quinta-feira, 7 de maio de 2009

Aldeias fronteiriças: Hermisende, S. Cibrão, Texeira

Na província de Zamora, no seu recanto ocidental, encontramos o concelho de Hermisende. Nada teria de particular se não fosse pela sua peculiar história e o facto de ainda existir a pegada da presença portuguesa na região. Trata-se de um concelho limítrofe com a Galiza e que faz parte da região das Portelas (região situada entre a portela (ou alto) da Canda e do Padornelo), embora vulgarmente seja enquadrada na região da Sanábria (Seabra).

Este concelho está formado por várias aldeias que totalizam pouco mais de 300 habitantes, sendo que Hermisende é a mais populosa. Destas aldeias, duas, Castrelos e Castromil pertencem ao ámbito linguístico galego, designadamente o dialecto portelego central, esta última está partida em duas partes pelo limite entre a província de Zamora e a Galiza, havendo uma parte galega, com mais habitantes, e outra de Zamora. As restantes aldeias são três: a própria Hermisende, San Ciprián de Hermisende y La Tejera. A particularidade destas aldeias é que no início eram aldeias portuguesas, pertencentes à província de Trás-os-Montes, e o foram até 1640, ano em que ficaram integradas no reino da Galiza, entidade administrativa existente na altura na Monarquia Hispânica. O nome delas, em português, era Hermisende (ou Ermesende), São Cibrão e Teixeira.

Trata-se de aldeias de xisto onde se misturam traços portugueses de tipo transmontano relacionados com a Terra Fria, designadamente na arquitectura popular, com outros próprios da Galiza e ainda elementos construtivos gerais em Espanha. O xisto, ao contrário que em Trás-os-Montes manteve-se até ao dia de hoje nos telhados das casas, o que não se verifica na Terra Fria a não ser algumas aldeias como Rio de Onor ou Montesinho, enquanto noutras a laje de xisto para o telhado mantém-se nas construções mais antigas e em franca regressão.

A língua falada lá, para além do espanhol ou castelhano, continua a ser a língua portuguesa, segundo o eminente filólogo Luis Cortés Vázquez, já falecido, professor catedrático na Universidade de Salamanca e que fez inquéritos linguísticos na região, definindo a fala do lugar como essencialmente portuguesa, com algumas influências galegas e do castelhano. Uma amostra disto será providenciada noutro 'post' mais adiante.

Isto é mais uma prova de que as fronteiras linguísticas nem sempre têm correspondência com as fronteiras políticas. Também não é verdade que Alcanices viesse a instaurar a fronteira mais antiga da Europa, visto que sofreu várias modificações com a passagem do tempo, como foi referido neste caso.

De qualquer forma, é uma região interessante e linda de se ver para quem quer ficar em contacto com a natureza e gosta da simpatia de gentes simples mas abertas para com os visitantes. Para quem vem de Portugal pode fazê-lo pela fronteira de Moimenta percorrendo Manzalvos, Cádavos e Castromil ou pela nova fronteira entre a Teixeira e Parâmio que liga esta aldeia com a de Fontes Transbaceiro, situada nessa freguesia do concelho de Bragança. Outra opção é aceder pela ligação da auto-estrada espanhola A-52 ou auto-estrada das Rias Baixas, na saída Lubián/Hermisende.

É óptima para passeios pelas montanhas, visto que a zona está cercada pelas serras do Marabón ao Noroeste, o sistema montanhoso Gamoeda-Montesinho para Leste e a Serra da Escusanha para sul, actuando esta como limite fronteiriço. No meio ficam o rio Tuela (que mais tarde se converte no Tua após a sua união com o Rabaçal águas acima de Mirandela) e o rio Baceiro, que percorrem este concelho antes de entrarem definitivamente em Portugal.

E para quem quiser tomar um refrescante banho numa tarde quente de verão, nada melhor do que fazê-lo perto da bela ponte românica que fica entre Hermisende e S. Cibrão, com uma paisagem espectacular envolvente...

Foto 1. Vista geral de Hermisende.
Foto 2. S. Cibrão visto de Hermisende.
Foto 3. Ponte românica sobre o rio Tuela.
Foto 4. Rio Tuela e Serra da Escusanha (limite fronteiriço nos cumes).
Foto 5. Vista geral da Teixeira.

Ver Hermisende num mapa maior

Mapa 1. Mapa geral de situação.

5 comentários:

  1. Buen spot, tendremos que pasarnos por esos lares.

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  2. Grazas, gracias, obrigado.

    Sí, la verdad es que esa zona es una zona linda de ver. Es naturaleza en estado puro, como también lo es la Baixa Limia de tu blog, el cual me encantó.

    Apertas portuguesas.

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  3. No conozco estos pueblos que comentas y eso que pasé multitud de veces por la carretera nacional camino de ida ó vuelta de Galicia en los años 80.
    Además Hermisende creo que es conjunto histórico-artístico.

    También tengo pendiente Guadramil y Petisqueira.

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  4. Son aldeas que valen la pena, pues son pequeñas reliquias etnográficas en vivo y que hay que aprovechar para ver antes de que su llama se extinga...

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  5. ¿Conoces algún enlace dónde vengan los movimientos de la frontera después del Tratado de Alcañices?.

    Creo que también San Felices de los Gallegos fue portuguesa algún tiempo.

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