Um dos castelos da Raia mais desconhecidos é o Castelo de Miraflores, na localidade de Alconchel, na Extremadura espanhola. Até porque poucos o reconhecem como castelo raiano. Mas, para além da sua beleza intrínseca, vale a pena visitá-lo e situá-lo no seu contexto histórico.
Para quem vem de Portugal, tem dois acessos ao seu dispor: um por Olivença, depois de passar a ponte da Ajuda, e outro pela fronteira de São Leonardo (Mourão) e Villanueva del Fresno. Para quem vem de Badajoz, é muito fácil: segue pela estrada de Olivença e depois continua pela estrada de Olivença até Villanueva del Fresno. Alconchel fica a uns 20 km. a Sul da vila oliventina. O acesso faz-se por uma estrada local que fica mesmo antes da chegada à localidade, vindo de Olivença. Rapidamente encontramos o castelo e as magníficas vistas que explicam a sua importância estratégica.
Agora um pouco de História. Parece que o morro ou outeiro em que fica o castelo já foi povoado em tempos pré-romanos, na época romana e na época visigoda. Mas será com a queda do Califado de Córdoba e a formação do reino aftasi de Badajoz que este lugar começou a adquirir mais importância do ponto de vista estratégico. Já o emir 'Abd-al-Rahman (Abderramão) II (822-852) tinha construído uma fortaleza para defender o território das razias dos exércitos do reino das Astúrias, depois reino de Leão. Os reinos de taifas que surgiram após a desaparição do Califado estavam muitas vezes em guerra entre eles pelo controlo do território e é nesse sentido que devemos ver a reparação e ampliação da fortaleza de Alconchel.
No século XII, após a conquista de Évora para Portugal em 1165, Geraldo Sempavor ocupa a fortaleza o ano seguinte junto de outras como as de Mourão, Serpa e Juromenha na tentativa de ocupar Badajoz que acaba com o famoso «desastre de Badajoz» em 1170 quando o rei D. Afonso Henriques, a ponto de ocupar a alcáçova, é ferido a causa da aliança do seu genro Fernando II de Leão com os almóadas. O castelo esteve na posse dos leoneses até 1174, em que os almóadas o recuperaram e iniciaram trabalhos de ampliação. Não seria até à década 1230 com a tomada de Badajoz pelo rei Afonso IX de Leão que o castelo e a localidade entrem a formar parte do reino de Leão e com o rei Fernando III, rei de Castela e Leão, faça doação do castelo à Ordem do Templo, que gerirá esta propriedade doada como «juro de herdade e para sempre» até à sua dissolução em 1311.
Entretanto, o Tratado de Alcanices de 1297 fez com que os territórios de Olivença e Táliga passassem para a dominação portuguesa, facto que converterá este castelo em fortaleza fronteiriça. Não devemos esquecer o facto de a fronteira ter-se situado 5 km. a Norte da localidade e 4 a Leste, na direcção de Táliga. Isso fará com que a relevância do castelo aumente de forma considerável. Tomado pelo rei D. Dinis em 1311, a partir de 1313 vai passar a mãos de diferentes casas da nobreza castelhana. As guerras de Portugal com Castela terão grande importância, designadamente nos séculos XVII, XVIII e XIX. O castelo e a vila de Alconchel serão alvo de duas ocupações portuguesas no contexto da Restauração em 1642 e 1643. Será ainda ocupada pelo exército francês aquando da Guerra Peninsular até 1812. Acabada a contenda, a fortaleza perde a sua importância pela anexação de Olivença a Espanha pelo Tratado de Badajoz de 1801 e pelo facto de a vida municipal focalizar-se na Câmara (Ayuntamiento) situada na vila, ao sopé do castelo.
De factura essencialmente gótica, o castelo consta da torre de menagem muralhas e ameias e segue uma tipologia construtiva que podemos observar no castelo de Juromenha ou o castelo de Alburquerque. Consta ainda de algibe ou cisterna de tipo mudéjar para assegurar o subministro de água em épocas de seca ou em cercos ao castelo. Foi alvo de restaurações recentes por parte do Governo da Junta da Extremadura.
A visita do castelo vale a pena pelo não só pela sua beleza, mas também pelas vistas que se apreciam para a vila de Alconchel, a planície que se estende até Olivença e a planície que de Alconchel chega até perto de Táliga e outras aldeias vizinhas. É possível ainda apreciar pequenas serras como a Serra de Montelongo e da Faragosa a Leste, a Serra de Santo Amaro, perto de S. Bento da Contenda (oficial San Benito de la Contienda), e o vizinho Cerro de la Esperanza.
Foto 1. Vista geral do castelo de Miraflores.
Foto 2. Vista da muralha e as ameias do lateral Oeste.
Foto 3. Porta de entrada ao castelo.
Foto 4. Torre de Menagem.
Foto 5. Vista parcial do castelo (parte Norte).
Foto 6. Vista da planície até Olivença com a Serra de Santo Amaro ao fundo e a Serra de Montelongo à direita.
Foto 7. Pôr-do-sol e Cerro de la Esperanza vistos do castelo.Foto 8. Muralhas do castelo com vistas para a planície de Alconchel.
Foto 9. Vila de Alconchel vista do castelo de Miraflores.
Foto 10. A planície (Sul) vista do castelo em direcção às aldeias de Táliga e Higuera de Vargas.
Ver Castelo de Miraflores (Alconchel) num mapa maior
Ver Castelo de Miraflores (Alconchel) num mapa maior
Mapa 2. Mapa específico.
Impresionante. No lo conocía. ¿Se puede visitar el interior?.
ResponderEliminarSí, está abierto hasta las seis de la tarde. En mi caso, como llegué unos minutos más tarde, no pude ver su interior, pero ya por las vistas, vale la pena.
ResponderEliminarQue palavras hei-de usar??? Mais um excelente texto sobre a nossa esquecida fronteira e a sua história! Os meus sinceros parabéns! Apesar de o texto tratar de um ponto da nossa raia que eu desconheço complestamente (para muita pena minha... :-( ), li com muito interesse. Pelo que eu percebi, esse castelo foi fronteiriço durante o período em que o território de Olivença estava plenamente integrado no Reino de Portugal. Por isso, imagino que o traçado fronteiriço oficialmente reconhecido pelo Estado Português passa muito perto do castelo. A propósito, não sei se devo perguntar, mas aqui vai à mesma: qual é a tua opinião sobre a Questão de Olivença?
ResponderEliminarGrande abraço! :-)
Sim. Com certeza. Este castelo ficava a uns 4 km. da antiga fronteira de Olivença, pelo qual era fronteiriço do lado da Coroa de Castela. Esta entrada foi mais uma forma de mostrar o outro ponto de vista. Quanto à questão de Olivença, não vou fazer cá nenhuma declaração porque este blogue não é político e e lido por leitores de todo o mundo. Por nada quereria causar atritos desnecessários com isto. Mas como pediste a minha opinião, vou enviar-te um MP pelo teu perfil do Facebook, ficando esta questão entre nós.
ResponderEliminarFazes muito bem em manter o teu blog apolítico. Afinal, certamente terás leitores com todo o tipo de opiniões, e o que tu queres é que eles continuem a encontrar aqui motivos de interesse para continuar a voltar ao blog (como eu! :-) ) e não razões para deixar de cá aparecer! Apoio a 100%! :-)
ResponderEliminarÉ claro que é isso que pretendo. Com certeza. ;-)
ResponderEliminareu gostaria de saber quem construiu esse castelo e em que ano
ResponderEliminarComo indica a entrada, pelos vistos já havia uma fortaleza muçulmana na época de Abd-al-Rahmão II (séc. IX) mas é-nos desconhecida a autoria da construção. Provavelmente foi feita pelos soldados do exército do emirado de Córdova, sendo que depois foi repetidamente remodelado em fases posteriores.
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