domingo, 15 de novembro de 2009

Fronteiras: Pomarão/El Granado

Perto das terras algarvias, onde o Guadiana volta a ser um rio fronteiriço, encontramos uma nova fronteira entre o porto do Pomarão e a localidade andaluza de El Granado. Trata-se de uma fronteira muito nova, já que a ponte de ligação entre ambas as duas localidades foi inaugurada em 26 de Fevereiro de 2009, sendo estas fotografias tiradas nas mini-férias de 1 de Maio. É, por tanto, uma oferta em exclusivo para todos os nossos leitores (parece que estou a anunciar uma revista. Eheheheh.)

Esta nova passagem transfronteiriça situa-se mesmo no Pomarão, pequena aldeia do concelho de Mértola, no Baixo Alentejo e que até hoje não tinha qualquer ligação com as vizinhas aldeias andaluzas. Trata-se de uma região de transição. A planície alentejana fica uns quilómetros a Norte, podendo aceder a esta aldeia de Mértola o de Minas de São Domingos. Essa monotonia é quebrada, subitamente, e a planície cai bruscamente formando encostas montanhosas sobre o Guadiana, que recorre a região, e que, após um grande meandro, volta a converter-se em rio fronteiriço, desta vez, já até à sua foz em Vila Real de Santo António/Ayamonte. Dominando esse meandro e no fundo, encontra-se a aldeia de Pomarão, banhada não apenas pelo Guadiana, mas também pelo Chança ou Chanza, rio fronteiriço na maior parte do seu curso e que desagua no Guadiana após formar uns metros mais acima uma grande barragem.

É por isso que esta região é de transição: A Norte a essência do Baixo Alentejo, para Leste, a Andaluzia espanhola de sevilhanas e olé, a Sul, o Sotavento algarvio fica a nossa espera para uns banhos em praias aprazíveis e umas cataplanas de peixe e marisco. É Alentejo mas não é Alentejo... a planície já lá foi!

Pomarão surge como uma aldeia ligada ao tráfico portuário. De lembrar que as marés permitem a navegação pelo Guadiana até este ponto (com maré alta é possível a navegação até Mértola), sendo que hoje esta localidade é ponto de partida de cruzeiros pelo rio, com visitas para Alcoutim, Sanlúcar de Guadiana e Vila Real de Santo António. Resulta uma óptima escolha para os meses de Maio e Junho, quando ainda não chegaram os rigores do Verão, com temperaturas escaldantes. Várias empresas disponibilizam o passeio em barco e um almoço em restaurantes locais, o que resulta uma delícia e uma experiência não direi única mas sim diferente.

O desenvolvimento da aldeia teve muito a ver com as minas de São Domingos que exportavam pirites pelo que se construiu um cais e uma linha ferroviária entre Minas de São Domingos e Pomarão. Com o encerramento das minas, ambas as aldeias entram em decadência, sendo que hoje tentam explorar os seus encantos turísticos.

Para além dos passeios em barco pelo Guadiana, a região oferece muito mais do que isso. Podemos mergulhar numa experiência que aúna luxo e sossego ficando hospedados na Estalagem São Domingos a um preço muito razoável dentro da sua categoria ou promoções especiais que podem ser vistas no site do hotel. Mértola fica a dois passos, com o seu castelo e, sobretudo, a sua igreja-mesquita, da época muçulmana e adaptada após a reconquista portuguesa, e que lembra os tempos da Mértola dos reinos de taifas, em que atingiu o seu máximo apogeu. Ou o vizinho Pulo do Lobo, uma cascata fluvial que apresenta uma queda de mais de 20 metros formada pelas águas do Guadiana.

Seja como for, trata-se de uma região a descobrir, onde é possível encontrar o máximo requinte e a simplicidade das coisas singelas num mesmo lugar.

Finalmente, como é costume neste blogue, damos as boas vindas aos nossos assinantes. É a vez de Toni, um blogueiro especializado em crítica gastronómica de restaurantes, designadamente espanhóis (com destaque para restaurantes asturianos), mas também de outros países europeus, incluindo Portugal num blogue em que ele é um dos autores e pode ser consultado aqui.

Foto 1. Fronteira espanhola de El Granado vista da ponte sobre o Chança.
Foto 2. Fronteira portuguesa de Pomarão (c. de Mértola).
Foto 3. Barragem do Chança.
Foto 4. Vista geral da ponte e do Pomarão.
Foto 5. Vista da nova ponte sobre o Chança (parte espanhola).
Foto 6. Foz do Chança e meandro do Guadiana.
Foto 7. Vista do Guadiana e do Pomarão.
Foto 8. Meandro do Guadiana e instalações portuárias.
Foto 9. Vista do Guadiana perto do Pomarão com a nova estrada espanhola à esquerda.
Foto 10. Vista da barragem do Chança antes de chegar ao Pomarão com as montanhas de Huelva ao fundo (Andévalo).


Ver Fronteira do Pomarão num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

8 comentários:

  1. Muito obrigado pelas boas vindas ao blog, ainda que já seja veterano visitante. :-)
    Desculpas por meu português que é muito pior do que teu perfeito espanhol.

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  2. Es una muy buena noticia que haya nuevos enlaces entre los dos lados de la raya y sobre todo en esa zona tan maltratada por ambos países.

    Siempre recuerdo con asombro que entre Vila Real y Ayamonte no hubiera puente hasta 1991 si no recuerdo mal. Increíble.

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  3. ¿Entre Pomarão y Mesquita hay carretera?.

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  4. Eso, eso. Así se empieza. Muito bem!
    Me refiero a escribir en portugués. Je. Je. Je. Lo de mi "perfecto" español, lo vamos a dejar ahí, pero habiendo vivido unos años en España y estando en plena Raya, no tiene tanto mérito.

    Y sí, todo lo que sea comunicar, siempre es positivo. Lo de VRSA y Ayamonte era algo sangrante, pero afortunadamente ya está solo en nuestra memoria...

    Y no, no hay carretera. Hay que ir hasta Mértola. Otra opción es coger una lancha y cruzar el Guadiana como entre Alcoutim y Sanlúcar, otro caso sangrante también...

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  5. Como habitualmente, excelente post de uma região de Portugal que eu praticamente não conheço. Apenas uma vez, em 1997, percorri o Guadiana por estrada desde Vila Real de Santo António até Mértola. Pelo que vejo no texto e pelo mapa do Google que agregaste ao post, entre essas duas localidades não existe nenhuma outra ponte sobre o Guadiana, certo? Se for verdade, não nos podemos admirar que essa região seja talvez a mais subdesenvolvida no nosso país... :-(

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  6. As últimas pontes sobre o Guadiana são a ponte que liga Mértola com Minas de S. Domingos e o Pomarão, e a ponte internacional do Guadiana Monte Francisco (c. Castro Marim) e Ayamonte (Huelva). Portanto, não existe nenhuma ligação terrestre entre estes dois pontos em ambas as margens do rio, visto que a ponte do Pomarão é sobre o rio Chança e não sobre o Guadiana, mesmo que esteja situado na própria foz. É claro que esta região é pouco desenvolvida, mas é-o ainda a região do Andévalo, que abrange grande parte da província de Huelva, que talvez até seja ainda menos desenvolvida do que esta parte do Baixo Alentejo e o Algarve Interior. Mas por isso resulta muito interessante, por guardar ainda as essências de um mundo, prestes a desaparecer, que uma vez vimos de catraios e que gostamos de voltar a ver para reencontrar-nos com a nossa, espero feliz, infância.

    Existe um projecto transfronteiriço para uma ponte entre Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana, ponte reclamada já na década de setenta, mas obviamente, apesar da existência de fundos Interreg, de carácter transfronteiriço, só está concluída a ponte do Pomarão/El Granado e meio concluída a ponte de S. Marcos/Paymogo, da qual já falei recentemente. Desta não há notícias e suponho que cairá no esquecimento, pelo menos por uns anos, com isto da crise. É pena. Ainda bem que temos pelo menos os velhos ferries que fazem o percurso entre ambas as localidades!

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  7. As regiões menos desenvolvidas como o Alentejo e aqui Trás-os-Montes têm a grande vantagem de manterem o seu encanto original, que hoje pode ser bem explorado através de actividades de turismo rural, de natureza, histórico, etc. Valha-nos ao menos isso!
    Tem piada porque também tenho a sensação de que, apesar de tudo, as regiões das províncias de Zamora e Salamanca fronteiriças com Portugal ainda conseguem ser menos desenvolvidas do que as do lado de cá no distrito de Bragança. Isto talvez tenha a ver com a política espanhola de apostar mais em centros urbanos de pequena e média dimensões em detrimento de muitas pequenas vilas de reduzida dimensão. Digo eu, vá...
    Tenho ouvido falar dessa hipotética ponte de Alcoutim há já muitos anos. O problema dessa região, relativamente às pontes, é que o rio Guadiana é aí muito largo e qualquer ponte que se faça será sempre de grande dimensões. com os consequentes custos de grandes dimensões. Como aí a população é de "pequena dimensão", está-se mesmo a ver porque existem tão poucas pontes sobre o Guadiana... :-(

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  8. Sim. Eu também acho que algumas regiões das províncias de Zamora e Salamanca parecem muito menos desenvolvidas do que as portuguesas vizinhas. Na província de Zamora ainda temos a «comarca» de Sanábria que, em termos gerais, apresenta um nível de desenvolvimento em aparência melhor com o seu património melhor conservado. Já da «comarca» de Aliste não se pode dizer o mesmo, com aldeias com infra-estruturas bastante pobres e o mesmo se pode dizer de Saiago, a «comarca» que fica na outra margem do Douro, a Leste de Miranda.

    Mas onde eu notei mais a diferença é na província de Salamanca. A excepção de Ciudad Rodrigo e alguma aldeia que outra, ou alguma vila melhor conservada, em geral, o panorama é assaz deprimente: aldeias com pavimento de betão, com muitas casas a ruir, etc. E isso que não faltam paisagens bonitas como a cascata do Pozo de los Humos (aldeia de Masueco, das melhor conservadas), entre a barragem de Bemposta e à de Aldeadávila (De Portugal é fácil o seu acesso a partir da fronteira de Bemposta, e dá para uma bela caminhada de 4 km. que vale a pena ou de 600 m. se formos afoitos é levarmos o carro por um caminho de terra batida até às redondezas. Na primavera, depois das chuvas é espectacular, mas duvido este ano com a seca. Dizem que lá nunca nevou!), e um património etnográfico com algum interesse.

    O mesmo acontece com as aldeias do Alentejo e as aldeias da Extremadura espanhola e a Andaluzia. A excepção de algumas, muitas deprimem também.

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