terça-feira, 20 de novembro de 2012

Localidades raianas: Venade (f. de Venade, c. de Caminha)

Um dos prazeres que o viajante pode sentir quando se perde entre aldeias e localidades raianas é encontrar lugares calmos e de incrível beleza. Localidades que transmitem o calor da tradição ao mesmo tempo que ficamos perto da «civilização». No Alto Minho existem inúmeras aldeias que cumprem à perfeição isto que acabámos de dizer.

Hoje vou deter-me na freguesia de Venade, no concelho de Caminha. Trata-se de uma freguesia rural não muito distante da vila pois fica a apenas 3 km. É uma aldeia típica minhota em que alternam casas tradicionais com vivendas mais modernas, quer dos emigrados ao estrangeiro, quer daqueles mais abastados que decidiram comprar vivendas de estilo moderno e funcional. Como muitas aldeias do Minho, convenhamos que o seu centro estaria situado no Largo António Joaquim Alves da Cruz, em que estão situados a igreja paroquial, o cemitério, o coreto e o cruzeiro, para além de alguns cafés. Mas realmente estamos perante uma localidade plurinucleada, isto é dividida em «lugares» mais ou menos compactos, entre os quais existem espaços agrários com culturas nas que o destaque vai para o milho e mais secundariamente para a videira própria do vinho verde, emparrada. 

Geográficamente fica situada a Sul do rio Coura, pouco antes de desaguar no rio Minho e aparece dividida pelo rio Tinto, um riacho que em tempos detinha vários moinhos. Estamos, portanto, perante uma fértil veiga cheia de milheirais que aproveitam a parte mais funda do vale, enquanto as vivendas dispõem-se a meia encosta das montanhas circundantes. Daí é possível ver a vila de Caminha, a foz do rio Coura, o estuário do Minho e o monte de Santa Trega, já na Galiza, no qual existe uma famosa citânia castreja e a localidade de Camposancos, pertencente ao concelho da Guarda, e donde parte o ferry-boat que liga esta com Caminha, não sem problemas, já que o Minho sofre o impacte do assoreamento da sua foz, o que obriga a dragagens contínuas para manter o canal de navegação entre ambas as localidades.

Como dissemos, existem vários «lugares» dentro da localidade, que tem pouco mais de 800 habitantes, como são os de Poço, Feital, Fornas, Coruche, Ribas (lugar em que fica a igreja matriz), Barge, Cruzinha, Mouteira, Rosmaninho, Sobral, Veiga-Junqueira, Campo Velho, Cruzeiro, Rio Tinto, Aldeia Nova, Escusa, Castanheirinho e Chão. Sim, 18 topónimos diferentes!  Nisto existe uma ligação óbvia com toda a fachada atlântica da Península Ibérica entre o Baixo Mondego e o País Basco, sendo mais representativo este fenómeno na orla litoral e pré-litoral da região de Entre-Douro-e-Minho, a Galiza e as Astúrias. Não é mais do que uma expressão dos elementos que singularizam o Noroeste peninsular ao qual não é alheio o Alto Minho.

Do miradouro do Penedo do Fojo teremos a oportunidade de desfrutar de belas vistas para toda a localidade, Caminha, o Minho e a Galiza. Sem dúvida, um recanto com charme e sossego que convida para isso que os franceses sabem fazer bem: la flânerie! Donc, a se flâner!


Foto 1. Fachada da Igreja paroquial do século XVIII.
Foto 2. Outra vista da fachada e do edifício da igreja.
Foto 3. Cemitério e vista para Aldeia Nova e as montanhas circundantes.
Foto 4. Lateral da igreja com vistas para Aldeia Nova.
Foto 5. Coreto de Venade.
Foto 6. Cruzeiro.
Foto 7. Vista a partir do Penedo do Fojo com Venade em primeiro plano, Caminha em segundo e o Minho e Santa Trega ao fundo.
Foto 8. Vista da foz do rio Coura, as pontes ferroviária e rodoviária, o Minho e Camposancos (Galiza) ao fundo.
Foto 9. Milheiral com vistas para a Aldeia Nova.
Foto 10. Aldeia Nova vista da ponte do rio Tinto entre vivendas, milheirais e a floresta.
Foto 11. Parreira no bairro do Cruzeiro.
Foto 12. Milheirais e vistas dos bairros de Escusa e Barge.
Foto 13. Vistas de Campo Velho, Rio Tinto e Rosmaninho entre milheirais e videiras.
Foto 14. Venade (círculo vermelho) vista do monte Santa Trega (Galiza).


Ver Venade (f. de Venade, c. de Caminha) num mapa maior
Mapa 1. Mapa de localização.
Mapa 2. Mapa específico.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Fortalezas da Raia: Castelo de Alburquerque

A nossa Raia tem lugares pouco conhecidos para o grande público. Um desses é a vila de Alburquerque, situada na Extremadura espanhola, perto da fronteira portuguesa. Para quem vem de Badajoz, há uma bela estrada que liga esta cidade com a vila, situada a 50 km. Do Alentejo é possível aceder pela estrada que vem de Campo Maior e que contorna a aldeia e castelo de Ouguela, saindo para uma estrada que liga Alburquerque com La Codosera. De Arronches, pela fronteira do Marco, acede-se rapidamente a La Codosera e depois à estrada que liga esta localidade com a vila. É ainda possível aceder pela fronteira da Rabaça, na Serra de S. Mamede e seguir logo até La Codosera e daí pela estrada antes citada. Outra via, para quem vem de Marvão, é a fronteira de Galegos/Puerto Roque, que vai dar até Valência de Alcântara, que é também o acesso natural para quem vem de Cáceres. Daí é possível chegar até Alburquerque, que dista a 40 km. desta localidade.

Sem dúvida, o foco de atenção vai para o seu castelo, o castelo de Luna, que se ergue sobranceiro sobre um outeiro rochoso, com uma queda importante para a parte Sul, a partir do qual é possível divisar uma bela vista, facto que obviamente determinou a escolha dessa localização. O castelo faz parte do centro histórico muralhado conhecido como «Villa Adentro», que foi a vila medieval por excelência. De facto, no mês de Junho há um festival medieval que congrega multidões que se deslocam para desfrutar de um bom ambiente num marco incomparável. 

O território parece ter sido povoado já antes da conquista romana da Lusitânia, mas será na Idade Média quando adquira uma notável importância. Relativamente à origem do nome existem duas teorias: a primeira faz derivar o topónimo do termo latino Albus Quercus, isto é, «azinheira branca», mas a segunda hipótese parece mais plausível pela vegetação dominante. Segundo esta teoria, o nome viria do árabe Abu-al-Qurq, ou seja, «país dos sobreiros» o que condiz com a persistência da população islâmica na região e com a abundância de sobreiros em regime de montado. Não devemos esquecer que a vila é conhecida pela qualidade dos seus enchidos, principalmente o presunto ibérico de porco preto, alimentado apenas com bolotas e o capim que cresce no montado.

Em 1166, após a conquista de Évora por Geraldo Sempavor o ano anterior, o primeiro rei português, D. Afonso Henriques terá ocupado estas terras aos almóadas, bem como a região de Cáceres e Trujillo, que terão permanecido na sua posse até o «desastre de Badajoz» em 1170, quando o seu genro, Fernando II de Leão, em ajuda dos almóadas, impediu a toma da cidade a falta de ocupar a alcáçova. O território terá passado ao reino de Leão, mas em 1174 voltou às mãos dos almóadas. Foi só depois da batalha das Navas de Tolosa em 1212 que o rei Afonso IX teve a oportunidade de ocupar definitivamente Alburquerque em 1217 (ou 1218 segundo outros historiadores) incorporando-a ao reino de Leão antes da ocupação de Badajoz. O perigo almóada só teria desaparecido após a conquista de Elvas pelo rei D. Sancho II em 1226 e a conquista de Campo Maior, Ouguela e Badajoz em 1230 pelo rei Afonso IX de Leão.

As guerras com Portugal foram muito frequentes é de facto na Raia houve um espaço indefinido, conhecido como «contenda» que recebeu o nome de Contenda de Arronches ou de Alburquerque, na qual pastavam os rebanhos de ovelhas. Terá de ser a partir do Tratado de Lisboa de 1864 e os trabalhos de delimitação da fronteira que o território ficou definitivamente marcado. Houve de facto, uma ocupação portuguesa da vila, na sequência da Guerra de Sucessão Espanhola entre 1705 e 1716, período em que foi construída uma muralha de tipo Vauban que separava o castelo da vila.

O acesso ao castelo faz-se por uma série de portas, sendo as principais a Porta de Valência e a Porta da Vila, que tinha o escudo do filho bastardo de D. Dinis, Afonso Sanches, que foi senhor de Alburquerque e do qual existe uma inscrição em português arcaico hoje custodiado no Museu Arqueológico de Badajoz. Destacam ainda a igreja de Santa Maria do Mercado, do século XV, e a igreja de S. Mateus, dos séculos XVI e XVII.

Do castelo é possível divisar uma grande extensão de território num raio de 60 km. A Leste e a Norte, a Serra de S. Pedro circunda a vila, enquanto a Sul é possível adivinhar a fértil veiga do Guadiana e a cidade de Badajoz. A Oeste temos uma bela vista da Serra de S. Mamede e a Sudoeste uma panorâmica muito extensa que abrange a planície alentejana até à Serra d'Ossa. Não admira que tivesse um grande valor estratégico. De facto o castelo é visível do castelo de Ouguela, já no concelho de Campo Maior e da estrada que liga Campo Maior com Arronches. Definitivamente uma visita que bem vale a pena!


Foto 1. Porta de Valência.
 Foto 2. Uma vista de Alburquerque da «Villa Adentro».
Foto 3. Vista geral do castelo, fechado actualmente (Nov. 2012) por obras.
Foto 4. Uma vista das muralhas e da vila, com a Serra de S. Mamede ao fundo.
 Foto 5. Vista do recinto muralhado.
Foto 6. Paisagem de montado na direcção Sul para a veiga do Guadiana.
Foto 7. Castelo visto da muralha.
Foto 8. Paisagem de montado com a cidade de Badajoz ao fundo.
Foto 9. Vila (vista geral) e Serra de S. Pedro vistas do castelo.
Foto 10. Centro histórico e muralhas vistos do castelo.
Foto 11. Igreja de Santa Maria do Mercado, igreja de S. Mateus e muralhas estilo Vauban portuguesas vistas do castelo.
Foto 12. Fachada da igreja de Santa Maria do Mercado.
Foto 13. Paisagem de montado vista do castelo do vale do rio Xévora.
Foto 14. Muralhas, Serra de S. Mamede e planície alentejana vistas do castelo, com a Serra d'Ossa muito a fundo (quase imperceptível).
Foto 15. Castelo de Alburquerque (seta) visto da fortaleza abaluartada de Ouguela (c. de Campo Maior), já no Alentejo.



Ver Castelo de Luna (Alburquerque) num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.


Ver Castelo de Luna (Alburquerque) num mapa maior
Mapa 2. Mapa específico.

P.S. Muda-se o papel de parede para uma bela vista da fortaleza de Ouguela. Espero que gostem!