Um dos prazeres que o viajante pode sentir quando se perde entre aldeias e localidades raianas é encontrar lugares calmos e de incrível beleza. Localidades que transmitem o calor da tradição ao mesmo tempo que ficamos perto da «civilização». No Alto Minho existem inúmeras aldeias que cumprem à perfeição isto que acabámos de dizer.
Hoje vou deter-me na freguesia de Venade, no concelho de Caminha. Trata-se de uma freguesia rural não muito distante da vila pois fica a apenas 3 km. É uma aldeia típica minhota em que alternam casas tradicionais com vivendas mais modernas, quer dos emigrados ao estrangeiro, quer daqueles mais abastados que decidiram comprar vivendas de estilo moderno e funcional. Como muitas aldeias do Minho, convenhamos que o seu centro estaria situado no Largo António Joaquim Alves da Cruz, em que estão situados a igreja paroquial, o cemitério, o coreto e o cruzeiro, para além de alguns cafés. Mas realmente estamos perante uma localidade plurinucleada, isto é dividida em «lugares» mais ou menos compactos, entre os quais existem espaços agrários com culturas nas que o destaque vai para o milho e mais secundariamente para a videira própria do vinho verde, emparrada.
Geográficamente fica situada a Sul do rio Coura, pouco antes de desaguar no rio Minho e aparece dividida pelo rio Tinto, um riacho que em tempos detinha vários moinhos. Estamos, portanto, perante uma fértil veiga cheia de milheirais que aproveitam a parte mais funda do vale, enquanto as vivendas dispõem-se a meia encosta das montanhas circundantes. Daí é possível ver a vila de Caminha, a foz do rio Coura, o estuário do Minho e o monte de Santa Trega, já na Galiza, no qual existe uma famosa citânia castreja e a localidade de Camposancos, pertencente ao concelho da Guarda, e donde parte o ferry-boat que liga esta com Caminha, não sem problemas, já que o Minho sofre o impacte do assoreamento da sua foz, o que obriga a dragagens contínuas para manter o canal de navegação entre ambas as localidades.
Como dissemos, existem vários «lugares» dentro da localidade, que tem pouco mais de 800 habitantes, como são os de Poço, Feital, Fornas, Coruche, Ribas (lugar em que fica a igreja matriz), Barge, Cruzinha, Mouteira, Rosmaninho, Sobral, Veiga-Junqueira, Campo Velho, Cruzeiro, Rio Tinto, Aldeia Nova, Escusa, Castanheirinho e Chão. Sim, 18 topónimos diferentes! Nisto existe uma ligação óbvia com toda a fachada atlântica da Península Ibérica entre o Baixo Mondego e o País Basco, sendo mais representativo este fenómeno na orla litoral e pré-litoral da região de Entre-Douro-e-Minho, a Galiza e as Astúrias. Não é mais do que uma expressão dos elementos que singularizam o Noroeste peninsular ao qual não é alheio o Alto Minho.
Do miradouro do Penedo do Fojo teremos a oportunidade de desfrutar de belas vistas para toda a localidade, Caminha, o Minho e a Galiza. Sem dúvida, um recanto com charme e sossego que convida para isso que os franceses sabem fazer bem: la flânerie! Donc, a se flâner!
Foto 1. Fachada da Igreja paroquial do século XVIII.
Foto 2. Outra vista da fachada e do edifício da igreja.
Foto 3. Cemitério e vista para Aldeia Nova e as montanhas circundantes.Foto 4. Lateral da igreja com vistas para Aldeia Nova.
Foto 5. Coreto de Venade.
Foto 6. Cruzeiro.
Foto 7. Vista a partir do Penedo do Fojo com Venade em primeiro plano, Caminha em segundo e o Minho e Santa Trega ao fundo.
Foto 8. Vista da foz do rio Coura, as pontes ferroviária e rodoviária, o Minho e Camposancos (Galiza) ao fundo.
Foto 9. Milheiral com vistas para a Aldeia Nova.
Foto 10. Aldeia Nova vista da ponte do rio Tinto entre vivendas, milheirais e a floresta.
Foto 11. Parreira no bairro do Cruzeiro.
Foto 12. Milheirais e vistas dos bairros de Escusa e Barge.
Ver Venade (f. de Venade, c. de Caminha) num mapa maior
Ver Venade (f. de Venade, c. de Caminha) num mapa maior
Mapa 2. Mapa específico.
Foto 10. Aldeia Nova vista da ponte do rio Tinto entre vivendas, milheirais e a floresta.
Foto 11. Parreira no bairro do Cruzeiro.
Foto 12. Milheirais e vistas dos bairros de Escusa e Barge.
Foto 13. Vistas de Campo Velho, Rio Tinto e Rosmaninho entre milheirais e videiras.
Foto 14. Venade (círculo vermelho) vista do monte Santa Trega (Galiza).
Mapa 1. Mapa de localização.
Ver Venade (f. de Venade, c. de Caminha) num mapa maior
Bom dia, Luís!
ResponderEliminarMuito Obrigado por teres dedicado um post do teu excelente blog à minha aldeia. Fico agora à espera de um post sobre a minha "outra" aldeia: Picote. ;-)
Tendo lido o teu texto, que me parece excelente e escrito por quem teve o cuidado de se procurar informar antes, tenho de fazer as seguintes observações, que não querem dizer que eu estou certo e tu estás errado. Vamos a elas:
1.ª) Em Venade como penso que em quase todo o Minho, não se chamam "bairros" aos vários locais da freguesia, mas sim "lugares". Por exemplo, o meu "lugar" é o Lugar do Rosmaninho, que muito bem mencionas no texto. Aqui em Trás-os-Montes, o normal é chamar "bairros" as diversas zonas de uma aldeia ou freguesia. A própria cidade de Bragança está dividida, mais ou menos informalmente, num grande conjunto de bairros.
2.ª) Tenho quase a certeza de que, em galego, o monte situado em frente a Caminha diz-se "Santa Tegra", não "Santa Trega", porque como, deves imaginar, já lá fui diversas vezes. E terei que voltar a ir muito em breve porque o meu filho anda a aprender na escola a matéria sobre os castros... Mas a verdade é que fiz umas pesquisas na Internet e verifiquei que tanto aparece "Trega" como "Tegra", sendo que há cerca do triplo de links para "Santa Tegra" do que para "Santa Trega". Só mesmo uma visita in loco poderá clarificar qual das duas formas é a mais correta. De qualquer maneira, o monte de Santa Tegra é uma excelente sugestão para um dos próximos posts do teu blog. ;-)
3.ª) Dos vários "bairros" em que se divide a freguesia de Venade, confesso que não estou a ver qual é o de Coruche, que mencionas no texto. Mas de facto ele existe, tal como se pode ver no Google Maps. Pela sua localização, trata-se de um dos lugares mais afastados da freguesia e apenas contém um pequeno número de casas. O que um alentejano não é capaz de ensinar a um venadense sobre a sua própria aldeia... :-)
4.ª) Também não me lembro de alguma ter ouvido falar de um "Penedo do Fojo", mas a vista que se tem de lá não me é estranha. Como foi que descobriste esse nome? Como foste até lá?
5.ª) Penso que é errado dizer "Igreja Matriz de Venade". Sempre a conheci como "Igreja Paroquial de Venade". Se perguntares em Venade pela "igreja matriz", quase de certeza que te irão indicar o caminho até à Igreja Matriz de Caminha, outro excelente tema de um importante monumento da nossa raia. ;-)
6.ª) Nas fotos 4 e 9, apenas se vê o Lugar da Aldeia Nova. O Castanheirinho fica muito mais afastado para a direita, não sendo visível daí.
7.ª) Na foto 12, também não se vê o Lugar do Castanheirinho.
8.ª) Na foto 13, vê-se perfeitamente a casa da minha família... :-)
9.ª) Na foto 14, a aldeia assinalada pelo círculo vermelho é Argela, que fica à esquerda de Venade. Venade é o conjunto de luzes à direita do círculo vermelho, ligeiramente por cima da conjunto mais brilhante que corresponde à vila de Caminha e à freguesia contígua de Vilarelho. Isso pode ser mais facilmente verificado no mapa 1 (depois de clicar uma única vez sobre o botão com o sinal "+"), em que se vê que há um contíguo urbano ao longo da EN 301 até Venade, e depois mais afastado mas ainda ao longo dessa estrada, aparece outro conjunto de casas correspondente à aldeia de Argela (identificadas no Google Maps pelos lugares da Cal e da Colarinha).
Continuação do teu excelente trabalho! :-)
Reis.
Muito obrigado pelo teu comentário. Já fiz as correcções pertinentes. Aquilo dos «lugares» foi mesmo um murro seco! Estava a pensar à transmontana! E com a minha família na Póvoa devia saber isso de cor... Reprovado!
EliminarRelativamente aos topónimos, parte soube perguntando na localidade e outros pela excelente planta que há no site da freguesia:
http://www.freguesiasdeportugal.com/distritoviana/02/venade/venade_mapa_net.pdf
A igreja é mesmo a igreja paroquial, coisa que já corrigi, felizmente. E o Penedo do Fojo fica acima da Aldeia Nova. Há uma entrada pelas vivendas modernas lá por trás que dá até ao miradouro e o que ia ser um parque de merendas. Espero haver acertado desta vez com Venade na vista nocturna do monte Santa Trega.
Relativamente a este topónimo, embora em espanhol seja Santa Tecla e apareça alguma vez como Santa Tegra em galego, o topónimo real é Santa Trega.
Na Wikipedia em galego aparece assim:
http://gl.wikipedia.org/wiki/Monte_de_Santa_Trega
E no jornal «La Voz de Galicia» há uma interessante entrada relativamente a esta confusão toponímica:
http://www.lavozdegalicia.es/galicia/2011/12/06/0003_201112E6C4992.htm
Por isso emprego o topónimo real que é também o oficial.
Se tens de mostrar ao teu filho povoados castrejos, lá vão algumas sugestões:
-No distrito do Porto o destaque vai para a Citânia de Sanfins (f. de Eiriz, c. de Paços de Ferreira). A entrada é gratuita. Ao mesmo tempo que podes comprar um móvel para a sala ou um sofá, eis que tens uma bela citânia para visitar!
-No mesmo distrito do Porto, há a Cividade de Terroso (f. de Terroso, c. da Póvoa de Varzim). Entrada paga. Podes apostar uns trocos no Casino ou tomar banho na praia e eis que tens uma bela cividade castreja com belas vistas para o mar, sendo que ao entardecer são mesmo espectaculares, como o sol no horizonte.
-No distrito de Braga, há a Citânia de Briteiros (f. de Briteiros (Sto. Estêvão), c. de Guimarães). Entrada paga. Existe ainda uma visita virtual neste site: http://citania.csarmento.uminho.pt/default.asp?language=1
-Ainda no distrito de Braga há a Castro de S. Lourenço (f. de Vila Chã, c. de Esposende). Entrada gratuita e belas vistas ao oceano com Esposende, a foz do Cávado, Apúlia, Fão, Ofir e até à Póvoa de Varzim e toda a planície litoral. O entardecer e uma boa hora para lá estar após a visita.
Na Galiza:
-Citânia de Santa Trega (A Guarda). Pago até às 19 horas se mal não me lembro. A paisagem é espectacular.
-Castro de Baroña (Porto do Son). Entrada gratuita. Bela caminhada de apenas meio quilómetro a 5 km de Porto do Son, na península do Barbanza, na província da Corunha. Ideal para um fim-de-semana a visitar as Rías Baixas (perto ficam as dunas de Corrubedo) e a comer polvo e marisco.
Nas Astúrias:
-Castro de Coaña. Na parte de fala galega das Astúrias, perto da foz do rio Navia. Excelente conjunto castrejo de época pré-romana e castrejo-romana.
-Castro de Chao Samartín (Grandas de Salime): Na parte alta do vale do Navia, perto da fronteira com a Galiza. Povoado castrejo com restos datados a partir do século VI aC até os inícios do século III após o declínio da exploração do ouro.
Espero que as sugestões sejam boas e não hesites em pedir mais informações ou corrigir aquilo que em que eu estiver errado.
;-)
Abraço.
Luís.
Boa noite, Luís!
ResponderEliminarParabéns pela tua resposta pronta!
Já estou a ver onde é o tal do Penedo Fojo. Pelo menos, a estrada a que te referes eu conheço.
Essa do nome "Santa Trega" é que me custa a engolir. Desde pequeno que estou habituado a ouvir chamar àquele monte como "Monte de Santa Tecla", em castelhano. Quando tomei consciência da realidade da língua galega e depois de o ter visitado pela primeira vez, esforço-me por chamá-lo pelo nome galego "Santa Tegra", que tenho quase a certeza o vi escrito lá no local. Digo "esforço-me" porque realmente o meu inconsciente leva-me a dizer sempre "Santa Tecla" por uma questão de habituação e porque pelo menos em Portugal nunca ouvi ninguém chamá-lo de "Santa Tegra". Agora vens tu dizer que não é "Santa Tegra" mas sim "Santa Trega"... :-(
Muito Obrigado pelas tuas sugestões de castros a visitar. Já visitei o castro de Sanfins mas nessa altura ainda não tinha garotos. O de Briteiros conheço mas nunca lá fui. Os outros desconhecia.
Por fim, penso que introduziste um erro ao aplicar as sugestões que eu fiz. Na foto 13, não se vê o lugar de Aldeia Nova mas sim o do Rosmaninho que, como eu referi no meu comentário anterior, é o "meu" lugar. Nessa foto, vê-se perfeitamente a meio a casa da minha família! :-)
Grande abraço e continuação de uma ótima semana! :)
Reis.
Obrigado pelo teu comentário e por teres gostado da informação e das sugestões. Já vou mudar o título da foto 13.
Eliminar;-)
Abraço.
Luís.
"Castro de Coaña. Na parte de fala galega das Astúrias, perto da foz do rio Navia."
EliminarHabría mucho que hablar sobre esto de "fala galega das Asturias". Estuve cinco años trabajando y viviendo en Galicia y muchos más trabajando por el oeste de Asturias y NO es exáctamente la misma lengua la que se habla. Puede tener muchas conexiones con el gallego pero en la zona de Coaña hablan una lengua de transición entre el gallego y el asturiano occidental.
Es un tema muy polémico en Asturias y más cuando hay nacionalistas-expansionistas gallegos que sueñan con incorporar la comarca Eo-Navia a Galicia.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo 2013!
ResponderEliminarHäid Jõule ja Head Uut Aastat 2013! (EE)
Buon Natale e Felice Anno Nuovo 2013! (IT)
I wish You and Your family that 'todays' will be always better that 'yesterdays' and worse than 'tomorrows'!
BOA TARDE! ADOREI TODAS FOTOGRAFIAS, FICO FELIZ POIS PROVAVELMENTE SOU DESCENTES DOS ALBUQUERQUES ,MEUS AVOS SE CHAMAVAM; JOSE VIEIRA DE ALBUQUERQUE E OTILIA VIEIRA DE ALBUQUERQUE E PAI LAFAIETE DE ALBUQUERQUE .GOSTARIA DE SABER MAIS SOBRE MEUS DESCENDENTE ,ORIGEM E FAMILIARES SE FOR POSSÍVEL. OBRIGADA DESDE JÁ OBRIGADA. ATT MARCIA SANT'ANNA
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