segunda-feira, 2 de março de 2009

Jornada sobre o português oliventino

O dia 28 de Fevereiro teve lugar em Olivença uma Jornada sobre o Português Oliventino, à qual tive o privilégio de poder assistir. O programa foi muito interessante, com palestras diversas de especialistas na matéria.

O destaque foi para o próprio português oliventino, a quem foi pedida uma declaração como Bem Cultural de 1ª Ordem pelo Governo Regional da Extremadura, uma sinalética bilíngue e até a oficialidade do português na região, para além de implementar mais medidas na sequência de impulsar o ensino da língua portuguesa de forma a evitar a sua desaparição.

O problema mais grave da língua portuguesa em Olivença é o seu estado ruim, já que apenas as gerações de mais de 65 continuam a falar o português. A transmissão geracional rompeu-se a partir de 1950 num momento de grande pressão linguística a favor do espanhol, quando o uso de outras línguas que não o espanhol estava proibido. Isso faz com que as gerações médias compreendam passivamente o português mas não o falem e as novas gerações achem um bocado estranho o português que é ensinado na escola que, obviamente, é o português padrão.

Segundo o meu modesto ponto de vista, a única solução para reverter a situação passaria pela declaração da oficialidade do português na região e a implementação do português como língua veicular do ensino a todos os níveis com uma matéria de língua espanhola. Os alunos sairiam com um bom nível de português e de espanhol: o português por ser aprendido na escola, e o espanhol por ser uma língua que iam ouvir em todo o lado: revistas, TV, os média em geral..., adaptando, como diziam os espertos, o português à realidade da região, quer dizer, um português padrão na escrita, mas um português local na fala.

Lá vai o programa da Jornada e umas fotografias do Convento de S. João de Deus, onde decorreram as palestras.

Jornada sobre o Português Oliventino

Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

09:30 h. Inscrição de participantes e entrega de documentação

10:00 h. Inauguração

· Guillermo Fernández Vara. Presidente da Junta da Extremadura

· Manuel Cayado Rodríguez. Presidente da Câmara Municipal de Olivença

· Joaquín Fuentes Becerra. Presidente da Associação “Além Guadiana”

10:30 h. Pausa para café

11:00 h. Juan Carrasco González. Catedrático de Língua e Literatura Portuguesas e Diretor do Departamento de Línguas Modernas e Literatura Comparada da Universidade da Extremadura. Olivenza y las variedades lingüísticas de la frontera extremeña

11:40 h. Eduardo J. Ruiz Viéytez. Director do Instituto de Direitos Humanos da Universidade de Deusto e Consultor Externo do Conselho da Europa. La importancia de las lenguas minoritarias en Europa y el papel del Consejo de Europa

12:20 h. Lígia Freire Borges. Leitora do Instituto Camões na Universidade da Extremadura. A língua portuguesa no mundo com o Instituto Camões

12:45 h. 1ª Mesa Redonda. O português de Olivença

· Manuel Jesús Sánchez Fernández. Licenciado em Filologia. O nosso português não tem futuro

· Servando Rodríguez Franco. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses. Alteraciones en la toponimia de Olivenza

· José António A. Meia Canada. Falante de português oliventino. Testemunhos do nosso português

14:00 h. Intervalo

16:30 h. 2ª Mesa Redonda: Características e situação de outras línguas e dialetos minoritários

· Domingo Frades Gaspar. Presidente da Asociación Fala i Cultura e membro da Real Academia Galega. La fala del valle del Eljas

· Doutor José Gargallo Gil. Professor de Filologia Românica na Universidade de Barcelona. Fronteras y enclaves en la península Ibérica

· Manuela Barros Ferreira. Doutora em linguística pela Universidade de Lisboa. O mirandês, língua de fronteira

· Isabel Sabino. Vereadora da Câmara Municipal de Barrancos. Traços do barranquenho e ações de proteção ou promoção

18:00 h. Projeção de um documentário a cargo de Mila Gritos sobre o português em Olivença

18:30 h. Fim da jornada

Este foi o programa da Jornada sobre o Português Oliventino, que teve lugar em Olivença o dia 28 de Fevereiro, à qual tive o privilégio de poder assistir. Claro que isso não teria sido possível sem a acção de um grupo de oliventinos sensibilizados com a questão, que fazem questão de usar o português sempre que possível, isto é, a Associação Além Guadiana que têm um site e um blogue se recolhem todas as notícias sobre a questão.

Foto 1. Cartaz da Jornada sobre o Português Oliventino.
Foto 2. Programa da Jornada em edição bilíngue.
Foto 3. Convento de S. João de Deus, lugar onde decorreu a Jornada.
Foto 4. Claustro do Convento e chaminés (chunés) alentejanas.
Foto 5. Claustro e poço do Convento.
Foto 6. Capela restaurada onde teve lugar a Jornada.

1 comentário:

  1. UM ESTRONDOSO ÊXITO, A JORNADA DO PORTUGUÊS DE OLIVENÇA DO DIA 28 DE FEVEREIRO DE 2009
    O dia amanheceu sem nuvens significativas. O Sol pareceu querer saudar o evento. E não
    era para menos!
    Neste dia 28 de Fevereiro de 2009, e pela primeira vez desde 1801, a Língua Portuguesa
    manifestava-se livremente em Olivença. Mais do que isso, com a "cobertura" das
    autoridades espanholas máximas a nível local e regional. E, talvez ainda (!) mais
    importante do que tudo isso, graças à iniciativa, ao esforço, à coragem de uma associação
    oliventina, a Além-Guadiana.
    Não por acaso, jornais e televisões estavam representados. E talvez por acaso, pois
    outra razão seria insustentável, não estavam órgãos de comunicação portugueses,
    empenhados com outras realidades informativas. De facto, decorria o Congresso do Partido
    do Governo em Lisboa.
    A Jornada do Português Oliventino decorreu na Capela do vetusto Convento português de
    São João de Deus. Num clima de alguma emoção. Estava-se a fazer História... e quase 200
    pessoas foram testemunhas disso, entre as quais o arqueólogo Cláudio Torres, o "herói" do
    mirandês Amadeu Ferreira, e... bem... fiquemos por aqui!
    Falou primeiro o Presidente da Junta da Extremadura espanhola, Guillermo Fernández
    Vara. Curiosamente, um oliventino. Foi comovente ouvi-lo confessar que, na sua casa
    paterna, o Português era a língua dos afectos. Uma herança que ele ainda conserva, apesar
    de já ser bem crescidinho... e Presidente duma região espanhola.
    De certa forma, estava dado o mote. O Presidente da Câmara de Olivença, Manuel Cayado,
    falou em seguida, realçando o amor pela língua portuguesa, e acentuando o papel de
    Olivença como ponto de encontro entre as culturas de Portugal e Espanha.
    Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação, fez então uma breve intervenção, em
    que se destacou a insistência no aspecto cultural da Jornada.
    Juan Carrasco González, um conhecido catedrático, falou das localidades extremenhas,
    quase todas fronteiriças, onde se fala português, com destaque para Olivença, e defendeu
    que tal característica se deveria conservar.
    Usou depois da palavra Eduardo Ruíz Viéytez, director do Instituto dos Direitos
    Humanos e Consultor do Conselho da Europa, vindo de Navarra, embora nascido no País
    Basco, que defendeu as línguas
    minoritárias e explicitou a política do Conselho da Europa em relação às mesmas. Informou
    a assistência sobre o ocorrido com o Português de Olivença. De facto, o Conselho da
    Europa já havia pedido informações ao Estado Espanhol sobre este desde 2005, sem que
    Madrid desse resposta. Em 2008, graças à Associação Além-Guadiana, fora possível conhecer
    detalhes, com base nos quais o Conselho fizera recomendações críticas.
    Seguiu-se Lígia Freire Borges, do Instituto Camões, que destacou o papel da Língua
    Portuguesa no mundo, com assinalável ênfase e convicção. Tal discurso foi extremamente
    importante, já que, tradicionalmente, em Olivença, se procurava (e ainda há quem procure)
    menorizar o Português face ao "poderio planetário" do espanhol/castelhano.
    Uma pequena mesa redonda antecedeu o Almoço. Foi a vez de ouvir a voz de alguns
    oliventinos, em Português, bem alentejano no vocabulário e no sotaque, em intervenções
    comoventes, em que não faltaram críticas e denúncias de situações de repressão
    linguística não muito longe no tempo.
    À tarde, falaram Domingo Frade Gaspar (pela fala galega, nascido na raia extremenha) e
    José Gargallo Gil (de Valência, a leccionar em Barcelona), ambos
    professores universitários, que continuaram a elogiar políticas de recuperação e
    conservação de línguas minoritárias. O segundo fez mesmo o elogio da existência de
    fronteiras e do de seu estatuto de lugar de encontro e de compreensão de culturas
    diferentes, embora não como barreiras intransponíveis.
    Seguiu-se Manuela Barros Ferreira, da Universidade de Lisboa, que relatou a
    experiência significativa de recuperação, quase milagrosa, do Mirandês, a partir de uma
    muito pequena comunidade de falantes, convencidos, afinal erradamente, de que aquela
    língua tinha chegado ao
    fim. O exemplo foi muito atentamente escutado pelos membros do Além-Guadiana.
    Falou finalmente o Presidente da Câmara Municipal de Barrancos, a propósito dos
    projectos de salvaguardar o dialecto barranquenho e de o levar à "oficialização".
    Queixou-se do estado de abandono em que se sentia o povo de Barrancos face a Lisboa.
    No final, foi projectado um curto filme sobre o Português oliventino, realizado por
    Mila Gritos. Nele surgiam
    oliventinos a contar a história de cada um, sempre em Português, explicando os
    preconceitos que rodeavam ainda o uso da Língua de Camões e contando histórias
    pitorescas. A finalizar o "documentário", uma turma de jovens alunos de uma escola numa
    aula de Português
    pretendia mostrar para a câmara os caminhos do futuro.
    Deu por encerrada a sessão Manuel de Jesus Sanchez Fernandez, da Associação
    Além-Guadiana, que ironizou um bocado com as características alentejanas do Português de
    Olivença, comparando-o com o pseudo superior Português de Lisboa.
    A noite já tinha caído quando, e não sem muitos cumprimentos e alegres trocas de
    impressões finais, os assistentes e os promotores da Jornada abandonaram o local. Com a
    convicção de que tinham assistido a algo notável.
    Estremoz, 28 de Fevereiro de 2009
    Carlos Eduardo da Cruz Luna
    carlosluna@iol.pt

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