A Leste do concelho de Montalegre, em pleno planalto barrosão, encontramos a aldeia de Vilar de Perdizes. Esta aldeia raiana fica perto da Serra do Larouco, que faz de limite com a Galiza, mas por contraste com a maior parte das aldeias do município barrosão, não faz parte da bacia do Cávado, mas sim do Douro, mais exactamente do Tâmega, sendo que alguns dos seus afluentes nascem nestas terras.
Do ponto de vista geográfico, limita a Norte e a Leste com a Galiza, com quem está ligada por intermédio da estrada da Xironda (ou Gironda, em português e em galego reintegracionista). A Sul limita com Meixide, também sede de freguesia, e a Oeste com Santo André, que também possui a sua ligação com a Xironda, sendo que é possível fazer um circuito completo entre estas três aldeias. Por estar situada nesta parte do planalto barrosão, a aldeia encontra-se num pequeno declive iniciado mesmo no ponto em que se rompe o planalto para dar lugar depois a encostas nas que discorrem o rio Porto de Rei e o rio Assureira que se juntam já no concelho galego de Oimbra, antes de desaguar no Tâmega.
A aldeia resulta interessante pelas suas características. Com pouco mais de 500 habitantes consegue, no entanto, parecer bem maior pelo facto de na realidade estar formada por três bairros que no seu tempo eram aldeias próximas mas separadas umas das outras, mas agora, como resultado das novas construções, esse facto é muito mais difuso. Esses bairros ainda formam parte da realidade da aldeia pelo que encontramos o bairro de Sameiro à Norte, Cimo da Vila à Sul e Caria no meio, sendo que fazia parte da chamada Honra de Vilar de Perdizes, que contava com mais de 1 000 habitantes no início do século XIX e abrangia esta aldeia e as vizinhas de Santo André e Solveira.
A sua História, no entanto, remonta-se a tempos pré-históricos, já que contamos com restos de gravuras rupestres nas Pegadas da Burrinha da Nossa Senhora e no Penedo de Caparinho e ainda uns lagares rupestres em Santa Marinha. Da época romana são as inscrições do Altar de Penascrita e do Penedo de Rameseiros. Na Idade Média formou parte do Couto de Ervededo, sendo que em tempos, metade da aldeia pertenceu à Galiza e a outra a Portugal, acabando finalmente por passar por inteiro para o domínio português no marco das lutas entre a diocese de Braga e a diocese de Ourense pelo território de Baronceli.
O seu carácter arraiano constata-se no casario tradicional e até na igreja matriz, em honra de S. Miguel. A factura da igreja é claramente portuguesa, mas o remate da igreja, em forma de pequena cúpula, remete-nos para o barroco de tipo galaico, que seguia o estilo da fachada barroca da Sé de Santiago, do século XVIII. A casa tradicional, como não podia ser de outra forma, costuma ser construída em pedra de granito, tendo algumas essa influência galaica da que falávamos, como é o caso de pintar os bordes dos blocos de pedra com que estão construídas. Consta ainda de um Paço, esse com um forte carácter português, que tinha várias dependências e até capela própria, o que da conta da importância económica da família proprietária, sendo que o solar foi berço de filhos d'algo, e junto do qual floresceram o Hospital e
a Capela de Santa Cruz, destinados a prestar apoio físico e espiritual
aos peregrinos de Santiago de Compostela e do Cristo de Ourense que por
ali passavam, vindos dos lados de Chaves, Alto Douro, Beiras e Castela.
A aldeia consta de vários cafés e restaurantes e até alojamento de tipo rural, mas, sem dúvida, o que singulariza esta aldeia de outras é a celebração anual do Congresso de Medicina Popular impulsionado pelo padre Fontes e que teve em 2011 a sua 25ª edição, não sendo isento de alguma polémica por tratarem-se nele questões relacionadas não apenas com chás e plantas medicinais, mas também de tópicos que têm a ver com bruxaria, mau-olhado e outras práticas que o mundo científico costuma olhar com muito receio quando não com negatividade.
Seja como for, a aldeia pode ser o ponto de partida para caminhadas e visitas a aldeias vizinhas, quer do Barroso, quer da Galiza não podendo faltar, é claro, um bom almoço com posta de vitela barrosã, de fazer água na boca. E se a visita for no Verão, na estrada para a Xironda existe um pequeno parque de merendas na beira do rio Porto de Rei onde existe um pequeno estanque formado por um açude em que podemos tomar um fresco banho no meio da quentura desses dias tórridos que por vezes açoitam a região. Ou se preferir, converse com algum dos seus habitantes sobre histórias e estórias do contrabando, que tanto marcou a economia da região durante décadas.
Foto 2. Lateral da igreja matriz. Veja-se a cúpula de tipo galaico.
Foto 3. Vista da aldeia entre o Cimo da Vila e Caria. O bairro de Sameiro fica ao fundo.
Foto 4. Casario tradicional da aldeia, com algumas casas de tipo galaico.
Foto 5. Outra vista da aldeia.
Foto 6. Rua do Valado.
Foto 7. Paço de Vilar de Perdizes.
Foto 8. Igreja e antigo hospital.
Foto 9. Rua do Paço.
Foto 10. Vista da aldeia da Av. Central.
Foto 11. Av. Central e Travessa do Aluar.
Foto 12. Ponte sobre o rio Porto de Rei, na estrada para a Xironda.
Foto 12+1 (não vá o Diabo tecê-las!). Parque de merendas e estanque sobre o rio.
Ver Vilar de Perdizes: aldeias raianas num mapa maior
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