terça-feira, 30 de setembro de 2008

Curiosidades fronteiriças

As fronteiras têm, às vezes, coisas que podem ser consideradas como absurdas ou, pelo menos, curiosas. No post de hoje vou falar numa delas. Já indiquei há tempo que uma das fronteiras mais utilizadas é a fronteira de Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro. Todo o mundo usa, geralmente, a fronteira tradicional que liga o IP 5 à N 620 espanhola. No entanto, há outras "fronteiras" que são, como mínimo, curiosas.

Entre Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro existe outra passagem fronteiriça que liga a N 332 com a aldeia espanhola. Depois de passar a ponte sobre a linha internacional do comboio e a estação de Vilar Formoso com esses belíssimos azulejos que oferecem ao visitante uma vista de Portugal em miniatura, deparamo-nos com um cruzamento onde, à esquerda podemos virar para Fuentes de Oñoro. O mais curioso e engraçado é que a linha de fronteira fica mesmo onde está situado o 'Stop' da rua, a Av. de Portugal, onde pretendemos virar. Quer dizer que uma simples viragem faz com que estejamos num país totalmente diferente, se bem que não é assim tão estranho já que muitas lojas "talhos", apresentam a sua sinalética também em português. Pode observa-se isso no primeiro dos mapas apresentados.

Mas a própria EN332 é uma estrada também fronteiriça. De Vilar Formoso até Nave de Haver a estrada é mesmo fronteira. Repare-se nesse facto no segundo mapa onde a linha de fronteira vai paralela à estrada mencionada até o desvio para Nave de Haver. À estrada portuguesa temos de acrescentar uma estradinha ou passeio não alcatroado paralelo que já é território espanhol conforme pode ver-se nas fotografias. Os marcos fronteiriços ficam entre as duas estradas, mesmo no capim, umas vezes mais perto, outras mais longe. No caso da segunda fotografia dá mesmo para perceber o marco situado antes do sinal de entrada a Vilar Formoso.

Esta é uma das muitas curiosidades existentes na fronteira, que mostram que, por vezes, não deixam de ser uma risca traçada parece que ao acaso, dividindo (mas nunca completamente) dois mundos. É nesses momentos quando um próprio fica a pensar no facto do diferente que é estar a um ou outro lado da fronteira quando esta é apenas uma linha que neste caso fica por estes lados mas poderia ficar noutros. Ou que do lado de lá posso tomar um cortado ou uma sandes de chouriço ibérico de Salamanca, enquanto do lado de cá fico com a tradicional bica e o pastel de nata e uma sandes de leitão. Ou que fico a ouvir cá os Xutos & Pontapés, o Pedro Abrunhosa e a Mariza, enquanto do lado de lá ouviria o Alejandro Sanz, a Isabel Pantoja ou Sara Baras. Tão perto, tão longe...


Foto 1. Marco fronteiriço na N 332. O lado direito é a parte espanhola.
Foto 2. Entrada a Vilar Formoso. Repare-se no marco fronteiriço da direita, perto da linha da estrada.




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Mapa 1. Fronteiras de Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro.


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Mapa 2. Estrada N 332 e linha de fronteira paralela entre Vilar Formoso e Nave de Haver.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ameijoeira/Entrimo

Talvez por nostalgia, talvez porque sinto algo mágico com o Norte de Portugal, mas Setembro sempre me deixa uma profunda saudade do Norte. Talvez esse tempo fresco, anunciando os frios do outono que são convidativos de ficar em casa e deliciarmo-nos com um caldo verde quente ou uma feijoada após um passeiozinho pela floresta, no meio de castanheiros e carvalhos, sentindo a humidade da chuva e do verde, as folhas amarelas no chão..., talvez sejam essas coisas as que me façam ter essa grande saudade do Norte na sua ampla expressão.

E como estamos a falar em fronteiras, nada melhor do que apresentar-vos uma das menos conhecidas e isoladas e, pode ser que por isso, mais mágicas e ancestrais. A fronteira da Ameijoeira não deixa de ser uma pequena estradinha para trânsito local. Quem vem de Lindoso e queira ir para o vale do Minho pode-se deslocar até Ponte da Barca e daí a Ponte de Lima e apanhar logo a A-3. Ou ir até Arcos de Valdevez e seguir logo até Monção. Mas também pode fazer outro percurso menos conhecido: segue até à fronteira da Madalena, entra na Galiza e logo, em Aceredo Novo vira à esquerda para passar a ponte sobre a barragem (encoro, em galego) do Alto Lindoso. Daí chega até A Terrachá, a capital do concelho de Entrimo, e por uma estrada serpenteante, vai subindo aos poucos até chegar à Ameijoeira (ou A Meixueira, em galego) como quem entra en qualquer povoação. A fronteira está situada mesmo quase na primeira (ou última, segundo o ponto de vista) casa. Não podem faltar, é claro, algumas pintadas de alguns nacionalistas galegos a dizer: Galiza nom é Espanha!, usando uma grafia denominada integracionista, que visa unificar a escrita da língua galega segundo os padrões da nossa língua portuguesa, já que o galego é encarado como um subsistema dentro do sistema galaico-português. E realmente as diferenças não são assim tantas como nos querem fazer ver, mesmo com as fronteiras mais ou menos definidas desde os inícios da Nacionalidade. Mas como este blogue é alheio a toda polémica política, falaremos sobre essa jóia que é Ameijoeira.

Ameijoeira é uma simpática aldeola que faz parte do concelho de Melgaço e depende da freguesia de Castro Laboreiro. Está, portanto, incluída no Parque Nacional da Peneda-Gerês. É uma aldeia serrana onde o casario é, fundamentalmente, de pedra, o que se compreende, visto estarmos numa zona relativamente elevada e de abundante pluviosidade. O granito é a pedra dominante, como aliás na Galiza e o resto da região. É uma aldeia onde poderemos entrar em contacto com a Natureza no seu estado mais puro, mas, precisamente por isso, onde não encontraremos nenhum serviço, nem mesmo os básicos, sendo obrigatórias as deslocações até Castro Laboreiro. Mas não é o que pretendemos...? Paz, sossego, ar puro?

Os costumes ancestrais ainda persistem em parte nesta região. Uma amostra disso é a existência, ainda, do forno do povo, uma construção primitiva em lajes e blocos de pedra de forma cónica, onde se cozia o pão. O entorno é caracterizado pela sua cor verdejante, entre montanhas, particularmente intensa em alguns dias de sol. A Serra da Peneda, sobre a qual Ameijoeira fica numa encosta, está sempre presente.

Depois do passeio, já com fome, talvez queira se deliciar com um caldo de farinha, ou uns grelos com rojões. Se preferir o peixe, como o Minho fica mesmo ao lado, umas trutas abafadas ou uma lampreia, se calha mesmo na primavera. Ainda poderá sentir o cheiro a lenha queimada que sai pelas chaminés enquanto lhe é preparada uma mesa com doses generosas... regadas com o inesquecível Alvarinho da região.

E como não podemos deixar que apareçam os "pneus" na barriguinha, nada melhor que dar um passeio pelas aldeias vizinhas, isso sim, sempre em contacto com a Natureza.

Foto 1. Posto fronteiriço da Ameijoeira visto do lado da Galiza.

Foto 2. Forno comunitário do povo.
Foto 3. Casas típicas da Ameijoeira.
Foto 4. Estrada N202-3 com a Galiza ao fundo.

A rentrée

Já voltei de férias. Esta mensagem é apenas para dar início de novo a este blogue. Vou estar muito ocupado com as minhas investigações históricas, pelo que não vou ter o tempo que eu quereria para actualizá-lo. Mesmo assim, tentarei que haja periodicamente alguma entrada para os interessados nisto, que suponho, serão poucos (embora possa haver surpresas, claro!). A questão é que a 'rentrée' este ano está-me a custar mais do que o costume. Daí a preguiça em fazer coisas. Espero que esta 'doença' não dure muito, e possa ter energias renovadas para encarar novos alvos. Desejo o mesmo para as pessoas que possam ler este blogue.

Força, então!