quinta-feira, 6 de junho de 2013

Aldeias da Raia: Paymogo (Região do Andévalo, Huelva, Andaluzia

Depois de um período de inactividade, volto hoje com uma nova entrada. A verdade é que estive a fazer pesquisas e andei pela Raia à procura de novas informações e novas experiências, das quais darei conta aos poucos, até porque o meu trabalho levou-me à Torre do Tombo e à Biblioteca Nacional em Lisboa, encontrando-me com documentos antigos que falam da Raia e que resultam altamente interessantes.

Mas agora vamos directos ao assunto. A raia seca entre o Baixo Alentejo e a Andaluzia é uma raia onde rareia a população e temos a sensação de estarmos por vezes no meio de nenhures. A paisagem de montado de ambos os lados da fronteira e a quase ausência de habitações para além das localidades raianas acentuam essa sensação.

Paymogo é uma dessas localidades. Situada entre Rosal de la Frontera e El Granado, é a única aldeia fronteiriça entre estas com apenas pouco mais de 1 300 habitantes e e ainda o ponto de ligação para São Marcos, na «não-fronteira» que cruza a ribeira de Chança, já que a ponte de ligação na teoria não é possível cruzá-la, se bem na prática o acesso a ligeiros não oferece nenhuma dificuldade. Isto porque como já referimos noutra entrada, realmente faltam alguns remates que inexplicavelmente não se têm realizado.

A localidade forma parte da região do Andévalo, um amplo território da província de Huelva, na Andaluzia, que serve de transição entre a planície costeira do Baixo Guadiana e as Serras de Aroche e Aracena. Na sua parte ocidental, a ribeira de Chança indica a linha de fronteira, sendo que o único posto fiscal durante décadas foi o do Ficalho e Rosal de la Frontera, tendo-se entretanto aberto em 2008 a ligação entre o Pomarão, limite extremo do Guadiana, quando volta já a ser de novo internacional, e tradicional saída do minério das Minas de São Domingos, no concelho de Mértola, por intermédio da navegação fluvial já que as marés permitem barcos com o suficiente calado para o transporte contínuo de mercadorias. 

Paymogo fica a menos de oito quilómetros da linha de fronteira, mas contudo, esta parte da Raia pode ser definida, pelas razões expostas, como Raia morta, com escassas relações transfronteiriças (algum contrabando no pós-guerra nas décadas de quarenta e cinquenta), o que não quer dizer que não existam em forma de feiras ou romarias em dias pontuais (caso da Feira Transfronteiriça do Gurumelo (um tipo de cogumelo próprio da região raiana da Extremadura espanhola, Alentejo e Andaluzia) criada em 2004 para incrementar as relações de boa vizinhança com a vizinha Mértola), mas não de forma habitual e contínua. A sua história parece estar ligada, como tantas outras localidades situadas em zonas de pouca população, à conquista do território pela Ordem do Templo, no século XIII e seu nome terá sido de origem portuguesa, vindo da adição das palavras luso-latinas pagus e mogo, que literalmente significa «aldeia que fica na fronteira». Existe ainda, uma versão lendária que faz derivar o nome de um alegado irmão de Guzmán (Gusmão) el Bueno, nobre castelhano famoso pela sua defesa de Tarifa, no estreito de Gibraltar, tendo preferido a morte do seu filho que tinha sido capturado no cerco da localidade pelos Merínidas à entrega da fortaleza. que teria sido xamã por estas terras, sendo chamadas «país del mago», deturpandose a «paimago» e daí a «paymogo». De salientar ainda que até ao século XIX a aldeia mantinha o nome de Paimogo, tendo mudado para Paymogo nessa altura.

A sua posição fronteiriça influenciou a sua história, como é óbvio. O destaque vai para a Igreja-Castelo de Santa María Magdalena, que ocupa o espaço interior do antigo castelo do século XV que teve de ser reconstruído aquando da Guerra da Restauração em meados do século XVII, restando alguns baluartes na actualidade. Não sendo uma aldeia com muito património histórico, é possível ver ainda algum solar como a Casa de Manuel María de Soto Vázquez, da família dos De Soto, e um clássico casario andaluz da região, com casas brancas caiadas e janelas com grades com azulejos na fachada até um terço da porta aproximadamente, se bem que também existem casas sem azulejos, completamente brancas ou com linhas amarelas que nos lembram as casas do Alentejo. Como não podia ser de outra forma, existem na localidade os clássicos bares de cañas y tapas, nos quais podemos tomar uma cerveja fresca acompanhada de algum petisco da região, designadamente de porco preto ibérico.

A localidade pode ser visitada de Portugal num percurso a partir de Mértola, incluindo o Pomarão, Minas de São Domingos e o famoso Pulo do Lobo e de Espanha a partir de Rosal de la Frontera, El Granado e, um bocadinho mais longe, Sanlúcar de Guadiana, já à frente de Alcoutim. Ou combinar ambos os percursos que permitem conhecer o Alentejo mais profundo e a Andaluzia menos turística mas não por isso menos autêntica.

Foto 1. Igreja-Castelo de Santa María Magdalena.
Foto 2. Vista da igreja e de um dos baluartes.
Foto 3. Vista de outro dos baluartes existentes e da planície do Andévalo.
Foto 4. Paymogo visto da igreja-castelo.
Foto 5. Uma rua de Paymogo com vista à igreja.
Foto 6. Outra rua de Paymogo.
Foto 7. Casas típicas de Paymogo.
Foto 8. Ribeira de Chança vista do lado espanhol.


Ver Aldeias da Raia: Paymogo num mapa maior
Mapa 1. Mapa de localização.


Ver Aldeias da Raia: Paymogo num mapa maior
Mapa 2. Mapa específico.

6 comentários:

  1. No conozco nada de esa zona, precisamente por que no parece que haya pueblos con gran interés.

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    1. La verdad es que esa es la primera impresión que tenía yo también, pero gracias a la exploración de la comarca descubrí esta localidad. Yo iba por el puente sobre el río Chanza/Chança pero antes de llegar, cuando entraba en la localidad pensé que como mínimo merecía una visita para ver si había algo interesante y gracias a ello descubrí lo que aquí comenté. No es mucho, pero bueno, son retazos de Historia. Además, permite comparar esta región con el Baixo Alentejo. Claro que todo depende de lo que consideremos "interesante". Lo que para unos es, para otros puede no ser. Y seguro que para muchos tal vez no lo sería.

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  2. Aqui he vivido parte de mi vida es un pueblo muy acogedor si bien no tiene grandes monumentos su riqueza radica en su historia y por supuesto en sus gentes. Muy recomendable la romeria de la Santa Cruz el primer domingo de mayo.

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  3. Entre Rosal de la Frontera (1820 habitantes) e Paymogo (1292 habitantes), existe Santa Barbara de Casa, (1172 habitantes).
    Entre Paymogo e El Granado (616 habitantes), passa-se por Puebla de Guzman, (3193 habitantes).
    Número de habitantes, segundo o Censo de 2007.

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    1. Obrigado pelos seus dados complementares. É exactamente assim.

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  4. Paymogo, é para mim mais do que um simples povoado. Existe ali, alma e corpo, nele nasceram meus pais e avós. Paymogo, tem calor abrasador, tem frio de enregelar até ao fundo do corpo. Em cada porta e nas traseiras a chamada "puerta falsa" passaram gentes, e animais. Por vezes lembrar o alto do castelo e a Igreja se adivinham mistérios. As ruas nem são regulares, o canto que ouve em certos momentos transmite sentimentos e emoções que arrepiam os pelos e fazem tremer o coração de paixão. A quem não seja de Paymogo será sempre bem vindo, como foram judeus vindos de longe. Costumes da terra aprender a conter-se e ouvir ao meramente contemplar as azinheiras e o mato.

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