quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Festas do Povo: Campo Maior (2011)

Reconheço que tinha um bocadinho abandonado o blogue. Diferentes projectos profissionais, entre os quais o meu Doutoramento em História, viagens que tive de fazer, férias, etc., para além da vontade do dolce far niente, tem feito que não tinha postado nada estes meses. Mas isso não quer dizer que tenha estado parado. De facto aproveitei o tempo para visitar diferentes lugares, entre eles alguns da Raia, para poder apresentar aos meus leitores mais fotografias ilustrativas dos locais que valem a pena mesmo visitar e que se inserem na temática tratada neste blogue.

E para entrar em grande, nada melhor do que falar das Festas do Povo de Campo Maior, que tiveram lugar a semana passada e que foram alvo de programas televisivos, nomeadamente a RTP, a transmitir de lá parte dos eventos que tiveram lugar nesta vila raiana. Praticamente estiveram lá visitantes de todo o país, dos emigrantes que voltavam para a terra e da vizinha Extremadura espanhola. Não devemos esquecer que a fronteira do Retiro fica mesmo a 13 km. e logo em seguida está a cidade de Badajoz.

Para quem não conheça estas festas, consistem na decoração das ruas com flores de papel feitas de forma completamente artesanal pelas próprias gentes do lugar. É por isso que bem se pode dizer que são as festas do povo, porque é o povo desta querida vila alentejana quem participa na confecção das flores e de dar voltas à imaginação com o intuito de conseguir ser a rua mais bonita. Uma explicação mais alargada encontra-se no próprio site da organização, que pode ser consultado aqui.

A última vez que estas festas tiveram lugar foi no ano de 2004, sendo que depois de tanto tempo, os alentejanos, os portugueses e gentes de outras terras tivemos o privilégio de presenciar esta maravilha. Se bem que houve dias de fortes chuvas que estragaram um bocadinho a festa, o espírito dos campomaiorenses não descaiu e a festa continuou como prevista, inclusive com a visita do Presidente da República e do Primeiro-Ministro. Mas os protagonistas não são as personalidades, mas sim quem trabalhou por conseguir que a festa fosse todo um sucesso: o próprio povo de Campo Maior.

Na festa não podiam faltar alguns divertimentos, stands de produtos variados (produtos em pele, produtos alimentares como a ginjinha d'Óbidos, serviços de todo tipo, etc.), bem como as clássicas lanchonetes de festa onde não faltaram churros, farturas, pipocas, bifanas, hamburguers, cachorros quentes, espetadas, carnes grelhadas, etc. Eu, valorizando os produtos cá da terra, deliciei-me com um picadinho de carne alentejana de vitela de denominação de origem protegida com batata, e, é claro, o omnipresente café Delta, o maior produtor de café da Península Ibérica e que tem a sua fábrica aqui em Campo Maior.

Não faltaram espectáculos musicais e de dança e, obviamente, os cantos típicos de Campo Maior, com as mulheres com os pandeiros a tocar e a cantar canções tradicionais. Quer fossem ranchos folclóricos, quer grupos de amigos, aqui e acolá improvisavam-se espaços de canto num convívio que, longe de ser caótico, resultava de todo harmónico. Estes cantos típicos, onde as mulheres tocam pandeiros enfeitados com fitas a cores, e acompanhados pelo tambor e, às vezes pelo acordeão, e onde as mulheres assumem o papel principal no canto, apresentam semelhanças com outros cantos tradicionais do Noroeste. Não devemos esquecer que Campo Maior foi uma vila de reconquista leonesa e não portuguesa. Quando o rei D. Sancho II conquistava Elvas em 1226, o rei leonês Afonso IX, fazia o próprio ao reconquistar Mérida, Badajoz, Campo Maior e Ouguela aos muçulmanos em 1230. Em mãos leonesas esteve até o Tratado de Alcanices de 1297, quando o rei D. Dinis, astuciosamente, soube aproveitar o vazio de poder em Castela e ampliar as fronteiras do seu reino acrescentando Campo Maior, Ouguela e Olivença. Sendo uma tradição única n0 Alentejo, e não sendo eu um erudito em questões musicais, não deixo de observar, no entanto, semelhanças com cantos tradicionais que já tenho ouvido nas Astúrias e Leão, designadamente nas tradições dos chamados «vaqueiros de alzada», ou na Galiza. Reminiscências de tradições asturo-leonesas? O certo é que um elemento comum a todas estas tradições há: o grupo de mulheres que cantam com pandeiro com ritmos bastante semelhantes. Talvez algum historiador da música ou etnógrafo possa algum dia tirar-nos a dúvida...

E como nada melhor do que uma imagem, lá vai uma selecção de imagens, todas elas nocturnas, das ruas floridas de Campo Maior. Espero que gostem. Ah! E fiquem atentos ao blogue. Não vão ficar desiludidos!
















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