segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fronteiras: Ouguela (c. Campo Maior) /Alburquerque

Uma fronteira pouco conhecida mas que vale a pena visitar pelas belas paisagens em que discorre é a existente entre a aldeia de Ouguela, no concelho de Campo Maior, no Alto Alentejo, e a vila de Alburquerque, na Extremadura espanhola. Não vamos falar hoje do belo castelo de Ouguela, a sua história e o seu património, visto ter sido alvo de um 'post' publicado há tempos referido em exclusivo para esta questão e que pode ser (re-)lido aqui, mas sim da fronteira existente neste ponto de ligação da citada aldeia e a vila de Campo Maior com a vila de Alburquerque e La Codosera.

Para quem vem de Campo Maior, antes de chegar à povoação de Ouguela, deve apanhar o desvio para a capela de Nossa Senhora da Enxara, uma capelinha que fica a 1 km. da localidade, à beira do rio Xévora, um afluente do rio Guadiana que nasce na Serra de São Mamede, no concelho de Portalegre e depois entra em Espanha pela aldeia de Rabaça/La Rabaza e continua pela vila de La Codosera, voltando a entrar de novo em Portugal muito perto do ponto fronteiriço do qual estamos a falar, passa ao lado da citada capela e volta a entrar definitivamente em Espanha águas abaixo até desaguar no Guadiana entre a localidade de Gévora (nome espanhol do rio) e a cidade de Badajoz. Esta capela, da qual falaremos noutro 'post', é famosa pela romaria que tem lugar na Páscoa, quando a população de Campo Maior costuma deslocar-se na Sexta-Feira Santa, ficando lá dois ou três dias até à Segunda-Feira acampados no arraial em pleno campo. Lá têm lugar uma missa, uma procissão campal, touradas e há diversos divertimentos como carrosséis, baile e as clássicas barracas para os comes e bebes. 

Passados alguns metros, segue-se por essa estradinha, ficando a capela num desvio à direita, enquanto se contorna o outeiro em que está assentada a aldeia de Ouguela. Depois de passar a ponte sobre a Ribeira de Abrilongo perto da sua confluência com o rio Xévora, continuamos viagem por uma via serpenteante mas muito agradável que dá para apreciar a paisagem de montado alentejano no meio de uma paz bucólica e quase lendária por parecer uma espécie de Arcádia feliz (desculpem, mas por vezes gosto de fantasiar) que nos meses frios, mas especialmente no Inverno e no início da Primavera resulta muito aprazível pela paisagem verdejante, enquanto no final da Primavera, no Verão e início do Outono podemos desfrutar do contraste entre o verde dos sobreiros e azinheiras e o amarelo intenso pela seara fora ou dos montados já secos pelo célebre calor intenso e abrasador do Alentejo. Daí, um desvio com um sinal indicador para Alburquerque, leva-nos ate à fronteira, caso não queiramos seguir caminho por estas paisagens isoladas até a aldeia de Degolados, a outra freguesia do concelho de Campo Maior.

O limite fronteiriço situa-se numa zona de lombas após passar alguma herdade, lembrando a proximidade da Serra de São Mamede, já que na realidade essas lombas fazem parte do extremo desse alinhamento montanhoso antes de sumir numa planície extensa, já no vale do Guadiana. Já na Extremadura espanhola, as lombas aumentam a sua altitude obrigando a contínuas subidas e descidas numa paisagem que em nada mudou a não ser na forma das herdades, próprias desta região, até chegarmos até ao entroncamento em que devemos decidir se queremos chegar até Alburquerque ou La Codosera e de novo a Portugal pela fronteira do Marco. Antes deste ponto, a estrada brinda-nos uma bela vista de montado (chamado dehesa na Extremadura espanhola) e do castelo de Alburquerque, situado em alto.

A História da região foi conturbada, como é óbvio. Em 1218 a vila e castelo de Alburquerque foi reconquistada pelo reino de Leão aos almóadas, após a batalha decisiva das Navas de Tolosa, em 1212, que significará a quebra do poder deste império que ainda ocupava a metade Sul da Península Ibérica. Mas será na década de 1220 quando virá o impulso maior. Do lado de Portugal, o rei D. Sancho II ocupa Elvas em 1226, dando-lhe foral em 1229. Do lado do reino de Leão, após a batalha de Alange em 1230, são ocupadas as cidades de Mérida e Badajoz e ainda Campo Maior e Ouguela. Após a estabilização do conflito com os muçulmanos, começam os conflitos entre a coroa castelhana e Portugal pela definição da fronteira, que foram muito duros na região de Arronches e Alegrete, antiga sede de concelho e hoje uma das freguesias de mais população (excluída a cidade) do concelho de Portalegre. Alegrete passará a formar parte da coroa portuguesa formalmente após o Tratado de Badajoz de 1267, mas Campo Maior e Ouguela deverão esperar até ao Tratado de Alcanices de 1297 quando o rei D. Dinis, que na realidade almejava a posse da cidade de Badajoz, consegue para Portugal as duas localidades mais o território de Olivença, de modo a cercar a citada cidade. No entanto, estas localidades continuarão a depender no eclesiástico da diocese de Badajoz até a reforma diocesana de inícios do século XV. As guerras com Castela serão contínuas, daí a importância da fortaleza e castelo de Ouguela num território de fácil acessibilidade de forma a proteger a vila de Campo Maior, que também possuía o seu castelo e as suas muralhas.

A visita deste ponto avançado do nosso país resulta especialmente indicada para um lindo passeio à tarde se estivermos à procura de sossego e paz no meio do campo. Se acompanharmos isto com uma bifana quentinha no pão (alentejano, obviamente!) e uma bejeca..., é já o summum do prazer!

 Foto 1. Fronteira portuguesa vista do lado de Espanha.
 Foto 2. Caminho rural e marco fronteiriço situado para Leste da linha de fronteira.
 Foto 3. Marco fronteiriço e vista da paisagem de montado.
 Foto 4. Vista do mesmo marco fronteiriço com orientação para Portugal.
 Foto 5. Fronteira espanhola vista do lado de Portugal.
Foto 6. Estrada de Alburquerque, já na Extremadura espanhola.
Foto 7. Vista da planície no extremo do Alentejo. Ao fundo à direita ficaria situada a cidade de Badajoz (fora do alcance da vista).
Foto 8. Planície alentejana e castelo e aldeia de Ouguela vistos do limite fronteiriço.

Foto 9. Vista da dehesa extremenha com o castelo de Alburquerque ao fundo (a 7 km. do limite fronteiriço.
Foto 10. Vista geral do castelo de Alburquerque, na Extremadura espanhola.


Mapa 1. Mapa de situação.

P.S.: Fico contente por ver que a pouco e pouco vai aumentando o número de leitores, bem como o número de amigos no perfil de «Fronteiras» no Facebook. Já no Twitter o sucesso é limitado, mas é compreensível porque talvez seja uma rede social mais especializada e nem todos vejam a utilidade de manter um perfil lá. De qualquer forma, gosto que as pessoas, de livre e espontânea vontade, decidam nos seus perfis a quem adicionar ou seguir ou mesmo até não fazê-lo porque não achem necessidade. No Google Rede Social tenho o prazer de ver que os seguidores aumentam de forma lenta mas contínua contando hoje com 44 seguidores, o que para um blogue claramente minoritário é muito bom. Como costumo fazer, dou as boas-vindas ao nosso último seguidor, Danny Antunes. Espero que continue a apreciar o blogue e os motivos que o levaram a segui-lo se mantenham por muito tempo!

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