domingo, 11 de janeiro de 2009

Fronteiras: Petisqueira/Villarino de Manzanas

De certeza que os meus caros leitores terão achado em falta novos tópicos durante estas semanas. Pois é! Com o Natal, aproveitei para ver a família que tenho em outras partes do país e do estrangeiro e, é claro, não tive ocasião de actualizar este blogue. Mas não me mantive inactivo. As viagens foram também uma oportunidade de poder conhecer ou voltar a lugares da Raia, por vezes esquecidos, mas que também resultam muito interessantes.

Um destes lugares, que não é fronteira nem nada, é a "fronteira" entre a Petisqueira e Villarino de Manzanas. Meto o termo 'fronteira' entre aspas porque realmente é apenas um caminho de terra batida e uma ponte de cimento no meio do rio Maçãs/Manzanas, mas que é muito útil, sobre tudo quando a outra opção de chegar de carro da Petisqueira até Villarino ou viceversa é fazê-lo pela fronteira de Quintanilha, o que representa um percurso de 55 km. contra um que não chega nem a três.

Trata-se de uma região muito esquecida, tanto do lado de Portugal como do lado de Espanha. Villarino de Manzanas é, junto com Riomanzanas, uma das aldeias mais apartadas da civilização na comarca zamorana de Aliste, região que foi portuguesa nos tempos do primer rei português, D. Afonso Henriques. A Petisqueira, por sua vez, faz parte da freguesia de Deilão, junto com esta localidade e a vizinha Vila Meã, dentro do extenso concelho de Bragança. Trata-se de uma aldeia muito pequena, com apenas 20 moradores, mas muito interessante do ponto de vista etnográfico e linguístico.

A zona faz parte da região da Lombada, um território caracterizado pelas altas planícies e lombas existentes que atingem os 959 m. de altitude perto de S. Julião de Palácios. A nascente fica uma fronteira limitada pelo rio Maçãs (ou Manzanas, em espanhol), afluente do Sabor, que por sua vez, é um afluente do Douro. O início de tal raia 'húmida' é precisamente uns 200 m. acima deste ponto fronteiriço. O rio servirá de fronteira até a sua entrada definitiva em Portugal águas abaixo de Paradinha e Latedo, entrando no concelho de Vimioso. Nesta parte o rio fica já levemente encaixado entre montanhas, mas com o decorrer do mesmo, as encostas são mais íngremes e adquirem a aparência de 'arribas' tal como no troço do Douro Internacional.

Do ponto de vista histórico não há muitas notícias sobre a região pelo menos quanto às suas prováveis origens e também não sabemos muito bem se o território sempre esteve na posse de Portugal ou não. As Inquirições de D. Afonso III em 1258 mostram que o território já fazia parte do nosso país. Para quem não saiba o quê são as Inquirições, simplesmente dizer que foram uns inquéritos (inquisitiones) feitas por diversos reis de Portugal com o fim de arrecadar informação sobre os seus domínios, nomeadamente naqueles casos onde se suspeitava que tinham havido usurpações de direitos reais relativamente aos impostos, como aliás, se verificou em inúmeras ocasiões nestas terras de fronteira. O povoamento parece ter estado relacionado com mosteiros leoneses, designadamente o mosteiro de S. Martinho da Castanheira, um mosteiro benedictino situado na vizinha região da Sanábria (Seabra), junto do lago do mesmo nome, e que esteve, em Portugal, na posse de diferentes propriedades em diferentes aldeias do concelho de Vinhais e Bragança como também na Terra de Miranda.

Daí que etnográficamente, apesar de separados pela fronteira, a Sanábria e a Lombada compartilhem alguns elementos comuns. O mesmo se pode dizer quanto à língua. Se bem que o português é falado nesta região enquanto língua nacional, também se fala (ou se falava) o chamado dialecto maçaneiro, que faz parte de um conjunto de falares chamados , pela sua situação geográfica, falares raianos, e que não são de origem portuguesa mas sim leonesa ou, melhor dito, asturo-leonesa. Se bem que não quero agora falar nisso, já que tenciono fazê-lo num 'post' específico sobre a questão, baste dizer que se verificam muitas interferências entre o português e o asturiano ou astur-leonês nesta região, como aliás, seria de esperar.

É, sem dúvida, uma região muito interessante, povoada por gente simples, mas amável e aberta com o visitante. Mas com estes dias de frio que estamos a passar, talvez deviamo-nos deliciar com uma sopa de couve nabiça quente e uma boa posta de vitela mirandesa, não acham? Pois é!

Foto 1. Marco fronteiriço situado na parte espanhola do rio Maçãs/Manzanas.
Foto 2. Rio Maçãs visto do próprio limite fronteiriço, a Sul. Portugal fica à direita e Espanha à esquerda.
Foto 3. Rio Maçãs visto a Norte. Portugal fica à esquerda e Espanha à direita.
Foto 4. Parque de merendas existente na parte espanhola.
Foto 5. Estrada de ligação entre a fronteira e a Petisqueira. É também a entrada para o Parque Natural de Montesinho.

Foto 6. Ponte sobre o rio Maçãs e ponto fronteiço.


Ver mapa maior

Mapa 1. Mapa de situação.

7 comentários:

  1. Enhorabuena por el blog. Es muy interesante.

    En esta zona que comentas en la parte española hay un pueblo muy bonito digno de visitar: Santa Cruz de los Cuérragos.
    También Riomanzanas merece una visita.

    En la parte portugesa no conozco Guadramil pero creo que también merece la pena.

    Parabens!!!

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  2. Gracias, Toni. Lo voy haciendo poco a poco, a ratos. Y sí, tanto Santa Cruz de los Cuérragos como Riomanzanas son pueblos preciosos. Me encantaron cuando los visité. Y es que para mí el oeste de Zamora es una de las zonas de España que más me gusta.

    Te agradezco nuevamente el comentario y visita el blog siempre que quieras. Intentaré que todos los 'posts' sean interesantes.

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  3. A mi también me gusta mucho el oeste de Zamora y en general las provincias de la Ruta de la Plata. El sur de Salamanca, norte de Cáceres y las Beiras me gustan sobre todo.

    Hace poco estuve pasando un fin de semana en Guarda y me gustaron mucho las Aldeias Historicas, como Sortelha, Sabugal, Trancoso, Linhares, etc.
    Es una lástima que en España sean totalmente desconocidas estando tan cerca.

    También estuve la pasada Semana Santa en Evora. Entre las visitas estuvo por supuesto Elvas.

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  4. Retomo el post para preguntarte si aunque haya un camino de tierra, se pasa bien entre Petisqueira y Villarino. Es para visitar la zona y ahorrarse el rodeo por Quintanilha.

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  5. Perdona que haya tardado en contestar, ya que estuve en Lisboa estos días. Te contestaré en este post y el último, para garantizar que lo lees.

    Efectivamente, el camino entre Villarino de Manzanas y Petisqueira es de tierra batida. Sin embargo, no es muy largo y permite ahorrar mucho tiempo, sobre todo si se quiere visitar esta parte. Entre el indicador para Petisqueira y la frontera apenas habrá medio kilómetro. Entre la frontera y Petisqueira hay un kilómetro aproximadamente, pero la carretera no ofrece ninguna dificultad. Se trata de una subida un poco pendiente, pero yendo muy despacio (20-30 km/h)no demora ni cinco minutos. Una vez ya en Petisqueira, la carretera ya está asfaltada, con lo cual ya no hay problema en ese sentido. Como curiosidad, que pienso poner en el blog en breve, esta carretera bordea la frontera, por lo que te encontrarás marcos fronterizos al lado mismo e incluso carteles de "Coto regional de Caza de la Junta de Castilla y León" en la parte ya española hasta llegar a la carretera que viene desde Babe, S. Julião y Deilão hasta Guadramil.

    Si pretendes visitar Guadramil, queda cerca y desde allí también puedes ir a Rio de Onor, ya que hay una carretera "novinha em folha" que casi puedes estrenar porque el tráfico es inexistente.

    Como sé que te gusta apreciar la buena comida, aunque tus experiencias con la cocina portuguesa, según tu blog, no han sido tan positivas como debieran, te recomiendo dos restaurantes de la zona. Uno es el "Ti Roberto", en Gimonde, a 5 km. de Bragança, en el que se puede apreciar la "posta de vitela mirandesa", un buen trozo de carne de ternera de raza mirandesa, que se corta como la manteca, especialmente si, como es mi caso, te gusta poco pasada. Otro es el "Solar Bragançano". Es un palacio del siglo XVIII (atención a los techos en madera de castaño), junto a la Sé (Catedral) de Bragança y tiene un bonito aire decadente y una comida de primera calidad en la que destacan los platos de caza cocinados en el pote. Ideal para ser regado con un Douro Tinto encorpado.

    Espero haberte sido de utilidad.

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  6. Mejor explicación imposible. Muchas gracias.

    En Río de Onor estuve ya 3 ó 4 veces pero nunca en Guadramil y Petisqueria, por eso quería saber si se podría pasar hacia Villarino.

    Gracias por las recomendaciones de restaurantes. Ambos son conocidos en las guías. En cuanto a mis últimas experiencias en Portugal tampoco han sido tan malas. Los de Porto me gustaron en general así como el Fialho de Evora. Lo que pasa es que iba con altas expectativas a alguno como O Cortiço de Viseu y salí muy decepcionado.
    Pienso que el gran fallo de la cocina portuguesa es el exceso en los puntos de cocción.

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  7. Me alegra que te sirva la información. Efectivamente aquí en Portugal, como te dije, cocemos más las cosas, por lo que para paladares como el español puede dar la sensación de que la comida está "passada".

    En cuanto a los restaurantes, sí, desilusiones siempre hay. Yo, por eso, prefiero ir sin ideas preconcebidas y aunque sigo varias guías, sobre todo en zonas que uno no conoce, no voy con muchas expectativas, por si acaso. A veces voy a sitios guiándome por mi intuición y que no están en las guías, y me llevo sorpresas agradables. En fin, eso de la comida es tan subjetivo que hasta depende del estado de ánimo de uno...

    Espero que disfrutes del paseo por esas hermosas tierras. Solo me queda decirte "a boa maneira portuguesa": Boa viagem!

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