quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fronteiras: Penamacor/Valverde del Fresno

Uma das fronteiras talvez menos conhecidas é a que liga Penamacor com a localidade de Valverde del Fresno. A particularidade desta fronteira é que é capaz de ser a fronteira na que as localidades ligadas ficam mais distante, uma coisa como 30 km., sem nenhuma aldeia ou povoação intermédia. De facto, a fronteira de Aldeia do Bispo, através da passagem pela aldeia de Navasfrías, já em terras de Salamanca, fica mais próxima de Valverde del Fresno, apesar de ter de atravessar a Serra de Gata, do que a fronteira de Penamacor.

No entanto, vale a pena percorrer estes 30 km. Do lado português, a bela localidade de Penamacor, com o seu castelo, entre outros elementos interessantes do ponto de vista turístico. Do lado espanhol, a particularidade de Valverde del Fresno pertencer aos chamados Três Lugares, conjuntamente con Eljas y San Martín del Trevejo. Estas três localidades apresentam a peculiaridade de formarem parte do chamado Vale de Xálima, onde é falado um dialecto, ainda vivo, de origem galaico-portuguesa com alguns traços asturo-leoneses. É possível, de facto, achar uma sinalética bilingue em alguma destas aldeias onde cada localidade tem o seu dialecto particular designado como valverdeiro, lagarteiro e manhego, segundo se trate de Valverde do Freisno, As Ellas ou Sa Martin de Trevellu.

A paisagem é também interessante, já que quem desce do sistema montanhoso das serras de Gata-Malcata pode observar uma gradação na vegetação da região entre uma vegetação atlântico-mediterrânica a Norte do sistema e uma vegetação plenamente mediterrânica a Sul, com predomínio das azinheiras, mas também oliveiras, videiras e outras espécies mais expostas aos rigores do Verão, muito mais quente para este lado. O relevo da região é o de uma pequena peneplanície alombada quebrada apenas pelo curso de pequenos riachos que dão uma sensação de relevo mais abrupto e onde o destaque vai sobre tudo para o granito, que é a matéria prima das casas tradicionais beirãs da região. Existem ainda muitos caos graníticos ou inselbergs que dão um ar misterioso à zona.

Sem dúvida, uma região a visitar!

Foto 1. Fronteira portuguesa.
Foto 2. Fronteira espanhola vista do lado de Portugal.
Foto 3. Antiga estrada sobre o rio Torto (afluente do Erges) e marco fronteiriço.
Foto 4. Marco fronteiriço situado do lado de Espanha.
Foto 5. Limite fronteiriço situado na ponte sobre o rio.
Foto 6. Valverde del Fresno visto da subida pela estrada a Navasfrías.
Foto 7. Vista das Eillas e da Serra de Gata.
Foto 8. Vista da Serra de Gata (limite Extremadura/Salamanca) da estrada a Navasfrías.


Ver Fronteira Penamacor/Valverde del Fresno num mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

10 comentários:

  1. Caro amigo

    Esta sua crónica sobre Penamacor chamou-me à atenção pela sua qualidade.
    Gostaria de o convidar a publicar este e outros artigos referentes às terras de Fronteira ou à Raia como gostamos de dizer no Sabugal no blogue Capeia Arraiana.

    Em alternativa agradecia a sua autorização para publicar esta crónica no Capeia Arraiana.

    Cumprimentos raianos,

    José Carlos Lages
    http://capeiaarraiana.wordpress.com

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  2. Nada más lejos de mi intención crear la polémica, pero es curioso que nombres "Samartiño do Trebello" un nombre evidentemente muy galleguizado.

    Tengo una fotografía que tomé allí mismo de un cartel en el que pone "SaMartín de Trebeyu", si no recuerdo mal.

    Creo que ya discutimos sobre el tema anteriormente y sin ser evidentemente un experto en lenguas, cuando paseo por las calles de la zona y leo los letreros de las calles me da la impresión de estar en cualquier pueblo del centro-oriente asturiano y mucho más que en uno gallego.

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  3. Caro Jose Carlos;

    É com prazer que informo que tem a minha permissão para publicar a crónica no seu blogue, para além daquelas referidas ao concelho do Sabugal, uma terra da que gosto imenso e que tanta História tem para contar.

    Para mim nada há melhor do que encontrar pessoas como o senhor que gostam dos meus escritos. Embora seja para mim uma forma de expressar aquilo que sinto, emoções, sei lá, aquilo que se passa pela cabeça, sempre é reconfortante saber que há alguém que aprecia. Por isso, não hesite em continuar a visitar o blogue e em perguntar aquilo que quiser.

    Cumprimentos raianos também para si,

    Luís Seixas (Gaiato Alentejano).

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  4. Hola Toni.

    Sí, es cierto que hablamos sobre esa cuestión. Aunque el blog no pretende crear polémicas, simplemente me remito a lo que dicen la mayor parte de los filólogos, que lo encuadran como un dialecto galaico-portugués aunque sin olvidarse de esa influencia astur-leonesa. Su percepción, sin embargo, no es del todo equivocada si tenemos en cuenta que en la vecina comarca salmantina de El Rebollar el habla local ha sido catalogada dentro de los dialectos del leonés oriental y que esas influencias también se hacen sentir en esta zona del noroeste de Cáceres.

    Con todo, me remito a lo dicho. En Wikipedia (aunque no la considero una fuente totalmente fiable) se encuentran referencias al respecto (http://es.wikipedia.org/wiki/Fala_%28valle_de_J%C3%A1lama%29) y, si bien sé que algún autor lo ha considerado un dialecto astur-leonés, lo cierto es que esa hipótesis no es la más comúnmente aceptada.

    Por textos que he leído, veo patente cierta influencia astur-leonesa, pero lo encuadraría como galaico-portugués. Creo que tiene la suficiente entidad como para no considerarlo simplemente como portugués (ya que se aparta del dialecto «beirão», dialecto del portugués más próximo) y tampoco sería tan radical como para calificarlo de «galego meridional».

    En fin, será mejor disfrutar de las localidades que jugar a decir si son galgos o podencos. Je. je. Je.

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  5. Por casualidad he llegado a este blog y me ha encantado ver esta entrada, ya que mis padres son de Eljas y en mi casa siempre se han contado historias de contrabando. Un saludo afectuoso.

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  6. Eu já lá estive e é realmente muito bonito e também gostei da estrada valverde del fresno - navasfrias.
    é um lugar a vistar

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    1. Obrigado e cumprimentos para todos aqueles que gostaram de esta entrada. ;-)

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    2. Olá a todos! Sou novo no blogue, que considero uma jóia. Se me permites, Luís, acrescentaria algo a este assunto de Valverde, como era conhecida esta aldeia na Idade Média. Foi portuguesa, termo de Penamacor, apesar de ter nascido no alfoz de uma vila leonesa mais antiga e há muito despovoada, Salvaleón, na confluência do Baságueda com o Erges. Ignoro quando foi incorporada em Portugal, mas Rita Costa Gomes situa a passagem para Castela-Leão entre 1402-1414, na sequência de conflitos nessa região. A investigadora refere também uma carta posterior remetida por D.Afonso V aos moradores de Valverde justificando a toma de bens por aqueles se haverem levantado por Castela. Dois séculos mais tarde, Brás Garcia de Mascarenhas dizia de Valverde "vila que antigamente foi nossa segundo afirmam seus moradores cuja lingua e Camara retem inda muito de português". Esta pertença a Portugal parece ser ignorada (propositadamente?) por investigadores que polemizam sobre várias hipóteses para a peculiaridade linguística da zona. Só por curiosidade, a pia baptismal da antiga matriz de Salvaleón está, segundo li, no Museu de Castelo Branco.

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    3. Obrigado pela sua informação, Paidoskixos. Realmente acho que aporta um conhecimento histórico muito interessante. Aliás, pode justificar a inclusão das falas dos «Três Lugares» num contexto mais amplo. Existem três hipóteses a respeito: aquela, já em declínio e que quase ninguém segue, de considerar estas falas como sendo de origem asturo-leonesa; uma segunda hipótese, que as situa como fazendo parte do chamado galego meridional e uma hipótese que veria mais lógica, em que a região pertenceu a Portugal durante uns tempos determinados, tendo deixado os traços linguísticos correspondentes. Por isso estes dados são altamente interessantes nesse sentido.

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    4. Queria acrescentar ainda o facto de muitas vezes, a História e a Linguística não colaborarem juntamente para evitar explicações, quer do ponto de vista linguístico atendendo a factores históricos que já não se sustêm, quer a do ponto de vista histórico, na sequência de estudos de micro-toponímia, antroponímia e toponímia maior.

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