A uns 2 km. da aldeia de Sobral da Adiça, quase no limite com o concelho de Serpa, separado pela Serra da Adiça da localidade do Ficalho, na que está situada a fronteira mais importante da região, contamos com outro ponto de passagem da fronteira pelo Vale de Grou para chegarmos até Rosal de la Frontera, na Andaluzia espanhola. Trata-se de uma fronteira local, com estradas em muito mau estado. De facto, na estrada N385 nem sequer existe um indicador que mostre que estamos perante um desvio que nos leva até ao limite fronteiriço. Até porque a estrada portuguesa é mesmo péssima, com um pavimento em muito mau estado e esburacada por momentos (atenção aos amortecedores!!!). Mas a estrada espanhola é ainda pior pois não estando esburacada, é uma estrada de cascalho sem pavimentar. De facto, o sinal de limitação da velocidade a 50 km/h parece uma piada de mau gosto a não ser que queiramos arriscar a ter amolgadelas no carro ou até mesmo partir os vidros indo a essa velocidade. Isso por não falar da poeira que iria cobrir o carro, pedindo-nos de imediato uma ida até uma estação de lavagem.
O mais notável neste aspecto é a paisagem. Uma paisagem de montado, designadamente de sobreiros, o que está a indicar uma maior humidade do clima, já que o sobreiro precisa de pelo menos 500 mm. de precipitação anual para ter umas condições óptimas de crescimento. Mas também uma paisagem de olival que cobre totalmente a Serra da Adiça para os lados que dão para a vila do Ficalho, fornecendo umas paisagens idílicas de paz e sossego. De facto, para além de uma ou outra herdade espalhada pelo campo, a vida selvagem tem todo o sentido neste lugar. Tivemos a oportunidade de ver perdizes a correr, assustadas as coitadinhas com o barulho do carro. O privilégio de ver os animais em liberdade não tem preço e nisso o Alentejo é um lugar de oportunidades nesse sentido, bem como a possibilidade de ver o céu estrelado enquanto o luar ilumina o montado. São, sem dúvida, momentos inesquecíveis para partilhar de forma romântica com a nossa cara-metade, abraçados os dois sentindo esse aconchego tão especial que só experimentamos com quem estamos apaixonados.
A fronteira é bastante curiosa porque está em parte delimitada por vedações de arame farpado salpicadas por vários marcos fronteiriços que mostram ao viajante avisado que estamos perante o limite fronteiriço entre dois estados. Como não podia ser de outra forma, essas vedações separam propriedades dedicadas à exploração da oliveira ou à pecuária, com especial importância do porco preto que, alimentado exclusivamente de bolotas, dá-nos a oportunidade de degustar essa iguaria sem igual que é o presunto de porco preto, também chamado de pata negra, que na vila de Barrancos atinge a sua máxima expressão e do lado da província andaluza de Huelva, no presunto de Jabugo, do qual é de salientar que uma parte importante dos porcos provêm do Baixo Alentejo, nos montados dos concelhos de Serpa e Moura, para dar saída à procura deste produto.
A região resulta indicada para visitar talvez algumas das aldeias mais autênticas do Baixo Alentejo, as que se situam na margem esquerda do Guadiana como Safara, Sobral da Adiça ou Santo Aleixo da Restauração, para além dos espaços naturais como a Contenda de Moura, cujo nome advém do facto de as fronteiras estarem mal definidas, o que deu lugar a conflitos entre um e outro lado pelos direitos de exploração e propriedade e que neste caso só finalizariam com o Tratado de Limites de 1927, quando se estabeleceram os marcos fronteiriços entre a Ribeira de Cuncos e a foz do Guadiana. Do lado da Andaluzia é possível visitar Rosal de la Frontera, vila fronteiriça e comercial onde poderemos atestar o carro e tomar umas cañas (cerveja a pressão) com tapas oferecidas de graça nas tascas do lugar. É interessante ainda a vila de Aroche e a sua contenda, que limita com a contenda de Moura na Serra de Aroche, na qual poderemos ver os restos do castelo.
Importa salientar o facto de que esta região foi conquistada por Portugal aos mouros na última etapa da «Reconquista» num intento de atingir o controlo da região de Sevilha de forma que Aracena e Aroche, as localidades mais importantes da região, estiveram na posse de Portugal até pelo menos 1253. De facto, este território esteve em disputa com Castela a causa da questão do Algarve, já que o «rei sábio», Afonso X de Castela, detinha o título de rei do Algarve. D. Afonso III, que casou em 1253 com D. Brites, filha deste rei e mãe do futuro rei D. Dinis, recebeu do seu pai um dote que incluiu, após a morte do rei castelhano, as vilas de Mourão, Serpa, Moura, Noudar e Niebla (Huelva). O Tratado de Badajoz de 1267, que fixou as fronteiras na margem do Guadiana, serviu para assegurar para Portugal o chamado «reino do Algarve», facto que explica por que os réis portugueses intitulavam-se réis de Portugal e do Algarve. Em troca, Portugal abandonava os territórios além Guadiana. No entanto, a sagacidade política de D. Dinis permitiu-lhe, em substituição de uns alegados direitos sobre Aracena e Aroche, recuperar as vilas de Mourão, Serpa, Moura e Noudar no Tratado de Alcanices de 1297, para além das localidades de Campo Maior, Ouguela e Olivença. Séculos mais tarde, a guerra da Restauração foi terrível na região a causa dos contínuos assaltos das tropas castelhanas e portuguesas nas aldeias fronteiriças. O contrabando substituiu os conflitos bélicos e hoje, após a aberturas das fronteiras fruto da adesão à UE, o território tenta encontrar o seu lugar na economia moderna entre o declínio das estruturas agrárias tradicionais e a necessidade de apostar pela qualidade e a inovação tecnológica no sector agro-alimentar.
Foto 2. Marco fronteiriço situado à Norte da estrada visto do lado de Portugal.
Foto 3. O mesmo marco fronteiriço visto do lado de Espanha.
Foto 4. Segundo marco fronteiriço próximo ao anterior.
Foto 5. Linha de fronteira entre os marcos fronteiriços pela vedação de arame.
Foto 6. Marco fronteiriço situado a Sul da estrada, visto do lado de Portugal.
Foto 7. Linha de fronteira que vai pela vedação de arame.
Foto 8. Segundo marco fronteiriço a seguir ao anterior.
Foto 9. Linha de fronteira que segue a vedação de arame.
Foto 10. Fronteira portuguesa vista do lado de Espanha.
Foto 11. Linha de fronteira entre vedações.
Foto 12. Vale de Grou ao pôr-do-sol, com a Serra da Adiça à esquerda.
Ver Fronteiras: Sobral da Adiça/Rosal de la Frontera num mapa maior
Ver Fronteiras: Sobral da Adiça/Rosal de la Frontera num mapa maior
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