Com este primeiro post pretendo iniciar uma série histórica sobre fortalezas da Raia, já que a fronteira foi muito mais do que simplesmente uma linha ou um traço em uma terra qualquer.
No cimo de um outeiro com vistas ao rio Guadiana, ergue-se sobranceira, a fortaleza de Juromenha, situada na freguesia de Nossa Senhora do Loreto, no concelho de Alandroal. Juromenha é hoje uma pacata aldeia alentejana longe da "civilização", que conta com apenas cerca de 150 habitantes que se espalham pelo espaço extra muros circundante.
A História desta localidade perde-se na noite dos tempos. Há uma lenda que diz que um conde, nos tempos dos Godos, tinha uma irmã muito bela. O conde, cheio de desejos libidinosos, propus à irmã ter relações, coisa à que a tal se negou em rotundo aceder a tais proposições incestuosas. Muito irado, prendeu-a e meteu-a na cadeia para quebrar a vontade dela no que hoje é a actual localidade. A tal irmã tinha o nome de Menha. Quando o conde mandava seus criados ter com ela para ver se tinha mudado de parecer, ela dizia firmemente: "Jura Menha que não". E assim ficou o nome de Juromenha.
É claro que isto é apenas uma lenda, mas o fundo da História pode ser real. É muito provável que a região estivesse dominada por algum aristocrata hispano-romano como propietário dos latifúndios que, como todo o mundo sabe, são uma marca de identidade do Alentejo. Temos notícias de que Juromenha era chamada de Julumaniya sob a dominação muçulmana e que foi alvo de atenção das tropas de D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei. Após a conquista de Évora em 1165 com a ajuda de Giraldo Sempavor, as tropas portuguesas ocuparam a vizinha Elvas e Juromenha em 1167. Foi então quando D. Afonso Henriques tentou o cerco de Badajoz em 1170. Prestes a tomar a alcáçova, apareceu nesse momento o rei de Leão, Fernando II, genro do nosso rei, que considerava a cidade, segundo o Tratado de Sahagún de 1158 assinado com o seu irmão Sancho III de Castela como parte do território à que tinha direito uma vez fossem expulsos os muçulmanos almóadas que eram, na altura, os verdadeiros donos da cidade. Isso obrigou nosso rei a fugir, retirando-se da cidade. Foi então quando ao passar pelas portas da cidade a cavalo, feriu-se numa coxa depois de se ter dado contra elas. Foi o seu genro quem chamou os melhores médicos para que curassem o seu sogro. Tal desfecho foi conhecido como Desastre de Badajoz.
Juromenha perdeu-se de novo em 1191 e não foi recuperada até 1241, quando Paio Peres Correia a reconquistou. O rei D. Dinis deu-lhe foral em 1312 e fortificou-a com um castelo assente nos actuais terrenos da fortaleza, rodeado de dezasseis torres rectangulares. Foram celebrados aqui os casamentos de D. Afonso IV com Beatriz de Castela e de Afonso XI de Castela com Dª Maria de Portugal.
A aldeia voltaria a ter muita importância histórica na época da Restauração, quando foi construida a fortaleza para evitar ataques dos espanhóis por Nicolau de Langres apartir de 1646. Depois de uma explosão no paiol da pólvora em 1659, Langres traiu Portugal e passou ao serviço de Espanha, ajudando às tropas espanholas à tomada da fortaleza que tinha construído em 1662, permanecendo na posse dos espanhóis até 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa que reconhecia a nossa independência. Uma nova ocupação espanhola decorreu entre 1801 e 1808 aquando da Guerra das Laranjas. O Tratado de Badajoz de 1801 vai supor a perda de Vila Real de Olivença para o concelho, já que esta aldeia, mesmo ficando no outro lado do Guadiana, fazia parte do concelho de Juromenha e não do de Olivença.
Juromenha entra então num declínio acentuado, sobre tudo depois do concelho ter sido extinto em 1836 e ser anexada como freguesia do concelho de Alandroal. A população abandona a fortaleza e começa a se instalar extra muros ao redor da ermida de Santo António, hoje centro vital da aldeia.
A fortaleza fica abandonada e, aos poucos, entra num processo de degradação que, infelizmente, chega até os nossos dias. Apesar de algumas chamadas de atenção e de alguns projectos que visariam transformar a fortaleza num estabelecimento turístico, nada se concretizou ainda. As fotografias são uma amostra do estado de abandono em que se encontra. No entanto, é indiscutível a beleza do lugar, nas margens do Guadiana, hoje mais crescido por chegar as aguas do Grande Lago formado pela barragem de Alqueva, cuja cauda chega até este lugar.
No cimo de um outeiro com vistas ao rio Guadiana, ergue-se sobranceira, a fortaleza de Juromenha, situada na freguesia de Nossa Senhora do Loreto, no concelho de Alandroal. Juromenha é hoje uma pacata aldeia alentejana longe da "civilização", que conta com apenas cerca de 150 habitantes que se espalham pelo espaço extra muros circundante.
A História desta localidade perde-se na noite dos tempos. Há uma lenda que diz que um conde, nos tempos dos Godos, tinha uma irmã muito bela. O conde, cheio de desejos libidinosos, propus à irmã ter relações, coisa à que a tal se negou em rotundo aceder a tais proposições incestuosas. Muito irado, prendeu-a e meteu-a na cadeia para quebrar a vontade dela no que hoje é a actual localidade. A tal irmã tinha o nome de Menha. Quando o conde mandava seus criados ter com ela para ver se tinha mudado de parecer, ela dizia firmemente: "Jura Menha que não". E assim ficou o nome de Juromenha.
É claro que isto é apenas uma lenda, mas o fundo da História pode ser real. É muito provável que a região estivesse dominada por algum aristocrata hispano-romano como propietário dos latifúndios que, como todo o mundo sabe, são uma marca de identidade do Alentejo. Temos notícias de que Juromenha era chamada de Julumaniya sob a dominação muçulmana e que foi alvo de atenção das tropas de D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei. Após a conquista de Évora em 1165 com a ajuda de Giraldo Sempavor, as tropas portuguesas ocuparam a vizinha Elvas e Juromenha em 1167. Foi então quando D. Afonso Henriques tentou o cerco de Badajoz em 1170. Prestes a tomar a alcáçova, apareceu nesse momento o rei de Leão, Fernando II, genro do nosso rei, que considerava a cidade, segundo o Tratado de Sahagún de 1158 assinado com o seu irmão Sancho III de Castela como parte do território à que tinha direito uma vez fossem expulsos os muçulmanos almóadas que eram, na altura, os verdadeiros donos da cidade. Isso obrigou nosso rei a fugir, retirando-se da cidade. Foi então quando ao passar pelas portas da cidade a cavalo, feriu-se numa coxa depois de se ter dado contra elas. Foi o seu genro quem chamou os melhores médicos para que curassem o seu sogro. Tal desfecho foi conhecido como Desastre de Badajoz.
Juromenha perdeu-se de novo em 1191 e não foi recuperada até 1241, quando Paio Peres Correia a reconquistou. O rei D. Dinis deu-lhe foral em 1312 e fortificou-a com um castelo assente nos actuais terrenos da fortaleza, rodeado de dezasseis torres rectangulares. Foram celebrados aqui os casamentos de D. Afonso IV com Beatriz de Castela e de Afonso XI de Castela com Dª Maria de Portugal.
A aldeia voltaria a ter muita importância histórica na época da Restauração, quando foi construida a fortaleza para evitar ataques dos espanhóis por Nicolau de Langres apartir de 1646. Depois de uma explosão no paiol da pólvora em 1659, Langres traiu Portugal e passou ao serviço de Espanha, ajudando às tropas espanholas à tomada da fortaleza que tinha construído em 1662, permanecendo na posse dos espanhóis até 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa que reconhecia a nossa independência. Uma nova ocupação espanhola decorreu entre 1801 e 1808 aquando da Guerra das Laranjas. O Tratado de Badajoz de 1801 vai supor a perda de Vila Real de Olivença para o concelho, já que esta aldeia, mesmo ficando no outro lado do Guadiana, fazia parte do concelho de Juromenha e não do de Olivença.
Juromenha entra então num declínio acentuado, sobre tudo depois do concelho ter sido extinto em 1836 e ser anexada como freguesia do concelho de Alandroal. A população abandona a fortaleza e começa a se instalar extra muros ao redor da ermida de Santo António, hoje centro vital da aldeia.
A fortaleza fica abandonada e, aos poucos, entra num processo de degradação que, infelizmente, chega até os nossos dias. Apesar de algumas chamadas de atenção e de alguns projectos que visariam transformar a fortaleza num estabelecimento turístico, nada se concretizou ainda. As fotografias são uma amostra do estado de abandono em que se encontra. No entanto, é indiscutível a beleza do lugar, nas margens do Guadiana, hoje mais crescido por chegar as aguas do Grande Lago formado pela barragem de Alqueva, cuja cauda chega até este lugar.
O conjunto é ideal para um passeio de meia tarde após um almoço, especialmente na primavera ou no outono, para não sofrer nas nossas carnes as rigorosidade do clima alentejano, especialmente nos quentes verões que assolam a região.
Foto 1. Portal de entrada à fortaleza.
Foto 2. Interior da fortaleza.
Foto 3. Vista de uma das 'ruas' da fortaleza. Repare-se no estado de abandono.
Foto 4. Baluartes da fortaleza.
Foto 5. Zona abaluartada e vista parcial da aldeia.
Foto 6. Vista do Guadiana (à norte) com as Terras de Olivença à direita.
Foto 7. Vista do rio Guadiana (cauda da barragem de Alqueva) e Terras de Olivença (à esquerda).
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