No Baixo Alentejo, numa das zonas mais esquecidas do país, encontramos a vila de Barrancos, a uns 30 km. das povoações portuguesas mais próximas (Amareleja e Safara) e a 10 km. da aldeia espanhola de Encinasola. Não admira que se tenha desenvolvido aqui um falar próprio conhecido como 'barranquenhu' que mistura tanto o português alentejano com o dialecto andaluz do espanhol e ainda traços asturo-leoneses. Em Barrancos o destaque vai para a agricultura e a indústria agro-alimentar pelo desenvolvimento da indústria dos enchidos do famoso porco preto, sendo que o presunto é a estrela, mas não só. A grande propriedade e o montado alentejano são algumas das características destas terras que escondem a sua beleza, mas que estão à espera de que o viajante, o visitante as encontre e as aprecie.
A própria vila ergue-se sobranceira sobre um outeiro a apenas 1 km. da fronteira e o seu casario combina a tradição alentejana com traços das aldeias espanholas vizinhas. Há ainda o castelo de Noudar, muito importante na época da Reconquista, e praça conquistada definitivamente para o nosso país pelo rei D. Dinis em 1295, pouco antes do Tratado de Alcanices, já que a margem esquerda do Guadiana tinha estado na posse de Castela, incluindo este castelo e ainda os de Serpa e Moura, feito confirmado pelo Tratado de Badajoz de 1267. Neste sentido, o castelo de Noudar foi uma peça-chave nas disputas e litígios entre Portugal e Castela até à sua definitiva re-incorporação ao nosso país. Este património e a paisagem natural envolvente são umas mais valias para ficar por cá pelo menos um fim-de-semana. Não acham?
Foto 1. Fronteira luso-espanhola Barrancos/Encinasola.
Foto 2. Vista geral de Barrancos.
Foto 3. Meandro da Ribeira de Ardila vista do castelo de Noudar. A margem direita é espanhola (província de Badajoz) e a esquerda é portuguesa.
Foto 4. Torre de Menagem do castelo de Noudar.
Foto 5. Paisagem de montado alentejano vista do castelo de Noudar.
Em meados dos anos oitenta, estive alguns dias em Barrancos, nas Festas de Agosto. A interligação com Encinasola era perfeita, embora ainda houvesse posto de fronteira e controle de passagem. Do lado português, isso era feita com alguma formalidade. Do lado espanhol, os guardas tinham uma mesa debaixo de uma árvore e apenas apontavam o nome que quem passava lhes dava, sem verificarem documentos. De regresso a Barrancos, transportei um homem, que fiquei a saber que era importante na região, pela forma como foi cumprimentado pelos agentes de um e de outro lado da fronteira.
ResponderEliminarNa época eu era professor do ensino primário e fui à Delegação Escolar cumprimentar, para o caso de ser preciso alguma coisa... Estava presente toda a equipa educativa do concelho de Barrancos, que se resumia à Delegada, a uma professora e a uma auxiliar de acção educativa. Reparei que se calaram quando entrei e explicaram-me depois que estavam a falar "barranquenho" entre elas.
Caro Fernando,
EliminarGostei muito do seu comentário, já que reflecte o quotidiano das relações transfronteiriças e a vida e tradições raianas. Quanto ao facto de calarem-se por falarem barranquenho, é um facto que quando um grupo social fala um dialecto ou uma língua (não há consenso quanto a como defini-lo) que não a língua oficial, considerada «superior» em razão de ser língua de estado, normalmente costuma esconder-se perante pessoas que consideram estranhas ou a estrangeiros por mor de evitar serem alvo de chacota ou serem gozados, que é o que costumam fazer as pessoas sem um mínimo de sensibilidade social e cultural.
De resto, os seus comentários são bem-vindos. Por isso, não hesite em contar «estórias» da vida real de tempos não tão longínquos que ajudam a ver a alma e o verdadeiro ser raiano.
Cumps.
Luís.