sábado, 28 de janeiro de 2012

Aldeias fronteiriças: Ribeiro de Baixo.

Em primeiro lugar e antes de começar com o meu 'post' quero, embora tardiamente, desejar a todos os meus leitores tudo de bom neste ano de 2012 e que as festas tenham decorrido de maravilha junto dos seus familiares ou lá onde tiverem estado. Por motivos pessoais não tive tempo nem vontade de actualizar o blogue, pelo que, sendo verdade que posso escrever quando me apetecer, peço desculpa àqueles leitores que me seguem fielmente e que esperam novidades cá no «Fronteiras».

Mas como tudo nem é mau, tenho de dizer que parte da época do Natal aproveitei-a para descobrir novos lugares fronteiriços, entre eles este do qual vou falar hoje, em exclusivo para os leitores do «Fronteiras». No Alto Minho, no concelho de Melgaço, na sua freguesia mais extensa, a de Castro Laboreiro, para além da Vila, da qual teremos ocasião de falar, existem várias aldeias que recebem o nome de «brandas» (lugares mais altos) ou «inverneiras» (os mais baixos). Uma dessas aldeias, das incluídas nas inverneiras, é Ribeiro de Baixo, que obviamente é muito desconhecida pela grande maioria dos portugueses. A maior parte das pessoas relacionam Melgaço com o rio Minho, mas isso é verdade só em parte. Na realidade, a maior parte desta freguesia que faz parte, aliás, do Parque Nacional da Peneda-Gerês, está inserida do ponto de vista hidrográfico, na bacia do Lima, tendo como rio principal o Laboreiro, que desagua na barragem do Alto Lindoso (e portanto no Lima) e que se converte em rio fronteiriço após passar as aldeias da Ameijoeira e Mareco.

A freguesia está cheia de estradas rurais, uma das quais parte da própria Vila e que conduz até a inverneira de Ribeiro de Baixo, a última aldeia e a mais isolada de todos, além de ser a que está situada a uma altitude mais baixa (540 m. a beira-rio) em contraste com a elevada altitude das brandas ou aldeias de planalto que ultrapassam os 1 000 m. A estrada é na realidade um beco sem saída porque constitui o único elo de ligação com o resto do território e do mundo, por assim dizer. A aldeia fica encaixada no fundo do vale, existindo dois «bairros», um que fica na parte alta da mesma, entre os 600 e os 700 m. de altitude e outro que fica perto do rio, a uns 550 m. Daí que parte da produção agrária deva fazer-se em terrenos muito elevados em encostas íngremes, pelo que o cultivo da videira, por exemplo, que se dá nestas terras mais ensolaradas e menos expostas aos nevões do planalto, seja feito em socalcos.

A aldeia propriamente dita não oferece elementos distintivos do que qualquer outra aldeia minhota. Há influências serranas nas casas tradicionais pelo uso da pedra de granito, existem alguns espigueiros e há uma grande importância da pecuária, designadamente de vacas e cabras. Para além de algumas casas típicas de emigrantes, a aldeia quase não apresenta grandes mudanças no casario tradicional a não ser o facto de estar pavimentada e as comodidades modernas como a luz, a água, etc.

A fronteira não se distingue porque não existe na prática. Não há comunicações com o lado galego da fronteira porque do outro lado do rio Laboreiro, para além de uma pequena e reduzida mas fértil veiga, a Serra do Quinxo, situada integramente no concelho galego de Entrimo, constitui uma verdadeira muralha, um entrave às comunicações, já que chega a ultrapassar os 1 150 m. de altitude. Dai que o rio Laboreiro apresente águas bravas neste ponto, com cascatas espectaculares e águas cristalinas. O destaque vai certamente para a paisagem envolvente porque podemos ver nestas agrestes montanhas quase no meio de nenhures, alguns sinais de vida, lameiros verdejantes e videiras, com um sol convidativo ao «dolce far niente». 

No rio Laboreiro existe uma ponte que comunica os dois lados, o português e o galego, mas nada indicaria isto se não fosse por um marco fronteiriço degradado e marcado numa pedra próxima e um cartaz em galego que nos indica que estamos na Baixa Limia.

Enfim, mais uma vez, um recanto esquecido e perdido na nossa Raia que vale a pena conhecer.

 Foto 1. Cultivo da videira em socalcos, na parte alta da aldeia.
 Foto 2. Parte baixa da aldeia vista da parte alta, com a Serra do Quinxo ao fundo.
 Foto 3. Vista geral da parte baixa, do rio Laboreiro e dos lameiros situados na parte galega.
 Foto 4. Rio Laboreiro entre Portugal e a Galiza antes de entrar no Ribeiro de Baixo.
 Foto 5. Lameiros da parte galega vistas do lado de Portugal.
 Foto 6. Capela da aldeia, situada na parte alta.
 Foto 7. Rio Laboreiro visto do lado de Portugal.
 Foto 8. Parte baixa da aldeia e veiga do rio Laboreiro.
 Foto 9. Marco fronteiriço na parte galega.
 Foto 10. Numeração do marco numa pedra próxima.
 Foto 11. Cartaz galego indicando o Parque Natural da Baixa Limia-Serra do Xurés.
 Foto 12. Rio Laboreiro e ponte fronteiriça.
 Foto 13. Rio Laboreiro visto da ponte fronteiriça em direcção Sul.
 Foto 14. Rio Laboreiro visto da ponte fronteiriça (e a minha sombra!) em direcção Norte.
 Foto 15. Na beira do rio Laboreiro na parte portuguesa com vista para o monte do Quinxo na serra do mesmo nome.
 Foto 16. Ponte fronteiriça vista do lado português.


Mapa 1. Mapa de situação.

6 comentários:

  1. Sou de Caminha, conheço um pouco do conelho de Melgaço mas apenas estive uma vez em Castro Laboreiro. Infelizmente não conheço nenhuma branda nem nenhuma inverneira. Depois de ler este artigo, que é mais uma vez excelente, dei-me conta que este meu desconhecimento é uma falta imperdoável! Muito Obrigado pela informação que nos trazes aqui! :-)

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  2. Olá Reis! Não te preocupes. É perfeitamente normal não conhecer esses cantinhos esquecidos onde Judas perdeu as botas. De qualquer forma, suponho que continuará a ter família lá. De Bragança até lá pode experimentar a ida ou a volta por esses lados. De Montalegre pode ir até Tourém e daí entra na Galiza e chega até Entrimo (A Terrachá)entre a Barragem das Salas e a Barragem do Alto Lindoso e depois segue pela fronteira da Ameijoeira. Daí a ver brandas e inverneiras é só um pulinho.

    Obrigado pelo elogio. Fico contente com isso.

    Abraço.

    Luís.

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  3. Olá Luís. Obrigado pela sua informação. Vou já ver o seu blogue que decerto deve ser muito interessante. Sempre é bom saber que há alguém na blogosfera a ter interesse nestas coisas.

    Cumprimentos.

    Luís.

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  4. Aquí en Asturias a las brandas las llamamos "brañas". Y hay unas cuantas en la zona de Somiedo, Tineo y Cangas del Narcea.

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  5. Hola Toni. Me alegra verte por aquí de nuevo. Conozco las brañas asturianas y, aunque hay diferencias entre las «brandas» e «inverneiras», más o menos las funciones son bastante parecidas, aunque las «brandas» están habitadas durante todo el año (bueno los que quedaron tras la intensa emigración que hubo). En todo caso, agradezco que este artículo haya despertado tanto interés.

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