quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Fronteiras: Pinheiro Velho/Esculqueira

Hoje vou falar da mais recente descoberta que fiz. Trata-se de uma fronteira muito pouco conhecida mas que fica, no entanto, do lado da Galiza, perto da auto-estrada A-52, resultando, portanto, um bom ponto de passagem para visitar o Parque Natural de Montesinho e a região da Lomba, no concelho de Vinhais, em plena Terra Fria transmontana. É a fronteira que liga a aldeia do Pinheiro Velho, pertencente à freguesia de Pinheiro Novo com à galega de Esculqueira, pertencente ao concelho de A Mezquita (ou Mesquita).

A fronteira decorre num planalto situado ao sopé da Serra da Esculqueira que atinge os 1 148 m. de altitude máxima no pico do Serro quase mesmo no limite fronteiriço com Portugal. Esse planalto não é mais do que uma continuação do planalto que se estende pelo concelho galego da Mesquita e que se estreita neste ponto entre esta serra e outra de similar altitude mas menos definida pela qual decorre o limite fronteiriço com uma altitude de 1 146 m. no pico da Igrejinha.

A aldeia da Esculqueira fica situada no planalto do qual já falamos a uma altitude de quase 1 000 m. Após apanhar a estrada da fronteira, com um indicador indicando Portugal digamos, rústico, a estrada eleva-se suavemente até os 1 020 m. para descer de novo também suavemente até ao limite fronteiriço situado a uma altitude um bocado superior aos 1 000 m. seguindo-se em declive suave até começar uma descida em forte pendente que nos leva até a aldeia de Pinheiro Velho, situada a uns 840 m. de altitude, encerrada num pequeno vale com inúmeros regatos que desaguam no rio Assureira, afluente do rio Rabaçal, ou directamente neste.

Essas elevadas altitudes fazem que os lameiros sejam dominantes na região, ao lado de algumas árvores de folha caduca e matagais de urze, esteva, giesta, tojo, etc. Infelizmente nem sempre a natureza é respeitada e sempre há que noticiar algum incêndio como se pode ver nas fotografias que seguem a este 'post'. A água é abundante e os Invernos podem ser frios e rigorosos. Mas isso também é uma mais-valia na produção do fumeiro, que no concelho de Vinhais atinge a sua máxima expressão com os enchidos de porco bísaro. Obviamente, os preços também estão em consonância com a alta qualidade do produto. O salpicão é do melhor e ainda as chouriças, o chouriço e a morcela. 

Relativamente à caracterização das aldeias, importa dizer que a aldeia da Esculqueira está situada num lugar aprazível, de planalto, com belas paisagens que chegam, não só até à serra do mesmo nome, mas também à portuguesa Serra da Coroa e a região das Portelas, designadamente a Portela da Canda, que constitui hoje o limite da Galiza com a vizinha província de Zamora. No entanto, infelizmente, a aldeia aparece hoje muito descaracterizada, com casas tradicionais em ruínas e casas da década de cinquenta e sessenta não muito bem conservadas e que nada têm a ver com o casario tradicional, para além de algumas casas mais modernas características de emigrantes. A sensação, entretanto, foi a de uma aldeia pouco consistente, sem serviços, em que não apetece nada ficar, o que foi pena, pois existem aldeias galegas fronteiriças bem conservadas.

Pinheiro Velho foi outra coisa. Uma aldeia que mantém a tradição, com menos excessos «urbanísticos» que descaracterizaram muitas aldeias de um e do outro lado da fronteira a causa da «modernidade», na qual, para além de algumas casas de emigrantes mais modernas à entrada, as casas mais modernas não destoam do casario tradicional. O granito é predominante numa região de transição para o domínio do xisto que cobre inúmeros telhados das aldeias galegas vizinhas. De certa forma, visitar esta aldeia significa reviver experiências que considerávamos esquecidas como se retrocedêssemos quarenta anos, mas sabendo que as condições de vida, são, no entanto, muito melhores. Sente-se o cheiro da humidade, sente-se o cheiro do gado, da bosta deitada no chão, o cheiro da lenha arrumada na parte de baixo da casa, em garagens ou em cantinhos que servem para o efeito, o cheiro da comida e é claro, o cheiro do fumo que sai das chaminés, impregnando o ambiente.

A escassa população e uma paisagem inóspita que contrasta com a fértil veiga que banha a aldeia e onde estão situadas hortas que dão batata, couve e outros legumes e hortaliças, acentuam essa sensação de solidão rota apenas pela simpatia dos habitantes que ainda resistem o embate da modernidade e preferem continuar na sua aldeia natal sabendo não deixam de ser uma raridade nestes tempos, estampa que, infelizmente, parece devotada à sua desaparição. Mas ao lado da solidão, o homem também pode sentir essa comunhão com a natureza, longe da artificialidade das cidades, longe, em definitiva, de tudo...

Aproveitem enquanto há tempo. Vale a pena deixar-se perder por estes cantinhos da Raia, especialmente no Outono ou no Inverno, estações que eu pessoalmente prefiro para visitar estes lugares, quando eu os acho mais autênticos, sem desmerecer outras. Fica aqui dito.

 Foto 1. Fronteira portuguesa vista do lado da Galiza.
 Foto 2. Marco fronteiriço visto do lado da Galiza.
 Foto 3. Marco fronteiriço visto do lado de Portugal.
 Foto 4. Limite fronteiriço com a Galiza visto do lado de Portugal.
 Foto 5. Serra da Esculqueira vista do limite fronteiriço.
 Foto 6. Entrada ao Parque Natural de Montesinho.
 Foto 7. Vista geral da Esculqueira.
 Foto 8. Paisagem outonal na Esculqueira.
 Foto 9. Mais «outonalidades».
Foto 10. Casa tradicional da Esculqueira, em ruínas.
 Foto 11. Vista geral do planalto, com a Portela da Canda ao fundo.
 Foto 12. Vista geral do Pinheiro Velho, com o rescaldo de incêndios recentes.

 Foto 13. Entrada à aldeia e um bom exemplo de harmonização do moderno e do tradicional.
 Foto 14. Casas em granito no centro da aldeia.
 Foto 15. Mais casas tradicionais.
 Foto 16. Entre o antigo e o moderno...
 Foto 17. Outras ruas da aldeia.
 Foto 18. Mais ruas e canelhas, com o granito omnipresente.
 Foto 19. Largo da igreja.
 Foto 21. Igrejinha da aldeia.
 Foto 21. Regatos e hortas.
 Foto 22. Vista da fértil veiga do Pinheiro Velho com as serras fronteiriças ao fundo.


Mapa 1. Mapa de situação.

P.S. Damos ainda as boas-vindas como amigos do blogue a Lamartine Dias e a Carmen. Esperamos não defraudar as suas expectativas.