segunda-feira, 5 de março de 2012

Curiosidades fronteiriças: Quinta do Pão de Trigo (Rabaça, f. de S. Julião, c. de Portalegre)

As fronteiras têm essas curiosidades que não por menos conhecidas, deixam de surpreender. No concelho de Portalegre, nos limites entre as freguesias de São Julião e Alegrete, em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, deparamo-nos com uma quintinha chamada de Pão de Trigo. A quinta apresenta a particularidade de estar situada na mesma linha de fronteira e a limitar com outras vizinhas, já do outro lado da fronteira, mas com o mesmo nome e mesmas características formais.

O acesso ao local faz-se pela estrada municipal EM1044 de São Julião até Rabaça e daí na direcção de Soverete. Após passar a ponte do rio Xévora, a estrada começa a sua subida contínua por entre uma série de lombas nas que domina bem o matagal, bem uma floresta de eucaliptos. A particularidade desta parte da estrada é o facto de, na sua parte final, antes da curva que faz com que mude a sua direcção de Sul para Oeste, é que é possível ver daí a maior parte da planície formada pelo vale do rio Xévora no município de La Codosera, já na Extremadura espanhola. A linha de fronteira corre praticamente paralela à estrada, sendo que na curva antes descrita, a Raia fica a apenas cinco metros da estrada. 

Se na Rabaça a altitude média estava situada entre os 390 e os 420 metros, cá estamos situados a mais de 510 m., com vistas para a pequena serra na que está situado o monte Nasce Água, a 649 m. de altitude, separado da Serra de Bastos pela ribeira de Soverete, afluente do rio Xévora, que fica para além da quinta do Pão de Trigo. No meio desta serra surge um pequeno vale que terá continuidade, já em terras extremenhas, na aldeia de Bacoco, aldeia formada por várias casas e herdades espalhadas pela planície. Importa salientar que a tradição alentejana nesta região raiana é forte, pelos mesmos motivos que os das aldeias vizinhas do Marco, Tojeira ou Rabaça: a colonização portuguesa do último quartel do século XIX.

São estas terras terras de olival, de videiras e de montado, com grande importância da pecuária e a fronteira não parece mais do que um acidente numas terras que parecem reivindicar a sua unidade. Mas que lá está, está. A quintinha é uma bela casa alentejana com uma albufeira com açude e belos campos de videiras e olival. O simpático dono da casa indicou-nos a posição dos marcos fronteiriços, pelo que ficamos a saber que existiam três: um marco maior e outro mais pequeno, no meio de um olival, com a vizinha casa espanhola do mesmo nome ao lado, sendo que o terceiro ficava no meio da floresta no início da curva indicada. E com esse fim fomos dar um aprazível passeio no fim da tarde, acompanhados dos cães da quinta com o intuito de conhecer estes mais isolados recantos raianos e poder mostrá-los aos nossos leitores. Espero que gostem!

Foto 1. Vista geral da quinta do Pão de Trigo.
Foto 2. Vista da floresta e do limite fronteiriço. O casebre que fica a meia encosta marca a fronteira. Para além das árvores fica a quinta do Pão de Trigo espanhola.
Foto 3. Marco fronteiriço pequeno.
Foto 4. Vista do olival transfronteiriço e da planície do rio Xévora com a Serra da Calera ao fundo.
Foto 5. Limite fronteiriço visto do lado de Portugal com a primeira casa do Pão de Trigo de estilo alentejano que pertence à aldeia de Bacoco, na Extremadura espanhola.
Foto 6. Quinta do Pão de Trigo portuguesa vista do limite fronteiriço.
Foto 7. Marco fronteiriço grande no meio do olival.
Foto 8. Marco fronteiriço visto do lado de Espanha com a quinta do Pão de Trigo portuguesa ao fundo.
Foto 9. Marco fronteiriço visto do lado português.
Foto 10. Olival transfronteiriço.
Foto 11. Vista da quinta do Pão de Trigo espanhola, em estilo alentejano.
Foto 12. Marco fronteiriço situado no início da curva da EM1044.
Foto 13. Paisagem vista da EM1044 ao lado do limite fronteiriço.
Foto 14. Vista das duas Rabaças do limite fronteiriço: Rabaça (f. de São Julião) à esquerda e a Rabaça espanhola (La Rabaza) à direita.



Mapa 1. Mapa de situação.

Mapa 2. Mapa específico.

2 comentários:

  1. Mais uma curiosidade fronteiriça que apenas passo a conhecer devido ao teu blog! Muitos Parabéns! :-)

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  2. É sempre bom saber e ficar a conhecer um pouco mais do nosso Alentejo. Obrigado O Alentejo não tem fim!

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