segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Localidades raianas: A Xironda

Se há poucos dias falávamos de Vilar de Perdizes, hoje vamos fazer o mesmo com A Xironda (ou Gironda), aldeia galega pertencente ao concelho de Cualedro. Situada também perto da Serra do Larouco, a aldeia localiza-se numa espécie de planalto que desce suavemente para o vale do Tâmega, bacia da qual faz parte.

A aldeia é mais pequena em extensão e em população, contando com uns 350 habitantes e com boas ligações para o resto do concelho e para as aldeias barrosãs de Vilar de Perdizes e Santo André. O casario apresenta-se mais modificado do que em Vilar de Perdizes, pelo que para encontrar casas tradicionais temos de procurar pelo centro da aldeia normalmente intercaladas entre construções modernas e por vezes abandonadas, encerradas ou servindo como currais para guardar lá o gado o como garagens e armazéns. Como nas citadas aldeias, a agricultura e pecuária ainda é a actividade económica principal, seguida dos serviços básicos (comércio, hotelaria, serviços de saúde, etc.). É interessante destacar o facto de que nalgumas casas ainda se conserva o cultivo da oliveira, o que de resto, resulta excepcional na Galiza, mas não assim nas aldeias portuguesas da fronteira. Isto mostra que esta cultura deveu estar mais estendida nesta região galega em tempos, sendo que hoje encontra-se em franco declínio e a sua conservação pode ser devida à influência portuguesa, sempre presente, ou como amostra do último rescaldo de uma actividade hoje quase extinta.

A localidade conta com uma bela igreja matriz em honra de S. Salvador, de factura barroca, em granito, que não se diferencia muito das igrejas paroquiais portuguesas vizinhas, talvez porque aqui, a Raia é, sem dúvida, mais difusa do que noutros lugares, pelo que podemos encontrar traços de transição de um e do outro lado da fronteira nestas aldeias arraianas. Se Vilar de Perdizes apresentava elementos que lembram a Galiza, não admira que A Xironda apresente características semelhantes às aldeias portuguesas vizinhas.

A casa tradicional, parecida em forma com as casas que podemos encontrar em Vilar de Perdizes, costuma ser construída em pedra de granito, com blocos irregulares, existindo ainda a casa moderna com lajes de granito que cobre essencialmente uma casa feita de tijolos na qual aparecem as típicas linhas pintadas em branco (ou preto, nalguns casos) a delimitar cada laje. O forno comunitário é outro dos elementos mais característicos da sua arquitectura popular, com lajes de pedra e contrafortes. 

Para além da igreja matriz, na arquitectura religiosa encontramos a Capela de S. Ciriaco, do século XVIII, também em pedra de granito com presbitério e cruz de pedra. Uma mistura da arquitectura religiosa e popular é o chamado «peto de ánimas», um nicho no qual repousa uma imagem em pedra de Nossa Senhora do Carmo com duas almas na parte inferior e com um bispo e o papa contornando a imagem a ambos os dois lados, cobertos pelas chamas do fogo do purgatório. 

Na estrada para Santo André, em plena fronteira, pode visitar-se ainda a vila romana de Grou, situada já ao sopé da Serra do Larouco, mesmo onde acaba o planalto que se estende por esta região fronteiriça.

 Desta aldeia destacam como tradições populares o tradicional magusto (em galego magosto) das castanhas e as «mázcaras» do Entrudo, conhecido em galego como Entroido. Trata-se de máscaras muito coloridas, de forte sabor pagão, como são, aliás, todas as celebrações relacionadas com o Carnaval e que apresentam muitas semelhanças com as de Cualedro, Verín, Laza ou Xinzo de Limia mas com as suas características particulares de cada localidade e que recebem respectivamente os nomes de zarramanculleiros, cigarróns, peliqueiros e pantallas.

Da sua gastronomia importa referir a batata, que tem destaque na economia local, já que o concelho está abrangido pela Denominação de Origem Controlada da batata da Límia, de excelente sabor e óptima para cozer e acompanhar nos pratos mais importantes da gastronomia galega, recebendo estas patacas cozidas o nome de cachelos e caracterizadas por ser firmes e com pouco farelo, pelo que não se desfazem na cozedura. A videira também está presente nos vinhos de Monterrei, que abrangem todo o vale do Tâmega galego com principalmente vinhos brancos com algumas casta portuguesas como é a Trajadura (treixadura em galego) ou Dona Branca e tintos com castas como a Bastardo, também própria dos vinhos da região de Chaves. Quem desejar experimentar a gastronomia da região pode fazê-lo nalguma tasca do concelho. Não deve deixar de provar os clássicos pratos galegos como o caldo galego, o pote galego (com batata, feijão, couve galega e orelha de porco) ou, é claro, o polvo à feira (com ou sem cachelos).

Razões mais do que suficientes para dar uma voltinha por estes lados.
 Foto 1. Igreja matriz.
 Foto 2. Lateral direito da igreja.
 Foto 3. A aldeia vista do adro da igreja.
 Foto 4. Lateral esquerdo da igreja.
 Foto 5. Casas tradicionais vistas da cabeceira da igreja e panorâmica do planalto.
 Foto 6. Casas tradicionais situadas perto da igreja matriz.
 Foto 7. Capela de S. Ciriaco.
 Foto 8. Esplanada da capela com vistas para a aldeia e a igreja matriz.
 Foto 9. Mais casas tradicionais no centro da aldeia.
Foto 10. Outras formas de arquitectura popular.



Ver A Xironda (aldeias raianas) num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.

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