Na região do Alto Tâmega existem várias fortificações que deixaram o seu testemunho vivente após séculos de guerras contínuas, testemunhos mudos do que num tempo passado foram as linhas defensivas de uma fronteira maleável que era atravessada facilmente logo que havia uma guerra, semeando confusão, destruição e morte. Mas não, hoje não nos ficamos pelo lado negro da guerra, que os há, sem dúvida, mas sim pela beleza dos castelos que serviram para defender uma região aberta e sem pontos visíveis de separação como é a região do Alto Tâmega.
Falamos nesta ocasião do castelo de Santo Estêvão, na vila e freguesia do mesmo nome, no concelho de Chaves e a apenas 7,5 km. do limite com a Galiza, pela fronteira de Vila Verde da Raia, localidade e freguesia com a que limita. Embora existam restos de ocupação humana já na época romana, parece que foi nos tempos do conde D. Henrique de Borgonha, aquando do seu casamento com D. Teresa, filha de Afonso VI de Leão e Castela, que o castelo terá sido parte do dote, pelo que a região do Alto Tâmega terá passado a formar parte do Condado Portucalense, sendo que esta seria a primeira menção escrita de Santo Estêvão, lá pelo ano de 1093.
Com D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei, terá começado a construção do castelo, não sendo concluído até ao reinado de D. Sancho I. A sua filha, Teresa, casou com o rei Afonso IX de Leão, apesar de ser seu primo (motivo que levou à Santa Sé a anular o matrimónio, facto que o rei leonês só acatou depois de vários anos) e viveram no castelo outros filhos do rei como Dª. Mafalda, Dª. Sancha e o infante D. Afonso, que sucedeu o seu pai. No entanto, na sequência de uma invasão leonesa em 1211, o castelo e a localidade ficaram em mãos do rei de Leão até à Convenção de Sabugal de 1231 quando foi devolvida pelo rei Fernando III de Castela após a união das duas coroas, Leão e Castela numa só, ao rei de Portugal D. Sancho II.
Foi neste castelo que D. Afonso III casou com Dª. Beatriz, em segundas núpcias, filha do rei sábio Afonso X de Castela em 1253 residindo lá um tempo. Talvez por isso em 1258 a povoação recebeu foral e criou-se o concelho de Santo Estêvão de Chaves, iniciando-se de novo uma reconstrução do castelo. Foi aqui ainda que o rei D. Dinis recebeu a Rainha Santa Isabel. Na crise de 1384-1385, as tropas do rei D. João utilizaram o castelo para o assalto à cidade de Chaves, que era partidária de Castela. O castelo voltará a ter protagonismo uma última vez em 1666 no marco da Guerra da Restauração, em que foi seriamente danificado, sendo a localidade incendiada e arrasada. Os restos foram acrescentados à Igreja Matriz e utilizados como residência paroquial, facto que explica a sua estranha configuração.
Do castelo resta uma torre de menagem, com ameias na parte superior, janelas de estilo gótico e portas ogivais e construção em silharia flanqueada hoje por um belo jardim na fachada principal. Separada apenas por uma vivenda, a igreja matriz apresenta uma torre-sineira ou campanário que na realidade não é mais do que uma torre, talvez uma das torres que marcavam a presença da muralha, que serve para esse propósito. Assim sendo, resulta muito interessante a sua visita e, mesmo apesar dos poucos restos existentes, ainda dá para perceber como deveu ser de importante a sua posição como sentinela da fronteira e como ponto de defesa.
Obviamente, esta visita resulta óptima quando combinada com a gastronomia, a natureza da região e um património ímpar, descobrindo os pequenos recantos que escondem segredos tão agradáveis quanto este. Espero que gostem!
Foto 2. Torre de Menagem e jardim.
Foto 3. Torre-sineira da igreja matriz e canhões vistos da torre de menagem.
Foto 4. Torre-sineira e lateral da igreja matriz.
Foto 5. Fachada da Igreja Matriz.
Foto 6. Vale do Tâmega visto de Santo Estêvão.
Foto 7. Largo do Reduto (Santo Estêvão).Foto 8. Capela de Santo Estêvão.
Ver Castelos da Raia: Santo Estêvão (c. de Chaves) num mapa maior
Ver Castelos da Raia: Santo Estêvão (c. de Chaves) num mapa maior
The fortress seems still in perfect conditions. What a beautiful panorama!
ResponderEliminarO que eu não aprendo contigo. Passou várias vezes pela EN 103, no cruzamento de Santo Estevão, e nem sequer sabia que havia um castelo nesta aldeia! Também não me lembro de alguma vez ter visto alguma placa a dizer que há um castelo em Santo Estevão. Nessa mesma estrada, na direção de Bragança, há um castelo sinalizado, o de Monforte de Rio Frio, alguns quilómtros à frente. Também ainda não fui visitá-lo... :-(
ResponderEliminarEssa será a minha próxima entrada! ;-)
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