Uma das coisas que mais me apraz é dar voltinhas sem um motivo concreto, de carro, e parar naqueles lugares que mais me chamam a atenção. Isto sem ter de ser uma visita integral de uma localidade ou seguir um plano à risca. Este tipo de passeios têm o inconveniente de sentir que não acabamos de conhecer bem uma região, mas ao mesmo tempo têm a vantagem de que sempre descobrimos algo de novo naquilo que nos é muito familiar. É o que me acontece com a região ribeirinha do rio Minho. Tenho-a percorrida inúmeras vezes, tantas vezes sem conta, mas nunca me canso de voltar, porque sempre há alguma coisa a descobrir, a ter tida em conta.
A entrada de hoje pretende isso, trazer algo de sossego, em tempos turbulentos como os que estamos a viver, porque até quando temos um senso de revolta contra tantas coisas que nos desagradam, que nos parecem injustas, precisamos de uma pausa para manter a nossa cabeça fria, pensar e ordenar as nossas ideias e ver que, mesmo quando não parece haver motivos para a alegria, os que pensam que dirigem os nossos destinos, esquecem que há algo de muito comovente que não nos podem tirar: o direito a usufruir das nossas experiências vitais, o prazer de sentir a felicidade nas coisas pequenas, simples, que não custam nada ou tão pouco que é impossível não gozar com elas.
Hoje não pretendo dar mais maçada, mas partilhar o que foi parte de uma tarde aprazível de Verão em 2012, em que estive a dar um passeio pela região. À frente de Vila Nova de Cerveira fica a localidade galega de Tominho (ou Tomiño, em galego normativo), hoje com algo mais de 2 000 habitantes, que aparece na documentação medieval em 1258 como sendo parte das herdades do domínio do mosteiro de Oia, um mosteiro que fica a uns 13 km. da Guarda, sita na proximidade da foz do Minho, à frente de Caminha, famosa pela citânia de Santa Trega. Este mosteiro teve muitas propriedades na diocese de Tui, que na altura abrangia, até 1409, ambas as margens do Minho, até ao rio Lima. Daí que também possuísse herdades em Cerveira.
Obviamente, como não podia ser de outra forma, a localidade rapidamente foi alvo das razias das guerras com Portugal, designadamente na Guerra da Restauração. De facto, em 1663, o governador de armas da província de Entre-Douro-e-Minho ocupou a aldeia, que presumivelmente não voltou a mãos castelhanas até a assinatura do tratado de paz de 1668. Essa invasão permitiu ainda ocupar a vizinha vila da Guarda, o Rosal e até Gondomar da Galiza, no chamado Val Miñor. Durante esse tempo, foram acabadas as fortificações portuguesas e ainda foi construída uma ponte de barcas no rio Minho para facilitar o trânsito.
A necessidade de uma fortaleza mais reduzida e mais prática, levou o rei Filipe IV à construção do Forte de San Lourenzo, mesmo à beira do rio Minho, para a defesa da fronteira, que ficou concluído em 1672. Teve alguma importância na Guerra Peninsular, caindo depois em desuso. Mesmo ao lado existe uma praia fluvial e o cais onde parava o antigo «ferry-boat» que fazia a ligação entre Vila Nova de Cerveira e Goián até ao ano de 2004 quando abriu ao trânsito a «Ponte da Amizade». Hoje o antigo ferry é um restaurante e café ancorado no cais de Cerveira.
O lugar é frequentado não apenas no Verão para usufruir de um bom banho, mas também pelos pescadores dos dois lados do Minho, designadamente na pesca da lampreia, um pitéu muito conceituado na região. É ainda um lugar de cultura da vinha, nomeadamente da casta Alvarinho, que também está espalhada na Galiza nos vinhos brancos da DOP Rias Baixas. A diferença com os vinhos portugueses da casta Alvarinho, da Sub-região de Monção e Melgaço da DOP dos Vinhos Verdes é que os vinhos resultam mais azedos, consoante a sua latitude (mais quanto mais a norte) e segundo recebam mais ou menos luz. Por exemplo, os vinhos da região do Rosal, são mais parecidos com os alvarinhos portugueses, mas a sua situação a sul, menos exposta ao sol da tarde no Verão, fazem com que os vinhos tenham mais alguma acidez. Obviamente influi em tudo o «savoir-faire» de cada região no produto final.
O lugar resulta ideal para um passeio pela região, combinado com outras localidades como a própria Vila Nova de Cerveira, Caminha, Valença, Tui ou A Guarda e o que há de bom é que pode ser visitada durante todo o ano, porque cada estação tem o seu charme.
Foto 2. Forte de San Lourenzo com vistas para V. N. de Cerveira.
Foto 3. V. N. de Cerveira vista do cais de Goián, no rio Minho.Foto 4. Praia fluvial no Minho, com Gondarém ao fundo e a Serra de Arga,
Foto 5. V. N. de Cerveira, o antigo cais e a Serra da Gávea ao fundo.
Foto 6. Cervo da Serra da Gávea.
Foto 7. Videiras da casta Alvarinho em Goián, já perto da Ponte da Amizade.Ver Paisagens da Raia: Goián (c. de Tominho, Galiza) num mapa maior
Ver Paisagens da Raia: Goián (c. de Tominho, Galiza) num mapa maior
¡Qué recuerdos!. Pasé unos cuantos meses trabajando por toda esta zona en el año 1987.
ResponderEliminarApart from a bridge, it seems that until the end of the river to the ocean life of Portugal runs on in a separate way from Spain. Interesting indeed.
ResponderEliminarBest wishes.
Conheço bem toda esta zona, mas ainda nunca fui a este forte. Tentarei visitá-lo na minha próxima ida a Caminha. :)
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