Num lindo passeio pelas Terras de Olivença cheguei até a aldeia de Vila Real (Villarreal, em espanhol), uma pacata e aprazível aldeiazinha alentejana. Depois de passar um outeiro onde a aldeia fica ao lado esquerdo, a estrada continua até finalizar num pequeno embarcadouro no Guadiana, lugar do qual tomei algumas das fotografias que cá aparecem.
Não é a minha intenção falar em política. Este blogue é totalmente neutral, pelo que não tocarei no assunto da chamada "Questão de Olivença". Mas referirei alguns factos históricos e farei uma chamada de atenção para o facto de haver ou não haver fronteiras.
Vila Real é uma aldeia com menos de 100 habitantes que fica a uns 10 km. de Olivença e frente ao castelo de Juromenha. Como já referimos em outro post, o castelo de Juromenha chegou a ser muito importante, sendo que a própria povoação era a sede de um concelho. Hoje, com pouco mais de 100 habitantes também, é apenas uma freguesia do concelho de Alandroal. O território do concelho de Juromenha abrangia a aldeia de Juromenha, mas também a aldeia de Vila Real, que não pertencia a Olivença, mas à referida aldeia de Juromenha.
Com a Guerra das Laranjas de 1801 e anexação do território a Espanha, a aldeia ficou integrada no concelho ou município (ayuntamiento, em espanhol) de Olivença. E desde então assim foi. A aldeia fica situada num outeiro do qual vê-se a planície toda, incluíndo a aldeia de Juromenha e Olivença, uma planície muito fértil, viçosa, onde não faltam videiras e oliveiras, para além do clássico montado alentejano. Tem, além do mais, uma linda igrejinha, do tipo ermida, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, facto que mostra a pegada histórica portuguesa na povoação.
O casario é também típicamente alentejano e é, talvez, uma das aldeias oliventinas onde se conserva melhor, sem alterações, essa herança portuguesa. De facto, uma comparação de duas fotografias de duas aldeias, sendo que uma delas é Vila Real e a outra outra aldeia alentejana qualquer como Juromenha, Vila Boim ou Barbacena (estas últimas, ambas as duas, freguesias e aldeias pertencentes ao concelho de Elvas) faria com que não achássemos qualquer diferença, pelo que seria difícil saber que aldeia fica hoje sob a administração espanhola. Até porque o português continua a ser a língua mais falada na aldeia, para além, é claro, do espanhol.
As fronteiras físicas desapareceram felizmente com a entrada de Portugal e Espanha na União Europeia e a adesão dos dois estados ao Tratado de Schengen, que supus a desaparição dos controlos fronteiriços. Mas neste caso, a fronteira não desapareceu de todo. Continua a haver uma fronteira física entre as duas aldeias, Juromenha e Vila Real: o Rio Guadiana. Se antigamente o gado até podia passar nos tempos da seca pelo rio, hoje, com a construção da barragem de Alqueva é impossível. A única ligação possível é através de barco, numa travessia entre ambos os dois embarcadouros. A não ser, claro, que se queira ir de carro. Mas para isso é precisso dar uma grande volta: de Juromenha até Elvas, de Elvas até Olivença por meio da nova ponte da Ajuda e de Olivença até Vila Real. De embarcadouro a embarcadouro, que ficam a menos de 200 m em linha recta, 43 km., sem mais nem menos. É isso porque desde 2001 existe a nova ponte da Ajuda, porque de não ter sido assim, o percurso seria ainda mais longo, tendo que acrescentar mais uma voltinha até Badajoz.
A solução ideal era construir uma ponte, mas somos muito pessimistas à respeito. Se a nova ponte da Ajuda demorou tanto a ser construída (até 2001) e isso que ligava duas localidades como Elvas e Olivença, para servir a mais de 30.000 habitantes, é difícil pensar em uma ponte para tão poucas pessoas, uma vez que a necessária ponte entre Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana (ver post relacionado) ainda não se construiu, ficando a fronteira de Vila Real de Santo António como a única ligação do Algarve para a Andaluzia. A ponte apresentaria mais dificuldade técnica do que a ponte da Ajuda, já que a barragem de Alqueva alagou parte daqueles terrenos, sendo que esta zona constitui a cauda do Grande Lago, o que faria que o seu comprimento fosse maior (200-300 m. ou talvez mais; não sou muito bom a calcular distâncias. He. He. He.). Para além de comunicar as duas aldeias, também abriria o trânsito para uma ligação directa de Évora com Olivença através do Redondo e do Alandroal, para além das localidades da Extremadura espanhola que ficam para além de Olivença. Mas como não há, é por isso que começei pela pergunta:
Sem fronteiras... ou não?
O que é que acham?
Não é a minha intenção falar em política. Este blogue é totalmente neutral, pelo que não tocarei no assunto da chamada "Questão de Olivença". Mas referirei alguns factos históricos e farei uma chamada de atenção para o facto de haver ou não haver fronteiras.
Vila Real é uma aldeia com menos de 100 habitantes que fica a uns 10 km. de Olivença e frente ao castelo de Juromenha. Como já referimos em outro post, o castelo de Juromenha chegou a ser muito importante, sendo que a própria povoação era a sede de um concelho. Hoje, com pouco mais de 100 habitantes também, é apenas uma freguesia do concelho de Alandroal. O território do concelho de Juromenha abrangia a aldeia de Juromenha, mas também a aldeia de Vila Real, que não pertencia a Olivença, mas à referida aldeia de Juromenha.
Com a Guerra das Laranjas de 1801 e anexação do território a Espanha, a aldeia ficou integrada no concelho ou município (ayuntamiento, em espanhol) de Olivença. E desde então assim foi. A aldeia fica situada num outeiro do qual vê-se a planície toda, incluíndo a aldeia de Juromenha e Olivença, uma planície muito fértil, viçosa, onde não faltam videiras e oliveiras, para além do clássico montado alentejano. Tem, além do mais, uma linda igrejinha, do tipo ermida, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, facto que mostra a pegada histórica portuguesa na povoação.
O casario é também típicamente alentejano e é, talvez, uma das aldeias oliventinas onde se conserva melhor, sem alterações, essa herança portuguesa. De facto, uma comparação de duas fotografias de duas aldeias, sendo que uma delas é Vila Real e a outra outra aldeia alentejana qualquer como Juromenha, Vila Boim ou Barbacena (estas últimas, ambas as duas, freguesias e aldeias pertencentes ao concelho de Elvas) faria com que não achássemos qualquer diferença, pelo que seria difícil saber que aldeia fica hoje sob a administração espanhola. Até porque o português continua a ser a língua mais falada na aldeia, para além, é claro, do espanhol.
As fronteiras físicas desapareceram felizmente com a entrada de Portugal e Espanha na União Europeia e a adesão dos dois estados ao Tratado de Schengen, que supus a desaparição dos controlos fronteiriços. Mas neste caso, a fronteira não desapareceu de todo. Continua a haver uma fronteira física entre as duas aldeias, Juromenha e Vila Real: o Rio Guadiana. Se antigamente o gado até podia passar nos tempos da seca pelo rio, hoje, com a construção da barragem de Alqueva é impossível. A única ligação possível é através de barco, numa travessia entre ambos os dois embarcadouros. A não ser, claro, que se queira ir de carro. Mas para isso é precisso dar uma grande volta: de Juromenha até Elvas, de Elvas até Olivença por meio da nova ponte da Ajuda e de Olivença até Vila Real. De embarcadouro a embarcadouro, que ficam a menos de 200 m em linha recta, 43 km., sem mais nem menos. É isso porque desde 2001 existe a nova ponte da Ajuda, porque de não ter sido assim, o percurso seria ainda mais longo, tendo que acrescentar mais uma voltinha até Badajoz.
A solução ideal era construir uma ponte, mas somos muito pessimistas à respeito. Se a nova ponte da Ajuda demorou tanto a ser construída (até 2001) e isso que ligava duas localidades como Elvas e Olivença, para servir a mais de 30.000 habitantes, é difícil pensar em uma ponte para tão poucas pessoas, uma vez que a necessária ponte entre Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana (ver post relacionado) ainda não se construiu, ficando a fronteira de Vila Real de Santo António como a única ligação do Algarve para a Andaluzia. A ponte apresentaria mais dificuldade técnica do que a ponte da Ajuda, já que a barragem de Alqueva alagou parte daqueles terrenos, sendo que esta zona constitui a cauda do Grande Lago, o que faria que o seu comprimento fosse maior (200-300 m. ou talvez mais; não sou muito bom a calcular distâncias. He. He. He.). Para além de comunicar as duas aldeias, também abriria o trânsito para uma ligação directa de Évora com Olivença através do Redondo e do Alandroal, para além das localidades da Extremadura espanhola que ficam para além de Olivença. Mas como não há, é por isso que começei pela pergunta:
Sem fronteiras... ou não?
O que é que acham?








Mapa 1. Percurso rodoviário preciso para se deslocar de Juromenha até Vila Real.
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