sábado, 26 de novembro de 2011

Fronteiras: Lamadarcos/Vilarello da Cota

Uma das fronteiras menos conhecidas do Alto Tâmega é talvez a existente entre Lamadarcos e a aldeia galega de Vilarello da Cota, que faz parte do concelho de Vilardevós. Este ponto da fronteira é pouco conhecido porque a ligação entre as duas localidades faz-se por meio de um caminho de terra batida com muitos seixos que, se bem é acessível para qualquer tipo de carro, o mais certo será ter de dar um jeitinho no centro de lavagem mais próximo de modo a tirar a poeira levantada com a nossa passagem, deixando a parte da mala do carro completamente branca.

O acesso é relativamente fácil se partirmos de Vilarello da Cota pela estrada OU-1006 que liga a aldeia à capital do concelho e à vizinha localidade de Feces de Cima, que possui também uma ligação local com Lamadarcos. Numa curva bastante fechada encontramos à esquerda um caminho que parece mais o clássico caminho que vai para os lameiros ou os matagais da região, já que se o viajante não é avisado, não dá por ele tratar-se de um caminho fronteiriço em que a fronteira fica mesmo a uns metros da estrada. 

O interesse desta fronteira, para além do facto de ser muito desconhecida, radica nas suas paisagens em que descemos aos poucos, em suave descida, das altas serras do alto de Mairos até o centro do Vale do Tâmega, chegando até as primeiras casas da localidade de Lamadarcos, da qual já falámos neste blogue como sendo um dos «povos promíscuos» que depois dos trabalhos da Comissão Luso-espanhola formada aos efeitos como consequência do Tratado de Limites de Lisboa de 1864, passou na íntegra a pertencer a Portugal em troca do Couto Misto, que foi integrado na Galiza. Das três aldeias promíscuas, Lamadarcos era e ainda é a maior de todas em população até ao ponto de possuir duas igrejas que eram as igrejas matrizes da parte galega e da parte portuguesa, em contraste com as aldeias de Cambedo da Raia e Soutelinho da Raia, mais isoladas e com menos população.

Da lembrança dessa «promiscuidade» dá conta o estudo de Maria José de Moura Santo intitulado «Os falares fronteiriços de Trás-os-Montes», na separata da Revista Portuguesa de Filologia, publicada em 1966 num total de 452 páginas. As misturas existentes entre o galego e o português são evidentes, mas também não resultam estranhas de tudo até porque ambas as duas línguas fazem parte do mesmo diassistema linguístico. Por isso as múltiplas interacções entre ambas são frequentes nestas aldeias raianas.

Definitivamente, mais um pretexto para dar um pulinho até estas terras da Raia, talvez num dos pontos mais permeáveis da mesma pela facilidade nas comunicações e as intensas relações entre ambos os dois lados da fronteira a causa do comércio local, o contrabando, que foi uma actividade tradicional quando ainda existiam fronteiras fiscalizadas pelo posto de Vila Verde da Raia e Feces de Abaixo mas que parece voltar a ressurgir nestes tempos de crise com o contrabando de carburante ou de tabaco chinês que chega a ser vendido até dois euros mais barato do que o tabaco normal comprado na tabacaria. Enfim, tempos em que a necessidade aguça a imaginação das pessoas para tentar ganhar mais uns trocos, mas nem sempre enveredando pelos caminhos certos...




 Foto 1. Limite fronteiriço com Portugal visto da Galiza.
 Foto 2. Marco fronteiriço.
 Foto 3. Marco fronteiriço e limite com a Galiza visto do lado português.
 Foto 4. Vista das serras do concelho de Vilardevós com a aldeia de Vilar de Cervos ao fundo.
 Foto 5. Vista da aldeia de Feces de Cima do limite fronteiriço entre giestas e estevas.
 Foto 6. Vista das lombas em suave descida do alto de Mairos na direcção de Lamadarcos.
 Foto 7. Vilarello da Cota visto da estrada de Mairos.
 Foto 8. Vista do vale do Tâmega com a auto-estrada A24 e A-75 no fundo do vale perto de Vilarello.


Mapa 1. Mapa de situação.

5 comentários:

  1. Olá
    Vim espreitar o seu blog e foi com grande surpresa que vejo que numa das últimas publicações falava da minha aldeia - Lamadarcos :)
    felicito-o pelo blog e deixo a ligação para a eurocidade Chaves-Verin (falamos disto no encontro de vilarelho):
    http://www.eurocidadechavesverin.eu/
    Até ao próximo encontro
    Fernanda Serra

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  2. Muito obrigado, Fernanda. Darei uma olhadela ao site indicado e tenha a certeza de que vou assistir ao próximo encontro.

    Cumprimentos e saudações «promíscuas»!

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  3. coa tua liçenza vou tratar de levar este post ao meu bloge, obrigado.

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  4. Será que em 1887, os nascidos em Vilarello de Cota não eram registrados, ou foram registrados em outra localidade? No registro civil de Vilardevos não tem nenhum registro.

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    1. Os registos civis só começaram na Galiza como em Espanha em 1871. Para saber quem foi registado desde esta época, é preciso ir ao registo electrónico do Ministério da Justiça ou o Registo Civil de cada comarca, isto é, Verín. Anteriormente só há registos paroquiais religiosos, mas de Vilarello da Cota não temos nada nem no Arquivo Histórico Provincial de Ourense nem no Arquivo Histórico Diocesano de Ourense, pelo que para saber se em 1887 havia nascido, casado ou morto alguém é no Ministério da Justiça. Espero ter ajudado.

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