segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fronteiras: Vilarinho da Raia/Rabal

Pois é! Já há dois anos e mais alguns dias que comecei com este blogue e nunca pensei que conseguiria chegar onde cheguei. Partindo da base de que este blogue não é publicitado em nenhum site (jornais, fóruns, redes sociais, etc.) e que não é um blogue de política, de sexo, local mas sim de tipo cultural, onde não há lugar para sensacionalismos nem demagogias baratas, e tem como tema principal um tópico que na sua maior parte não interessa a muita gente, pode-se dizer que é todo um sucesso o facto de ter tido neste tempo mais de 22 000 visitantes e 17 amigos da rede social Google. E é assim que pretende continuar este blogue onde a maior publicidade são vocês, os leitores que voltam uma e outra vez ou que vêm e vão de blogues amigos com temática semelhante. E para comemorar, hoje há dose dupla!

Voltamos à região do Alto Tâmega que deve ser a que mais fronteiras terrestres têm já que no concelho de Chaves há no mínimo doze pontos de passagem. Hoje falo-vos da fronteira entre Vilarinho da Raia e Rabal. Vilarinho da Raia é uma pequena aldeia de pouco mais de 100 habitantes, situada na beira do rio Tâmega na sua parte internacional que faz parte da freguesia de Vilarelho da Raia que também faz fronteira com a aldeia de Rabal, no concelho galego de Oimbra e que inclui também a aldeia ainda mais pequena de Vila Meã da Raia.

A fronteira fica num caminho de terra batida ou pista como dizem em galego e que provavelmente não demorará em ser alcatroada graças aos fundos comunitários para este tipo de ligações. A Raia está situada a uma distância não mais de cem metros da última casa da aldeia, em um cruzamento onde podemos à direita, dirigirmo-nos até ao Tâmega e, quem sabe, talvez pescar umas trutas no rio.

A agricultura continua a ser importante nestas aldeias transmontanas e galegas vizinhas, se bem trata-se de uma actividade em declínio. Centeio, batata, couve e produtos da horta em geral são as culturas mais habituais para além da pecuária, especializada no gado vacum, e que relembram uma economia camponesa de subsistência. A pobreza económica levou muitos habitantes da região à emigração, nomeadamente a França na região de Chaves, e a Suíça, na região de Verín, facto que se reflecte no casario onde são evidentes as diferenças entre as casas dos emigrantes, maiores e com estilos construtivos que muitas vezes nada têm a ver com a casa tradicional da região, enquanto aqueles que não emigraram tenderam a concentrar-se nos pólos habitacionais de Chaves e Verín, onde se desenvolveram actividades de serviços do comércio, hospitalares, administrativos ou turísticos em uma região onde a fronteira nunca foi entrave para as boas comunicações entre ambos os lados da Raia, talvez por tratar-se de um vale relativamente amplo e fácil de atravessar. O comércio focalizado no visitante, em geral espanhol ou até galegos da região que vinham passar um dia em Chaves, onde era (e ainda é) possível comprar atoalhados, faqueiros, bronzes e bugigangas várias deu passo a uma colaboração maior que cristalizou na Eurocidade Chaves-Verín à qual não é alheia a construção da auto-estrada A24 até Vila Verde da Raia (a falta da ligação muito em breve com a A-75 que conecta Verín com a fronteira) e a Plataforma Logística.

Vilarinho da Raia e Rabal não ficam de fora neste esquema de relações e com a queda das fronteiras, é muito frequente ver automóveis de um e do outro lado da fronteira nestas aldeias a visitarem amigos ou familiares, fazerem compras, ir no café... Até a chegada da crise, designadamente na construção civil, era muito frequente ver empregados da construção civil transportados em carrinhas apurar o último café na fronteira antes de voltar para os seus lugares de trabalho. Do ponto de vista cultura e etnográfico, apesar de ser evidente o facto de existir uma fronteira, a Raia de Portugal com a Galiza é, sem dúvida, a região onde as diferenças entre um e o outro lado da fronteira, embora existentes, deixam transparecer uma cultura comum, semelhante, sobre tudo do ponto de vista etnográfico, nas casas tradicionais, nas culturas, nos costumes ao que não deve ser alheio o facto de terem compartido, na Idade Média, a mesma língua o que, no decorrer dos séculos, deu para manter esses elementos comuns nessas sociedades raianas.

Visitar o Alto Tâmega justifica-se por si só: etnografia, termalismo, monumentos, uma variada gastronomia, as suas gentes, são, sem dúvida, muitos pontos a favor para percorrer uma região muitas vezes desconhecida e que esconde surpreendentes segredos. Como ponto de partida, uma olhadela ao melhor blogue da região com fotografias espantosas é a melhor coisa para se fazer para abrir o apetite quanto a esses segredos. De resto, cabe ao visitante , assim que chegar lá, descobri-los...

Foto 1. Limite fronteiriço de Vilarinho da Raia.
Foto 2. Marco fronteiriço.
Foto 3. Vilarinho da Raia visto já de terras galegas.
Foto 4. Matagal onde discorre a fronteira.
Foto 5. Fronteira portuguesa vista do lado da Galiza.
Foto 6. Marco fronteiriço situado a uns metros à esquerda do caminho (visto do lado de Portugal).
Foto 7. Fronteira galega vista do lado de Portugal com o marco fronteiriço e um sinal em galego.
Foto 8. Vista geral de Vilarinho da Raia.
Foto 9. Rio Tâmega na sua parte internacional visto do lado português.
Foto 10. Vista parcial de Rabal, aldeia galega do concelho de Oimbra.
Foto 11. Vista geral de Rabal com as serras portuguesas vizinhas ao fundo.
Foto 12. Rio Tâmega em Rabal, antes de iniciar a sua parte internacional.
Foto 13. Rio Tâmega, vindo de Verín, ao seu passo por Rabal.


Ver Fronteira Vilarinho da Raia/Rabal num mapa maior
Mapa 1. Mapa de situação.

8 comentários:

  1. Felicidades por los 2 años del blog.

    La autopista de Vila Real a la frontera es magnífica pero creo que la han hecho algo separada de Chaves y eso seguro que la perjudica para el turismo.

    ResponderEliminar
  2. Once again, an excellent and truly unique report.
    Borders... whereas the landscape is kissed by the political maps...
    Best wishes!

    ResponderEliminar
  3. Thank u Pilland. It's very nice coming of you.

    Best regards.

    ResponderEliminar
  4. Hombre Toni. Te echaba ya de menos pues seguro que has estado muy ocupado con tus degustaciones culinarias. Ja. Ja. Ja.

    Me alegra verte por aquí de nuevo, aunque sea de forma virtual.

    En cuanto a lo que dices de la autopista A24 concuerdo contigo en parte. Depende de para qué vienes a Chaves. Si vienes a comprar las clásicas toallas, lo mejor, viniendo de Galicia es seguir por la carretera vieja la EN103-5 o la primera salida de la autopista ya en Portugal con el número 22 de V.V. da Raia. Pero la salida 21 tampoco está mal ya que el centro Chaves queda a un km. o km. y medio de la salida. La salida que queda ya más fuera de mano es la salida 20 pero es una salida perfecta si quieres dirigirte a la comarca del Barroso (Montalegre y Boticas), incluyendo las termas de Carvalhelhos.

    Creo que en este caso, al tratarse de un tramo internacional, se optó por un trazado a media ladera algo más alejado puesto que la futura A-75 también va a media ladera y contará solo con una salida para Mandín y Feces de Abaixo. Hubiera sido un desastre hacerla por el medio del valle del Tâmega (que es ancho pero tampoco tanto) arrasando con los campos más fértiles solo por acercarla unas centenas de metros a los núcleos importantes. Además hay muchas aldeas por el medio y supongo que hubiera salido también mucho más caro pagar tantas expropiaciones. Será cuestión de costumbre y si realmente no vas apurado, tampoco pasa nada por perder unos minutos. Al fin y al cabo, a viajeros empedernidos como nosotros no hay carretera que nos haga frente. Je. Je. Je. ;)))

    ResponderEliminar
  5. Estuve parte de mayo de vacaciones en Francia, concrétamente Provenza y la Costa Azul. La zona de la Costa Azul sí que daría también para muchas historias de fronteras, con toda la historia del reino de Saboya, Genova, Francia, Monaco y los movimientos que hubo en las fronteras prácticamente hasta antes de ayer.

    ResponderEliminar
  6. Y más que con degustaciones culinarias, estoy últimamente muy militante a favor de la prohibición por fín en España del consumo de tabaco en locales públicos cerrados, bares y restaurantes.

    Hice un post que trajo cierta polémica. Los fumadores están nerviosos porque se les va a reducir los sitios en que consumir. :-)

    ResponderEliminar
  7. Pues sí, esa región de los Alpes-Maritimes y la Liguria es preciosa y las fronteras se han movido mucho también. El movimiento más reciente en 1947 cuando la localidad de Tenda (hoy Tende) pasó de Italia a Francia.

    En cuanto a la polémica de los fumadores, he podido ver tu post con el que concuerdo plenamente y me han dado risa algunos comentarios. Aquí en Portugal la falta de respeto no es tan acentuada como en España. Aunque existen cafés que permiten fumar, curiosamente son una minoría y no sé si será por el sistema de aspiración de humos, pero aunque la gente fume, no se nota mucho. Pero lo normal es que esté totalmente prohibido tanto en centros comerciales, cafés-pastelerías, etc. Hay más respeto, en general.

    Sin embargo, en España no sé lo que pasa que, según qué sitios, hay bares o cafeterías que te huele a rancio. Para mí no hay nada más desagradable que estar comiendo un pincho o una tapa y que te llegue el humo de otro a tu nariz. Lo mismo en un restaurante. Si la nueva ley del tabaco pretende prohibir su uso en lugares cerrados, me parece perfecto. Creo que incluso los establecimientos ganarán clientes porque hay veces que te lo piensas dos veces antes de entrar en algún sitio cuando estoy en España de lo cargado que está el ambiente. Y eso que yo no soy un fundamentalista anti-tabaco radical. No me dan pena aquellos que hicieron reformas por tener más de cien metros cuadrados porque el gasto es cierto, ha sido inútil, pero tenían otra opción: haber declarado el lugar libre de humos desde el principio.

    En mis viajes por Europa los fumadores lo tienen fácil: o se sientan en las terrazas con esas estufas móviles de butano en invierno con lo que no se pasa frío en absoluto, o se van a un club de fumadores.

    Recientemente me hacía gracia ver un punto de fumadores en el aeropuerto de Frankfurt que era una pequeña cabina de cristal totalmente cerrada y el humo que había allí se podía ver a la legua.

    Y es que es algo de sentido común: ¿Por qué tengo que aguantar los malos humos de otros? ¿Por qué para poder degustar aunque sea una tortilla deconstruida tengo que oler el humo que me llega de otro sitio?

    Creo que la gente debería ser consciente de que su libertad acaba donde empieza la de los demás y si yo tengo un vicio o practico una actividad que pueda molestar a otros, por cuestión de cortesía y buenas maneras, hay que saber dónde y cómo hacerlo sin perjudicar a otros.

    En suma, un tema polémico que daría para escribir mucho...

    Me alegra, en cualquier caso, de tenerte aquí de nuevo y espero que lo hayas pasado bien en tu viaje.

    Saludos.

    ResponderEliminar
  8. En Portugal, si no me equivoco, aunque la ley está también coja como en España, por lo menos obliga a los locales de menos de 100m2 a instalar unos costosos sistemas de ventilación por lo que casi todos son de no fumadores.

    Gracias por el dato de Tende que no conocía. También hay otra comuna vecina de Tende que pasó a Francia ese año 1947, llamada La Brigue.

    ResponderEliminar