segunda-feira, 27 de abril de 2009

Curiosidades fronteiriças: Barragem do Abrilongo

Partindo da aldeia de Degolados e freguesia do concelho de Campo Maior achamos à direita da N371 uma estradinha alcatroada que nos conduz até aos montes vizinhos, mas também até à barragem do Abrilongo. Esta barragem está situada sobre a ribeira de Abrilongo, um pequeno riacho que nasce nas encostas da Serra de S. Mamede e faz fronteira com a Extremadura espanhola apartir da aldeia de Parra até a própria barragem antes de desaguar no río Xévora, afluente do Guadiana.

A particularidade da barragem é que parte dela está dividida em duas partes pela Raia, mas não pelo meio, como seria de esperar, mas sim apenas em parte. Quem vem de Degolados encontra-se com a estrada a passar acima da barragem até que, subitamente, deixa de estar alcatroada. É então substituída por um caminho de terra batida onde confluem outros caminhos que são fronteiriços.

A fronteira decorre então pelos arames farpados que delimitam os montados espanhóis vizinhos da Extremadura espanhola (em espanhol, dehesas), sendo que o caminho é inteiramente português, mas os campos são já espanhóis. É nesse contexto que aparecem dois marcos fronteiriços, o 716A e o 716B a marcar a Raia. Esse caminho conclui numa via morta que desaparece no fundo da barragem. Há, no entanto, a possibilidade de entrar em Espanha por outro caminho de terra batida que vai dar para este caminho e que liga a barragem com os montes (em espanhol, para os nossos leitores espanhóis, cortijos) extremenhos da vizinhança, que em nada se diferenciam dos portugueses no que respeita à sua utilidade económica como explorações agro-pecuárias.

Alguns dos arames farpados que delimitavam a fronteira deviam ser antigos, visto que é completamente visível o facto de alguns ficarem submersos na água. Como acontece sempre, podemos dar un pulo e mudar de país como quem muda de camisola...

De resto, a barragem fica situada numa região caracterizada pelo montado alentejano (ou se se preferir, alentejano-extremenho), com azinheiras e sobreiros como árvores mais representativas e resulta especialmente indicado para dar um passeio para quem quer entrar em contacto com a natureza ou quer passar uma tarde de primavera sossegado no meio de uma calmaria absoluta.

Foto 1. Ponto de ligação da estrada da barragem com o caminho de terra batida. A fronteira decorre pela zona delimitada pelos arames.
Foto 2. Marco fronteiriço 716B visto do lado de Portugal.
Foto 3. Continuação do limite fronteiriço. À esquerda se inicia o caminho de terra batida já em terras espanholas e a fronteira continua pela lomba observada à esquerda após a zona delimitada pelo arame.
Foto 4. Marco fronteiriço 716A.
Foto 5. Marco fronteiriço 716A com vistas para as vizinhas terras espanholas.
Foto 6. Panorâmica geral das terras espanholas visto do limite fronteiriço.
Foto 7. Panorâmica geral da barragem visto do limite fronteiriço (Norte).
Foto 8. Panorâmica geral da barragem visto do limite fronteiriço (Sul).
Foto 9. Continuação do limite fronteiriço nos arames farpados.
Foto 10. Terras espanholas vistas da cabeceira da barragem.
Foto 11. Vista geral da barragem.
Foto 12. Vista da barragem e dos montes alentejanos vizinhos.


Ver Sem título num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação geral. O ponto azul indica a zona onde se inicia o percurso descrito nesta mensagem.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Fortalezas da Raia: Forte da Conceição/Fuerte de la Concepción

Praticamente na mesma fronteira, uma das fortificações da Raia mais emblemáticas é o chamado Forte da Conceição ou Fuerte de la Concepción. Situa-se na fronteira entre Vale da Mula e Aldea del Obispo, entre a Beira Interior e a província de Salamanca e é um bom exemplo (embora em ruínas) de fortaleza abaluartada nesta região junto das muralhas de Ciudad Rodrigo e a fortaleza de Almeida.

Iniciou-se a sua construção na Guerra da Restauração, em 1663, no dia 8 de Dezembro (daí o seu nome), mas foi destruído no ano seguinte, após a vitória portuguesa na batalha de Castelo Rodrigo. Foi reconstruído entre 1736 e 1758, mas com a Guerra Peninsular foi desactivado pelo Duque de Wellington em 1810, após a invasão de Portugal pelo general francês Massena. Desde então ficou como ruína até hoje.

Importa salientar a sua posição estratégica, que é bem visível pelo território que domina ao seu redor. Embora se erga, sobranceiro, sobre um pequeno outeiro não demasiado alto, controla a região que se extende até Fuentes de Oñoro a Sul, Castillejo de Dos Casas a Leste, Aldea del Obispo a Nordeste e, sobretudo, Vale da Mula a Poente, já em Portugal.

É imperdível a sua visita para quem ser fã das construções militares abaluartadas, juntamente com a vizinha Almeida, sita apenas a 8 km. Para mais especificações técnicas sobre a fortaleza, existe um bom artigo na Wikipédia espanhola (a Wiki portuguesa apenas faz uma referência muito superficial sobre o assunto) e pode ser consultado aqui.

Foto 1. Entrada ao forte.
Foto 2. Ruínas da fortaleza (Norte).
Foto 3. Ruínas da fortaleza (Sul).
Foto 4. Vista panorâmica para Sul até Fuentes de Oñoro.
Foto 5. Castillejo de Dos Casas visto do forte.
Foto 6. Vista geral de Aldea del Obispo.Foto 7. Vale da Mula visto do forte.


Mapa 1. Mapa de situação da fortaleza.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Fronteiras: Montalvão/Cedilho

Sem dúvida, uns dos recantos mais desconhecidos do país, para qualquer português ou espanhol é a «fronteira» de Montalvão/Cedilho. Pusemos o termo «fronteira» entre aspas porque não é bem uma fronteira do ponto de vista ao que estamos normalmente acostumados. A fronteira é, neste caso, uma barragem, que por cortesia da empresa espanhola Iberdrola, permite o trânsito de ligeiros designadamente aos finais de semana, a certas horas em que as viaturas podem passar pela barragem evitando, desse modo, ter de se deslocar para a fronteira de Galegos/Puerto Roque, que, como já vimos, liga Marvão com Valência de Alcântara.

Os vizinhos levam anos reclamando uma ponte neste lugar, mas nada se tem feito. Imaginamos que, se para o caso de Alcoutim/Sanlúcar de Guadiana, onde há muita mais população, não se fez nada ainda, muito menos neste caso, mesmo que muito mais singelo, onde o número de pessoas servidas é muito menor e ultrapassa por muito pouco, o milhar. Isto condena esta região a ser um verdadeiro «cul-de-sac», como foram, aliás, muitas zonas raianas até a integração ibérica na União Europeia. O lugar tem uma beleza induvitável nesta zona do Tejo Internacional. Não chega a ser tão íngreme como no caso do Douro Internacional e as suas arribas, mas quase.

Do ponto de vista etnográfico resulta muito interessante por ser uma zona de contacto de influências entre o Alto Alentejo e a Beira Baixa. É ainda, um lugar caracterizado pela sua fauna e flora, bem como os restos geológicos de outrora. É por isso que na região confluem o Parque Natural do Tejo Internacional, um dos últimos parques a ser declarado como tal, em 2000, e ainda o Geopark Naturtejo, integrando, portanto, a rede de geoparques da UNESCO, com interessantes geossítios, com destaque para as vizinhas Portas de Ródão, a escarpa de falha do Ponsul e ainda outros que podem ser descobertos no site indicado. É pena mesmo que a parte espanhola não esteja integrada, sobretudo a parte que se extende entre Cedilho e Alcântara, tendo em conta que tanto Cedilho como Ferreira de Alcântara (Herrera) são aldeias que falam a nossa língua portuguesa.

Sem dúvida, uma ponte na região seria um facto muito positivo. Do meu ponto de vista, a ponte não devia ficar apenas como uma ligação entre Montalvão e Cedilho, mas também com Monte Fidalgo. Isto iria possibilitar que Castelo Branco estivesse muito mais perto destas aldeias. Para Montalvão não haveria tanta diferença, mas mesmo assim, esta cidade ficaria a uma distância mais ou menos similar à de Portalegre. Quanto ao Cedilho, a vantagem seria enorme: 35 km. entre a aldeia e Castelo Branco contra 115 km. até Cáceres. Certamente uma pessoa que estivesse doente de urgência podia ser transportada de maneira muito mais rápida até ao Hospital de Castelo Branco do que até o de Cáceres, uma vez que os acordos entre Portugal e Espanha permitem a partilha de serviços em matéria de saúde. Infelizmente, os políticos são avessos a este tipo de coisas, e dificilmente olham para o benestar das pessoas, designadamente no caso de serem poucos votos e pouco significativas. Mas isso é lá outra conversa...

Como não podia ser de outra forma, nada melhor do que ilustrar isto com umas fotografias da região.

Foto 1. Vista geral da barragem de Cedilho do lado de Portugal.
Foto 2. Vista geral da barragem de Cedilho do lado de Espanha.

Foto 3. Outra vista da barragem do lado de Portugal. Questão: Por que a sinalética está em espanhol? Não deveria estar em português ou pelo menos ser bilingue? Mal, pela companhia.

Foto 4. Acesso à barragem e ao lado espanhol visto do lado português.
Foto 5. Acesso à barragem e ao lado português do lado de Espanha.
Foto 6. «Fronteira» portuguesa. Sinal de boas-vindas para a freguesia de Montalvão.
Foto 7. Vista da barragem da foz do Sever, no ponto em que desagua no Tejo, do lado de Portugal.
Foto 8. Vista da barragem na foz do Sever vista do lado de Espanha.
Foto 9. Rio Sever visto do lado de Espanha.
Foto 10. Vista da foz do Sever e ponte de acesso ao lado de Espanha.
Foto 11. Embarcadouro do rio Sever no lado português.
Foto 12. Vista do Tejo do lado de Espanha com vistas à Beira Baixa (embarcadouro de Monte Fidalgo).
Foto 13. Tejo Internacional: Espanha (direita) e Portugal (esquerda).
Foto 14. Tejo Internacional com o Parque Natural do Tejo Internacional na margem direita do rio.


Ver mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação (Montalvão fica a uns 10 km. para sul da barragem).