sábado, 14 de junho de 2008

Baixo Alentejo: Barrancos/Encinasola

No Baixo Alentejo, numa das zonas mais esquecidas do país, encontramos a vila de Barrancos, a uns 30 km. das povoações portuguesas mais próximas (Amareleja e Safara) e a 10 km. da aldeia espanhola de Encinasola. Não admira que se tenha desenvolvido aqui um falar próprio conhecido como 'barranquenhu' que mistura tanto o português alentejano com o dialecto andaluz do espanhol e ainda traços asturo-leoneses. Em Barrancos o destaque vai para a agricultura e a indústria agro-alimentar pelo desenvolvimento da indústria dos enchidos do famoso porco preto, sendo que o presunto é a estrela, mas não só. A grande propriedade e o montado alentejano são algumas das características destas terras que escondem a sua beleza, mas que estão à espera de que o viajante, o visitante as encontre e as aprecie.

A própria vila ergue-se sobranceira sobre um outeiro a apenas 1 km. da fronteira e o seu casario combina a tradição alentejana com traços das aldeias espanholas vizinhas. Há ainda o castelo de Noudar, muito importante na época da Reconquista, e praça conquistada definitivamente para o nosso país pelo rei D. Dinis em 1295, pouco antes do Tratado de Alcanices, já que a margem esquerda do Guadiana tinha estado na posse de Castela, incluindo este castelo e ainda os de Serpa e Moura, feito confirmado pelo Tratado de Badajoz de 1267. Neste sentido, o castelo de Noudar foi uma peça-chave nas disputas e litígios entre Portugal e Castela até à sua definitiva re-incorporação ao nosso país. Este património e a paisagem natural envolvente são umas mais valias para ficar por cá pelo menos um fim-de-semana. Não acham?

Foto 1. Fronteira luso-espanhola Barrancos/Encinasola.
Foto 2. Vista geral de Barrancos.
Foto 3. Meandro da Ribeira de Ardila vista do castelo de Noudar. A margem direita é espanhola (província de Badajoz) e a esquerda é portuguesa.
Foto 4. Torre de Menagem do castelo de Noudar.

Foto 5. Paisagem de montado alentejano vista do castelo de Noudar.

2 comentários:

  1. Em meados dos anos oitenta, estive alguns dias em Barrancos, nas Festas de Agosto. A interligação com Encinasola era perfeita, embora ainda houvesse posto de fronteira e controle de passagem. Do lado português, isso era feita com alguma formalidade. Do lado espanhol, os guardas tinham uma mesa debaixo de uma árvore e apenas apontavam o nome que quem passava lhes dava, sem verificarem documentos. De regresso a Barrancos, transportei um homem, que fiquei a saber que era importante na região, pela forma como foi cumprimentado pelos agentes de um e de outro lado da fronteira.
    Na época eu era professor do ensino primário e fui à Delegação Escolar cumprimentar, para o caso de ser preciso alguma coisa... Estava presente toda a equipa educativa do concelho de Barrancos, que se resumia à Delegada, a uma professora e a uma auxiliar de acção educativa. Reparei que se calaram quando entrei e explicaram-me depois que estavam a falar "barranquenho" entre elas.

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    1. Caro Fernando,

      Gostei muito do seu comentário, já que reflecte o quotidiano das relações transfronteiriças e a vida e tradições raianas. Quanto ao facto de calarem-se por falarem barranquenho, é um facto que quando um grupo social fala um dialecto ou uma língua (não há consenso quanto a como defini-lo) que não a língua oficial, considerada «superior» em razão de ser língua de estado, normalmente costuma esconder-se perante pessoas que consideram estranhas ou a estrangeiros por mor de evitar serem alvo de chacota ou serem gozados, que é o que costumam fazer as pessoas sem um mínimo de sensibilidade social e cultural.

      De resto, os seus comentários são bem-vindos. Por isso, não hesite em contar «estórias» da vida real de tempos não tão longínquos que ajudam a ver a alma e o verdadeiro ser raiano.

      Cumps.

      Luís.

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