quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Curiosidades fronteiriças: Montinho das Laranjeiras

 Rio Guadiana abaixo, já em terras algarvias, nesse Algarve interior, pouco conhecido, deparamo-nos com uma verdadeira jóia arqueológica: o Montinho das Laranjeiras.

Situado a uns 6 km. a sul de Alcoutim, este sítio arqueológico mostra-nos visões de momentos da nossa História antes de Portugal vir a ser Portugal. Aceder ao lugar é muito fácil: baste seguir a EM567 que segue junto ao rio Guadiana, a partir de Alcoutim, ficando, como já foi dito, a 6 km. da localidade à beira da mesma estrada. Além do mais, não há escusa para não fazer uma visitinha porque o acesso é gratuito e passear entre as ruínas existentes não demora mais do que 15-20 minutos.

A particularidade deste lugar reside na sua situação numa planície não muito larga, já que o Guadiana apresenta nesta região uma disposição menos suave, com pequenas montanhas que caem para o rio sem apenas zona ribeirinha. E é que, embora perto da sua foz, ainda não conseguimos imaginar a ampla zona de sapal e salinas que a caracterizam no seu curso mais inferior e isto apesar de nesta região fazerem-se sentir as marés no rio, facto que o converte num rio navegável como já dissemos noutros 'posts' até ao Pomarão em qualquer circunstância e até Mértola em maré alta.

Provavelmente seria essa condição de navegável do rio o que teria feito desenvolver neste cantinho uma unidade de povoamento que integra três áreas distintas de ocupação contínua e de interacção desde o século I ao século XIII.

A villa romana, onde se identificam estruturas quadrangulares por vezes associadas a pátios centrais em torno dos quais se dispõem outros compartimentos, terá tido inicio construtivo no século I e está associada a actividades agrícolas, piscatórias e a rotas comerciais com Mértola e com o Norte de África.

As estruturas de uma igreja apontam para ocupação visigótica - séculos VI-VII. De planta cruciforme é das mais antigas conhecidas na Península Ibérica, deste tipo, apresentando ainda vestígios de utilização posterior. Uma terceira área é formada por um conjunto de casas islâmicas do período almóada séculos XII-XIII.

A sua situação privilegiada na margem direita do Guadiana faz-nos apreciar as montanhas circundantes, o cultivo da oliveira, muito estendido nesta região, e as vizinhas serras situadas além Guadiana, já em Espanha, em Huelva, uma das províncias da Andaluzia.

De resto, podemos continuar a nossa viagem e desfrutar dos meandros do Guadiana, bem como das vistas da vizinha foz do Odeleite, o último afluente importante do Guadiana antes de desaguar no Atlântico ou bem, se nos dirigirmos para Norte, visitar a vila de Alcoutim e fazer o passeio de barco entre Alcoutim e a localidade andaluza de Sanlúcar de Guadiana. Claro que sempre haverá a opção de fazer um pequeno cruzeiro pelo Guadiana a partir de Vila Real de Santo António onde encontraremos várias opções e preços, com ou sem refeição, tudo ao gosto do freguês e do seu bolso, é claro! Seja como for, a visita destas terras arraianas resulta especialmente reconfortante na Primavera, nos meses de Maio e Junho, quando ainda não sentimos a canícula do interior no Verão, mas sim um calor agradável que pode acabar com um banho na praia mais próxima como cereja no topo do bolo. É só experimentar!

 Foto 1. «Casa do senhor». Vila romana.
 Foto 2. Vista parcial da basílica.
 Foto 3. Basílica paleocristã ou visigótica.
 Foto 4. Vista do rio Guadiana e da margem espanhola (esquerda do rio).
 Foto 5. Vista geral do sítio arqueológico.
Foto 6. Celeiro e casas dos camponeses


Ver Montinho das Laranjeiras num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.

P.S. Damos ainda as boas-vindas à nossa nova amiga Pille no blogue. Esperemos que sejam mais!

2 comentários:

  1. Interesante. No lo conocía.

    De esa zona me gustó Alcoutim/Sanlucar. Estuve por allí hace unos 12 años.
    En un programa de televisión vi hace unos años que había bastante gente portuguesa que vivía en Sanlucar porque decían que era mucho más barato vivir allí ya que pagaban menos de alquiler, de luz, de gas, etc. Me llamó mucho la atención.

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  2. En Fuentes de Oñoro el 40% de la población es portuguesa. En Elvas y Csmpo Maior hay muchas familias españolas que han comprado piso/casa porque les resulta mucho más barata la hipoteca. También se da ese fenómeno aunque con menos intensidad con gallegos que tienen propiedades en municipios como Valença.

    Es lo que tiene ser «arraiano», que puedes aprovecharte de las ventajas de uno y otro lado...

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