pues sí tienes razón, Toni. Gracias por las fotos y un día de estos vas a ver una selección en el blog.

    Saludos.

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  7. Exmª Senhora Godinho;

    É para mim um prazer que tenha comentado no meu blogue. Imagino que a Sra. Drª deve ser a Professora de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa. Tive o privilégio de ler alguma das suas obras relativamente ao contrabando e à fronteira, visto o meu interesse nesta questão.

    Com o seu consentimento vou acrescentar a este 'post' o seu comentário pois pode ser esclarecedor para os nossos leitores.

    Melhores cumprimentos e continue a ler o blogue. Será sempre bem-vinda!

    Luís Seixas (Gaiato alentejano).

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